quinta-feira, 19 de novembro de 2009

No Distrito Federal, mais de 60 mil adolescentes fumam habitualmente



Por Naíra Trindade
Os brasilienses estão acendendo o primeiro cigarro cada vez mais cedo. Dados da Secretaria de Saúde indicam que o hábito seduz uma parcela significativa da juventude. Dos 600 mil adolescentes (entre 14 e 19 anos de idade) do Distrito Federal, 11% fumam regularmente. O número preocupa o governo, que gasta R$ 144 milhões ao ano no tratamento de pacientes de câncer e outras doenças associadas à nicotina. A estimativa também adiciona novos elementos à discussão travada na Câmara Legislativa em torno do Projeto de Lei 1.127/2009. O texto prevê a extinção de fumódromos e demais áreas reservadas para fumantes em locais coletivos públicos e privados do DF.
O debate pode chegar ao fim na próxima terça-feira, quando o PL deverá ser apreciado pelos deputados. Enquanto isso, políticos, donos de comércios e clientes, advogados, estudantes e internautas (ver comentários) opinam sobre a proposta. Autor de uma emenda que permite o uso do fumo em fumódromos, o deputado Raad Massouh (DEM) argumenta que sua sugestão tem a vantagem de poupar os proprietários de estabelecimentos comerciais cuja freguesia seja tipicamente fumante.
“A emenda diz que mesmo ambientes abertos devem construir um fumódromo adaptado. Os comerciantes que não tiverem interesse, não permitirão que fumem lá dentro. E o cidadão ficará livre para escolher onde irá frequentar. Não se pode ser radical dessa forma”, argumenta. Mas, o alto custo da construção de um fumódromo — cerca de R$ 50 mil — preocupa o autor do projeto antitabagista, o distrital Dr. Charles Lima (PTB). “Os pequenos estabelecimentos não terão condições de se adaptar. Não sou contra o fumódromo, mas sou a favor da saúde pública.”

Trabalho de conscientização

Um movimento contra o tabaco formado por seis estudantes de publicidade reúne assinaturas em um abaixo-assinado para tentar combater o fumo em locais coletivos. Durante uma semana, os alunos montaram um estande no Instituto Superior Educacional de Brasília (Iesb) para conscientizar os universitários dos males causados pelo cigarro. “Conseguimos 400 assinaturas e ainda pretendemos percorrer outras instituições de ensino”, comenta a diretora do grupo, Lenice Lengruber, 22 anos.
A conscientização sobre os prejuízos parece dar resultados. De acordo com o coordenador do Programa de Controle ao Tabagismo no DF, Celso Rodrigues, o número de fumantes adultos no DF foi reduzido de 39%, em 1997, para 14%, em 2009. Entretanto, no mesmo período, o número de adolescentes fumantes se manteve estável redução. Para atingir essa faixa etária, a Secretaria de Saúde lançou, em agosto passado, uma campanha de combate ao fumo. Professores de todas as regionais de ensino estão recebendo treinamento para difundir, entre os alunos, os prejuízos causados pelo tabaco.

Perfil feminino

De acordo com o pneumologista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Viegas, é fundamental estudar o fenômeno do tabagismo sob viés de gênero. “Há uma ‘feminização’ do cigarro. O perfil do usuário no futuro será uma menina de 12 anos pobre. As mulheres, ao conseguirem a independência, mudaram seus comportamentos e estão bebendo e fumando como os homens. É necessário substituir essa cultura”, comenta. “A ideia de que o governo ganha muito com a indústria do tabaco na arrecadação de impostos é ilusória, porque ele acaba gastando muito também com o tratamento das doenças. O que ocorre é que a aparição delas não é imediata, vem 20 anos depois”, aponta. (NT)

Fonte: Correio Braziliense

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