Entre tantos casos de crianças desaparecidas destacados pelo O Diário nas duas primeiras reportagens desta série, às vezes um final feliz acaba prevalecendo – o que pode ser atribuído, entre outros fatores, à pura sorte mas também e, muitas vezes, principalmente, ao trabalho das autoridades destacadas para a investigação.
A doméstica Ivanir da Conceição Costa, moradora de Curitiba, contou à reportagem uma dessas situações em que a angústia extrema deu lugar ao alívio. “Passei noites de terror, à base de calmantes”, conta. Sua filha Rafaela Costa Vieira tinha 11 anos em abril do ano passado. Como a menina andava gazeteando muitas aulas, Ivanir resolveu pedir orientação ao Conselho Tutelar. “Era só para dar um susto nela”, explica.
À revelia da mãe, o Conselho decidiu pela internação de Rafaela numa instituição educativa curitibana chamada Lar das Meninas. Ivanir não se lembra precisamente das datas, mas afirma que, poucos dias após dar entrada na instituição, sua filha fugiu em companhia de outra interna chamada Luana.“Imagina como eu fiquei me sentindo, eu já não havia achado certo aquilo [a internação] e agora minha filha estava sumida”, recorda.
Depois de 15 dias de buscas, os agentes do Sicride ( Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas) encontraram a menina perambulando pelas ruas da Fazendinha, bairro curitibano distante do Centro, onde Ivanir mora. Devolvida à família, Rafaela não apresentou mais problemas. “Ela não incomoda mais, não fugiu mais. Está tranquila comigo, segura e confortável”, diz.
Grata à polícia
Ivanir se mostra agradecida à polícia pelo trabalho que trouxe sua filha de volta. “O Sicride foi muito bom comigo, nem sei como agradecer por tudo o que fizeram”. A mãe de Rafaela destaca o apoio contínuo dos investigadores enquanto durou o pesadelo. Ao mesmo tempo em que trabalhavam, eles também procuravam acalmar a mãe com informações constantes sobre o andamento do caso.
A doméstica treme a voz só de lembrar o período de agonia. “O que eu sofri aqueles dias ninguém sabe. Peço a Deus para que nunca mais passe algo parecido com meus outros quatro filhos”. Ivanir chama a atenção para a violência da sociedade, confessando que chegou a pensar em morte no período de sumiço da filha. “Do jeito que as coisas vão, a gente imagina mil coisas, a gente sempre pensa no pior”, que preferiu não se deixar fotografar.
Feliz na companhia de Rafaela, Ivanir se solidariza com as mães que ainda procuram seus filhos. “Sei que não tem como pedir calma, porque a situação é inconsolável. Mas o que não se pode fazer é perder a esperança. Isso, jamais.”
Procura-se Ariele, 2 anos
O desaparecimento da menina
Ariele Botelho, 2 anos, continua motivando esforços da polícia. A delegada titular do Sicride ( Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas), Ana Cláudia Machado, esteve pessoalmente em Lidianópolis nesta semana para acompanhar as investigações do caso.
O Sicride está encarregado do processo, contando com a ajuda do Corpo de Bombeiros de Ivaiporã ( cidade próxima a Lidianópolis, de maior porte).Voluntários da região também se mobilizaram para ajudar nas buscas da menina desaparecida.
Ariele, foi vista pela última vez na manhã do dia 15 de maio. A garota teria saído para o quintal da casa de sua família, chamada pela prima, de 16 anos, para colher laranjas. No meio do caminho, Ariele mudou de ideia e começou a chorar pedindo pela mãe, Neusa de Assis.
A prima, então, deixou a menina próxima à casa e retornou ao pomar. Desde então, Ariele não foi mais vista. A menina usava blusa rosa de lã, calça marrom e sandálias brancas quando desapareceu.
A delegada Ana Cláudia diz que não pode dar muitos detalhes de um caso em andamento, mas garante que todos os esforços estão sendo realizados na busca de Ariele. “Fui até Lidianópolis e só retornei porque outros deveres me chamam em Curitiba. Mas se o caso continuar sem solução, voltarei lá em breve”.
O comandante do Corpo de Bombeiros de Ivaiporã, tenente Adriano de Oliveira, afirma que as buscas estão provisoriamente paralisadas, mas a investigação prosseguirá.
Oliveira se justifica, dizendo que as buscas nas imediações já foram realizadas exaustivamente e que agora seu pessoal aguarda informações da inteligência do Sicride para trabalhar com mais foco. “É um momento que exige discernimento”, observa o oficial.
Quase 100% de casos resolvidos
“No Brasil, não há nada como o Sicride. A especialização faz com que nosso índice de resolução de casos fique próximo a 100%” (veja infográfico nesta página). A informação vem de Ana Cláudia Machado, delegada titular do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas, ligado à Polícia Civil paranaense.
Segundo Ana Cláudia, o Paraná é o único Estado brasileiro que conta com um órgão unicamente dirigido à busca de crianças desaparecidas. O Sicride atua em três frentes básicas: prevenção, investigação e amparo às famílias cujos filhos sumiram. “A ajuda eficaz do Governo é fundamental para nossa causa, e esse apoio é bastante falho em algumas regiões do País”, afirma.
Orientações
Ana Cláudia destaca na atuação do Sicride a distribuição contínua de material com dicas de segurança, como um gibi com orientações – “para nos aproximarmos da linguagem das crianças”, diz a delegada.
Medidas de caráter educativo também são constantemente promovidas, como espetáculos teatrais e distribuição no litoral de estrelinhas adesivas de identificação. “Assim, mesmo com as praias lotadas em alta temporada, os pais não perdem de vista os filhos”, diz a delegada.
A visita de psicólogos às famílias que têm filhos desaparecidos também é de fundamental importância na visão de Ana Cláudia. “Não fazemos isso só para tentar confortar os familiares; muitas vezes, com auxílio, eles conseguem fornecer informações que nos levam à solução do caso”. O Sicride atua no Paraná desde 1996, já tendo participado da resolução de 990 casos de crianças desaparecidas.
Dicas de Segurança
Para os Pais
1 – Nos passeios manter-se atento e não descuidar das crianças;
2 – Procurar conversar todos os dias com os filhos, observar a roupa que vestem e se apresentam comportamento diferente;
3 – Procurar conhecer todos os amigos do seu filho, onde moram e com quem moram;
4 – Acompanhá-los a escola, na ida e na volta, e avisar o responsável da escola quem ira retirar a criança;
5 – Colocar na criança bilhetes ou cartões de identificação com nome da criança e dos pais, endereço e telefone, orientar a criança quanto ao uso do cartão telefônico, bem como fazer chamadas a cobrar para pelo menos três números de parentes, e avisá-los desta orientação;
6 – Não deixar as crianças com pessoas desconhecidas, nem que seja por um breve período de tempo, pois muitos casos de desaparecimento ocorrem nestas circunstâncias;
7 – Fazer o mais cedo o possível a carteira de identidade no Instituto de Identificação do Paraná;
8 – Manter em local seguro, trancado e distante do alcance das crianças arma de fogo, facas, qualquer objeto ou produto que possa colocar a vida delas ou outras pessoas em risco;
9 – Orientar as crianças a não se afastar dos pais e fiscalizá-las constantemente;
10- Ensiná-las a sempre que estiverem em dificuldade a procurar uma viatura policial, ou um policial fardado (PM ou Guarda Municipal), e pedir ajuda;
11- Evitar lugares com aglomeração de pessoas;
12- Perdendo a criança de vista, pedir imediatamente ajuda a populares para auxiliar nas buscas e avisar a polícia.
Meu filho desapareceu, o que devo fazer?
1 – Em primeiro lugar, manter a calma;
2 – Caso esteja sozinho, peça auxilio para que acionem imediatamente a policia. Não existe prazo para comunicar o desaparecimento, faça-o imediatamente;
3 – Manter alguém no local onde a criança foi vista pela última vez, pois ele poderá retornar ao local;
4 – Deixar alguém no telefone indicado no cartão de identificação da criança, até para centralizar informações;
5 – Avisar amigos e parentes, o mais rápido possível, principalmente os de endereço conhecido da criança, para onde ela possa se dirigir;
6 – Percorrer os locais de preferência da criança;
7 – Ter sempre a mão foto da criança;
8 – Ter sempre em mente a vestimenta da criança para descrevê-la, procurando vesti-la com roupas detalhadas, de fácil visualização e identificação (cores berrantes, desenhos, etc…).
Motivos
1 – Castigos excessivos e exagerados, desproporcionais ao fato. Ex: a criança comete uma pequena falta e leva uma surra;
2 – Repressão excessiva, excesso de controle;
3 – Desleixo dos pais, a criança sente-se rejeitada e desprezada e foge para chamar a atenção;
4 – Muitas das fugas do lar têm por motivos o mau desempenho escolar, as responsabilidades domésticas que são atribuídas a elas e até mesmo pequenos ofícios, como venda de doces e salgados;
5- O espírito aventureiro também é um dos grandes responsáveis pela fuga de crianças. Nunca elogie demais seus filhos, afirmando que eles são bastante espertos, pois isto lhes proporciona uma falsa sensação de segurança e auto-afirmação;
6 – Fique atento à mudança de comportamento de seu filho, pois isto pode indicar que o mesmo poderá fugir de casa;
7 – Uma boa conversa com seu filho, pode livrar você de momentos de angústia e desespero.
SICRIDE
O Diário