Imagens dos caça-níqueis em bares da comunidade, obtidas pelo GLOBO, revelam que o jogo é livre, sem que os comerciantes fiquem preocupados em ter o equipamento apreendido pela polícia. Segundo um morador, as máquinas ficam escondidas durante o dia nos fundos dos estabelecimentos, por causa das visitas de autoridades à favela.
De acordo com fontes dos serviços de inteligência das polícias e da Secretaria de Segurança, antes da ocupação da Cidade de Deus pela PM, em novembro de 2008, praticamente não havia caça-níqueis na favela. Então chefe do tráfico na comunidade, Ederson José Gonçalves Leite, o Sam, mesmo preso em Bangu 3, não permitia a exploração do jogo ilegal na favela. Na época, quem estava tentando instalar as máquinas na Cidade de Deus eram ex-policiais do grupo dos "inhos", ligados ao ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins. Atualmente, Sam cumpre pena num presídio federal em Mossoró (RN). Além disso, parentes e cúmplices do bandido foram presos numa ação coordenada pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança.
Ex-policial civil exploraria máquinas
Um dos principais interessados em explorar caça-níqueis na comunidade seria o ex-inspetor Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigam a atuação dele no controle das máquinas em parte de Jacarepaguá. Segundo a PF, o ex-policial teria um patrimônio estimado em R$ 4 milhões, que não seria compatível com a sua renda, à época, de inspetor.
Nesta sexta-feira, O GLOBO mostrou como funciona a feira de drogas na Cidade de Deus, na Vila Nova Cruzada, na Rocinha 2. Num vídeo, adolescentes, inclusive uma jovem, e um homem que se passa por pedreiro vendem drogas orientados por um "gerente" do tráfico. Menores e até uma senhora cercam os traficantes para comprar maconha e cocaína.
Em nota divulgada nesta sexta, a Secretaria de Segurança informou que as imagens fazem parte de uma investigação em curso. O órgão diz que as cenas, "embora impactantes, ainda não comprovam negligência policial" - mas o caso será averiguado. Após a publicação da reportagem, a supervisão das UPPs intensificou o patrulhamento, mantendo um carro da PM justamente no local da feira.