segunda-feira, 21 de maio de 2012

Terapia em grupo ajuda “machões” a se tornarem bons maridos em São Paulo


Justiça encaminha homens agressores para o local como medida socioeducativa

Faz tempo que o ditado popular “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” deixou de ser uma verdade, como no caso de outros ditos, cristalizados pela rotina da sociedade brasileira. Hoje em dia, quando existe qualquer tipo de agressão — moral ou física — durante uma discussão de casal, o suspeito de tê-la cometido pode responder por crime. E as sanções não terminam por aí. Em São Paulo, por exemplo, há quatro anos, a Justiça encaminha para ONG Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, em Pinheiros, homens com histórico de agressão para fazerem um curso que tem com objetivo prevenir a violência doméstica.

De acordo com o coordenador Sérgio Barbosa, o grupo funciona como uma espécie de terapia em conjunto que faz os homens refletirem sobre suas atitudes. Para ele, esses tipos de crimes não devem ser punidos com “multas ou cestas básicas como pensavam alguns juízes” no passado.

Ele conta que a ideia para o grupo veio há 15 anos, quando estudiosos perceberam que a violência é algo “aprendido por um meio cultural e histórico e pode ser desaprendido”.

— Durante 16 encontros de duas horas, que acontecem uma vez por semana, nós nos aprofundamos nas questões que aconteceram com cada um deles. Gravamos as sessões e debatemos como seria possível resolver determinada situação sem o uso da força.

Qualquer homem interessado tem a possibilidade de frequentar essas aulas. Porém, todos os participantes do grupo, hoje, são obrigados a irem ao local por determinação judicial. Segundo a juíza responsável pela Vara Central de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Elaine Cristina Monteiro Cavalcante, eles são encaminhados à ONG após uma “audiência especial”.

— Em regra, são encaminhados aos Grupos de Reflexão para Homens Autores de Violência da ONG Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde os denunciados por crimes de lesão corporal dolosa [com intenção]. Além deste grupo, há também o curso de reeducação familiar da Academia de Polícia Civil do Estado de São Paulo.

Segundo a juíza, entre os objetivos do curso estão a conscientização do participante sobre sua responsabilidade no ato, o desenvolvimento de maior autocontrole, além do entendimento sobre sua importância na sociedade e na relação familiar.

Revolta

No grupo comandado por Barbosa existem homens com históricos violentos dos mais variados tipos, desde ameaça verbal até ferimentos graves feitos com cabos de vassoura, ponta de cigarro e leite quente. Independentemente do tipo de agressão, grande parte dos alunos chegam lá com “muita raiva”, segundo Barbosa.

— Eles acreditam que estão ali injustamente, que são inocentes. Mas à medida que vai passando o tempo, cai a ficha e eles percebem que foram violentos. Hoje, temos dois casos de reincidência.

Um empurrão durante uma briga, segundo um comerciário de 47 anos que participa do grupo e preferiu não se identificar, foi o suficiente para levá-lo ao curso. Como os seus companheiros, ele disse que se sentiu "injustiçado por ter sido obrigado a fazer as aulas", mas hoje encara como “um aprendizado”.

— Estou sofrendo uma ação judicial porque minha ex-mulher jogou um grampeador em mim durante uma briga. Eu coloquei as mãos na frente para me defender e a empurrei. Ela foi à delegacia da mulher, me denunciou e fez exame de corpo delito. Não sei onde ela arrumou o machucado. Para mim, penso até hoje que ela fez isso porque tem ciúmes da minha atual mulher. De qualquer forma, estou aprendendo muito, e já descobri coisas que nunca imaginava, como que proibir uma mulher de trabalhar também é uma forma de agressão.

Grupo

O grupo é formado por 15 homens, e a maioria deles de menor poder aquisitivo. Apesar desta realidade, Eliana diz que a violência contra as mulheres acontece em todas as classes sociais. Porém, talvez por “vergonha ou receio da exposição pública” mulheres com mais dinheiro evitem denunciar seus agressores.

Segundo a Vara Central da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de São Paulo, desde sua instalação em 2009 até 31 de dezembro de 2012, foram abertas 18.419 ações. Desse total, 9.711 tornaram-se inquéritos policiais, 2.755 ações penais e 4.150 medidas protetivas (quando uma pessoa é impedida de chegar perto de alguém).

Ajuda
Hoje em São Paulo existem nove Delegacias de Defesa da Mulher, além dos distritos policiais que também atendem a estes casos. Depois de procurar ajuda e receber atendimento da autoridade policial, as vítimas podem procurar auxílio na Defensoria Pública, que está localizada no Fórum Criminal da Barra Funda onde recebem atendimento jurídico e são encaminhadas às redes de apoio da Prefeitura Municipal de São Paulo.

Veja o passo a passo de como se tornar um bom marido

1
Entender que a mulher não é um objeto.

2
Compreender que a violência não é fruto de uso de álcool ou de qualquer outra droga. Muitos dizem que estavam bêbados quando violentaram uma mulher, mas é desculpa para atenuar a situação;

3
Violência contra a mulher não é genética Ela é construída pela pessoa que passou por situações violentas e acaba refletindo em suas atitudes.

4
Homem precisa refletir sobre seus comportamentos. Não dá para achar que só eles têm direitos. As mulheres têm seus direitos;

5
Pensar antes de tomar qualquer atitude.

R7

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