segunda-feira, 1 de junho de 2009

Mulheres Indígenas


Mulheres Indígenas no contexto sócio educacional brasileiro
Por Eliane Potiguara
Publicado em 12/03/2009, na revista ZaP

Aconteceu no dia 09/03/2009 no auditório Horácio Macedo na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) pela ocasião das comemorações do Dia da Mulher, o evento “Mulheres Indígenas no contexto sócio educacional brasileiro”, apoiado pelo Centro de Estudos Afrânio Coutinho/Faculdade de Letras. Organizado pela UFRJ e a Rede GRUMIN de Mulheres Indígenas os participantes discutiram sobre a inserção da mulher indígena no mercado de trabalho, sobre saúde e educação; sobre a violência e o preconceito sofrido ainda hoje; trouxeram suas próprias experiências e seus exemplos de conquista. O evento aconteceu somente para indígenas do Rio de Janeiro, como as guaranis da Aldeia de Paratimirim e de Camboinhas, indígenas da ocupação do antigo Museu do Índio e indígenas que vivem na cidade, entre outros indígenas, como uma prévia da Quarta Mesa de Trabalho Rumo ao Fórum Nacional da Mulher Indígena para novembro de 2009. Essa 4ª Mesa de Trabalho acontecerá no início de maio com a participação de indígenas de outros Estados e três indígenas internacionais. Envolvidos com o tema e com o apoio e presenças dos homens indígenas, Cristino Wapixana do Nearin (Núcleo de escritores e artistas indígenas) do INBRAPI (Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual) homenageia as mulheres com trechos de seu poema e sua flauta: “Mulher morena, amarela, vermelha, parda, branca pele, peso leve. É brisa branda, ventania, belas formas, linda lua, soberana estrela nua!”.Tini-á Fulni-ô disse que no seu povo a sociedade é matriarcal, e nos contou histórias sobre a força feminina fulni-ô. Disse que aos nove anos de idade perguntou à sua mãe como ele nasceu. Seus pais mostraram-lhe naturalmente a beleza do ato sexual, que é um ato de amor, e logo depois lhe contaram que foi assim que ele nasceu, comparando a mulher à terra. Já a líder guarani de Camboinhas, Dona Lídia disse que as mulheres da sua aldeia ouvem seus conselhos, pois no seu povo o mais velho é respeitado e passa valores aos mais jovens.A curandeira disse contente junto às suas filhas presentes, que no próximo evento falará bem mais, e se desculpou por não dominar a língua portuguesa. A professora Vera Kauss, uma das organizadoras do evento, ressaltou a importância de se registrar e publicar as histórias indígenas, que trazem o conhecimento, a sabedoria dos povos indígenas, tão necessária à sociedade ocidental. Também foi importante a fala das jovens guarani, de Paratimirin.Evaneide falou sobre a importância do curso que está fazendo de reciclagem de papéis, onde tivemos a oportunidade de ver uma bela agenda feita no referido curso. A jovem guarani nos disse que dos cinco alunos do curso, ela é a única mulher. Evanilde nos contou sobre o treinamento da saúde da mulher guarani, do qual ela participou. Ela respondeu a perguntas do público sobre métodos anticoncepcionais, que não são aceitos pela comunidade. Ela nos disse que o pré-natal é feito com sucesso na aldeia. Silvia Nobre Wajãpi fez um oportuno comentário sobre a fala da jovem guarani, dizendo que hoje o infanticídio tem diminuído com relação às crianças que nascem com deficiências nas aldeias, pois são realizados tratamentos médicos com essas crianças, para que se tornem saudáveis. A fala de Silvia foi confirmada pela agente de saúde guarani. A professora Nelilda Ormond disse que o que importa é que este evento será registrado, estando a universidade ciente da realização do mesmo e que está fazendo todo empenho para apoiar os eventos do GRUMIN e NEARIN. Nelilda é a coordenadora geral do evento. Eliane Potiguara apresentou os instrumentos jurídicos nacionais e internacionais como caminhos para a garantia dos direitos das mulheres indígenas, além de citar os avanços após a Constituinte de 1988 e avanços após a Declaração Universal dos Direitos Indígenas que ajudou a escrever nas décadas passadas, além de agradecer o “finca pé” que estão realizando como parceria com a UFRJ.O líder Darci Guarani enfatizou a importância dos cânticos e coral indígenas, assim como Xohã frisou os traços, o design indígena como uma marca da ancestralidade. O evento ocorreu num clima de muita paz e respeito entre todos e todas. Tajira Kilima secretariou o evento e recolheu assinaturas para a constituição dos “AMIGOS DO GRUMIN”. O GRUMIN, UFRJ e parceiros partem agora para a realização da 4ª Mesa de Trabalho Rumo ao Fórum Nacional da Mulher Indígena, para início de maio de 2009.
Na íntegra por *ELIANE POTIGUARA
*Nota -Elizane potiguara -Escritora, professora e ativista indígena coordenadora do GRUMIN e Diretora do INBRAPI

Fonte: Revista zaP!

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