segunda-feira, 4 de maio de 2009

Depressão: aquela tristeza pode ser mais grave


Depressão
Aquela tristeza pode ser muito mais grave do que você imagina!
Larissa Drumond

Depressão não é frescura, cabeça vazia, nem falta de Deus no coração – como alguns arriscam dizer –, mas uma doença que tira completamente o prazer de viver, gera mal estar físico e psíquico, além de dificultar as relações sociais. “Interfere ainda no desempenho profissional, no aprendizado, na vida sexual e em todas as áreas da vida do indivíduo”, explica Beatriz Araújo de Castro Rangel, médica psiquiatra e psicoterapeuta com residência médica no Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “A depressão é algo muito maior do que pensam. Eu me isolei do mundo por dois anos e não saía para nada, desenvolvi crises de pânico e paranoia. A depressão virou meu mundo de ponta cabeça”, conta Eduardo Sacchitiello, 25 anos.
A indisposição, a tristeza, a timidez, os pensamentos negativos e a baixa autoestima começaram bem no início de sua adolescência, quando estava com 13 anos. “Essa fase é complicada para a maioria. Sou gordinho desde pequeno e os amigos pegavam pesado nas brincadeiras. Eles conseguiam fazer com que eu me sentisse indigno de tudo e de todos. Nessa época, começa o lance com as garotas e o sentimento de rejeição tomava conta”, divide Eduardo.
As causas da depressão ainda são desconhecidas, mas tem como um dos fatores mais relevantes a genética. Por mais que os adolescentes tenham crises existenciais e certa instabilidade de humor, o índice de depressão nos adolescentes é semelhante a dos adultos, ou seja, 5%, apesar de tenderem mais ao suicídio. “Há algumas teorias sobre estresse crônico e alterações hormonais como fatores de risco para a depressão, mas a maneira como essas condições e alterações se relacionam com a doença ainda é objeto de discussão”, afirma a médica psiquiatra Ana Regina Castillo, especialista em psiquiatria infantil.
DescobertaAos 15 anos, Camila Zanin, 20, começou a ter crises de ansiedade seguidas de vômito e, assim como Eduardo, também se sentia muito indisposta. “Eu procurei vários médicos porque, na verdade, achei que estava com algum problema no estômago; foi quando me indicaram um psicólogo. Eu achava que não tinha nada, mas com o tempo percebi que eu não era mais a mesma”, conta.
A estudante de Rádio e TV sempre sentiu dificuldade em falar com pessoas que não conhece; mas, com a doença, esse bloqueio ficou mais intenso. “Não sentia vontade de fazer nada, de sair, nem de falar com ninguém. Fiquei mais insegura e muito mais ansiosa”. Com o incentivo dos pais, Camila passou a fazer terapia – mesmo relutante em se abrir para a psicóloga – e passou a tomar medicamentos.
Aliás, exceto em casos de risco de vida, deve-se respeitar o sigilo devido ao paciente, mas o adolescente precisa entender que a ajuda e o apoio dos pais são essenciais. “A pessoa deprimida, geralmente, não está em condições de seguir o tratamento proposto sozinha. Se houver risco de suicídio, o sigilo deve ser quebrado mesmo sem seu consentimento”, explica Ana Regina Castillo.
Fernanda*, 24 anos, não sabe explicar quando, exatamente, começou a sentir uma tristeza mais intensa, mas sabe que sentia vontade de chorar, tinha um olhar vazio, era bem apática e às vezes chorava durante as aulas. Ao chegar da escola, entrava em seu quarto e ficava lá até dormir. Aos 15 anos, a situação ficou mais grave por diversos fatores: ela havia se apaixonado por uma menina, seu primeiro amor, até a mãe descobrir e fazer de tudo para separá-las. “Ela me tirou do colégio, cortou minha relação com os amigos, cortou as linhas telefônicas da casa e deixou apenas o telefone da sala – onde ela sempre estava –, além de ter cancelado a internet. Ela me levava para o novo colégio e me buscava, onde todos os coordenadores sabiam da situação e me vigiavam. Todos os dias eu era acordada aos gritos. Quando se vive sob essas condições por anos, é bem fácil pirar”, revela.
Para Fernanda, a separação dos pais, a adolescência difícil, a ausência do pai, a relação conturbada com a mãe e a perda da amiga que se matou contribuíram para uma depressão, da qual até hoje não se livrou. “São altos e baixos, mas às vezes ainda acordo com aquele sentimento de morte. Parece que a depressão fica sempre latente”. Ela tentou terapia, mas sua mãe enxergava as sessões não como uma forma de ajudá-la, mas como algo que pudesse torná-la heterossexual. “Quando ela viu que não era bem assim, desistiu”.
Ana Regina Castillo explica que a terapia informa sobre a depressão, as causas, a evolução, a forma de tratamento e a eficácia, além de dar muito suporte ao paciente nessa fase tão difícil. “Ela ensina maneiras de conduzir o pensamento, os afetos, o comportamento de maneira positiva, levando ao autoconhecimento. As prerrogativas das terapias são as mesmas para adolescentes e adultos, o diferente é o conteúdo do que é discutido, que diz respeito a assuntos e atividades de interesse para o adolescente”. Depressão é uma doença que necessita de diagnóstico correto e plano de tratamento que, muitas vezes, inclui o uso de medicação. Mas, em alguns casos, a terapia adequada pode dispensar os remédios.
Volta por cimaEduardo já estava cansado de ver seus pais sofrerem por ele e decidiu que iria mudar sua vida de qualquer jeito. “Eu cheguei a repetir o ano na escola por falta, porque não tinha ânimo para sair de casa. Quis dar um basta e só saí da depressão graças a mim, que estava farto de tudo aquilo. As pessoas só mudam quando querem! Eu tinha chegado ao fundo do poço e dizem que quando se está lá, existe apenas um lugar para ir: para cima”.
Além da vontade própria, Camila conta que todos os seus amigos a incentivaram e ficaram muito contentes com o sucesso do tratamento. “Foi um período muito difícil para mim, mas foi extremamente necessário para eu me tornar quem eu sou hoje. Aprendi muito sobre mim mesma, como lidar com as situações e, principalmente, a pedir ajuda, coisa que me recusava antigamente. Foi uma fase ruim, mas que eu jamais tiraria da minha vida”, diz. “A família e os amigos devem ouvir, entender, estimular atividades com atitude positiva e acolhedora, evitar críticas e procurar a ajuda de profissionais para orientações mais específicas”, esclarece Ana Regina Castillo.

Fonte: Ig

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