domingo, 3 de maio de 2009

Atendimento materno-infantil tipo exportação

RIO - Bebês amontoados na mesma incubadora, mortes de prematuros e de grávidas por infecção e outras desgraças tão corriqueiras nas maternidades públicas do país não fazem parte da rotina do Instituto Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Centro de excelência no atendimento materno-infantil, o hospital do Flamengo, além de um oásis para os pequeninos cariocas, vai agora ajudar a salvar a vida de crianças e mães de outro continente. A Fiocruz, através de um convênio firmado com o Ministério da Saúde de Moçambique, está exportando, desde o ano passado, o padrão Fernandes Figueira (IFF) de atendimento para o país africano.
A ideia é que o IFF, a pedido do ministro da Saúde moçambicano, Ivo Garrido, ajude na implantação de medidas que reduzam a mortalidade tanto de mães quanto de recém-nascidos no país africano. Segundo Paulo Buss, ex-presidente da Fiocruz, o ministro esteve em Manguinhos em janeiro de 2008. No mês seguinte, a primeira missão da Fiocruz já aterrissava em Moçambique para pesquisar quais ações poderiam ser tomadas.

Em Maputo, mães já nem fazem enxoval
Para se ter uma noção do desafio que os profissionais do Rio enfrentam, basta comparar a taxa de mortalidade materna: enquanto no Rio, segundo dados de 2005, há 75,8 óbitos maternos a cada cem mil nascidos vivos, em Moçambique são 456. Segundo o diretor do IFF, José Augusto Alves de Britto, não há sequer dados confiáveis sobre a mortalidade neonatal. Mas uma prática cultural em Maputo, a capital do país, demonstra que é assustadoramente alta:
- As mães já nem levam roupa para o hospital quando vão ter bebê.
Diretor do setor de neonatologia do IFF, o pediatra José Roberto de Moraes Ramos, um dos sete profissionais que foram à África em agosto passado para treinar médicos, enfermeiros e parteiras, conta que, no primeiro momento, foram passadas técnicas básicas, mas que podem salvar vidas. A primeira equipe que esteve no Hospital Central de Maputo, com 1.500 leitos, sendo 400 pediátricos e 400 obstétricos, ministrou cursos para evitar a asfixia de bebês na hora do parto. Outra ação foi dar conselhos sobre o funcionamento do berçário.
- Também ensinamos a melhorar a respiração do recém-nascido sem necessidade de entubação - diz José Roberto.

Cariocas treinaram 30% dos pediatras de Moçambique
Quase 30% dos pediatras do país foram treinados durante a ação do IFF. Com 20 milhões de habitantes, Moçambique tem apenas 60 médicos desta especialidade. O Brasil, com população quase dez vezes maior, tem cerca de 38 mil.
Em outra frente de cooperação, o IFF está recebendo profissionais de Moçambique para serem treinados. A pediatra Yasmin Mussa chegou há dois meses para passar um ano no Rio. Trabalhando das 7h30m às 17h diariamente, ela é só elogios à rotina estafante da UTI neonatal.
- Estou aprendendo bastante. A saudade de casa é muita, mas vou conseguir mudar, ao menos um pouquinho, a saúde de meu país - diz Yasmin, que deixou os três filhos adolescentes aos cuidados do marido em Maputo.
Assim como Yasmin, outras duas moçambicanas estão no IFF atualmente, na unidade de pacientes graves, por conta de outro convênio, firmado entre o Ministério da Saúde de Moçambique e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). No ano passado, a médica Gizela Azambuja participou do intercâmbio e estimou que poderia aplicar 90% do que aprendeu ao voltar ao seu país.
- O eixo central da cooperação com a Sociedade Brasileira de Pediatria é que os médicos façam parte de sua especialização no IFF - diz Rachel Niskier, médica do instituto e diretora da SBP, impressionada com a dedicação das médicas que já passaram pelo IFF.
- Quando pergunto o que elas fizeram no fim de semana, elas respondem que dormiram. Elas aproveitam o tempo todo no instituto para aprender e estudar.


fonte: O Globo On Line

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