quarta-feira, 22 de julho de 2009

Os jovens nos ensinam a viver no mundo caótico


A consultoria Morgan Stanley distribuiu um relatório assinado por um de seus estagiários, Matthew Robson, de 15 anos. É uma análise de como adolescentes consomem mídia. Entre as conclusões: na Europa, seus pares não usam Twitter, baixam música pirata, preferem SMS via celular a e-mail, não ligam para TV aberta, não gostam de anúncios e não leem jornais. Pasme: praticamente nenhum já consultou uma lista telefônica.

O diário britânico Financial Times deu destaque. Clientes da Morgan Stanley ligaram, diz a imprensa, estupefatos. Blogs comentam. O Twitter circula em polvorosa. Sites e portais analisam. A única pergunta que ninguém faz: onde está a surpresa?
Para saber que o Twitter não é popular entre adolescentes basta perguntar à trupe do Twitter. Pesquisas apontando que jovens não usam e-mail saem a toda hora há uns oito anos. Qual executivo de televisão não sabe que ele tem um problema nessa faixa etária? Todos sabem. A indústria fonográfica, se não me engano, já sabe que a garotada baixa música pirata. Quanto aos anúncios, ora: eles não existem para que se goste deles. Existem porque funcionam.
A natureza da propaganda certamente mudará nos próximos anos - assim como a natureza da distribuição de notícias, música, correspondência e tudo o mais. Foi um belo golpe de publicidade da Morgan Stanley escalar um jovem provavelmente talentoso para falar o que todos sabem e fazer parecer novo. E publicidade funciona tão bem na velha mídia quanto na nova. (O mundo mudou, mas não tanto assim.)
O que não só adolescentes mas também jovens adultos realmente nos ensinam é algo bem mais complexo: a maneira de processar informação. É informação não-linear, catada aos cacos, processada simultaneamente. Também esta não é uma conclusão nova, mas o impacto no mundo ainda não é compreendido. Quando um rapaz, em seu quarto, surfa na web enquanto ouve música com a TV no mudo e fala ao celular, ele o faz naturalmente. Toda informação está sendo processada.
É assim que se escreve um artigo da Wikipedia, de frases coletadas de locais distintos da web. Vez por outra alguém senta e as edita para que tenham uma ordem coerente. A turma jovem, no mundo aparentemente caótico, se sai bem informada. Mas pensa de forma diferente.
Quão diferente? E, pensando assim diferente, quais conclusões distintas das nossas, que somos migrantes digitais, eles vão tirar quando forem homens e mulheres maduros? Eles vão pagar por algumas mídias e não gastarão um centavo noutras. O que ditará seus gastos?
Estas são as perguntas realmente relevantes que o relatório da Morgan Stanley sequer se aproxima de responder. Não à toa: é difícil mesmo. Requer pesquisa real, análise profunda e, ainda assim, a margem de erro ainda é alta. O mundo ainda é complicado o suficiente para que um rapaz de 15 anos seja capaz de explicá-lo.

Pedro Dória



Estadão

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Verbratec© Desktop.