Canteiro central da av. Jornalista Roberto Marinho é invadido por usuários de crack
Quem passa pela avenida Jornalista Roberto Marinho, no Campo Belo, zona sul de São Paulo, e vê seus “novos moradores” diz que a sensação é uma mistura de constrangimento, tristeza e medo. O canteiro central da via, por onde passa o córrego Água Espraiada, foi transformado em ponto de consumo de crack. Dezenas de dependentes se acumulam ali, dia e noite, compondo uma nova Cracolândia na capital.
Por volta das 11h30 do dia 21 de janeiro, quando a reportagem do R7 esteve no local, já era possível ver usuários escondidos atrás do muro. Alguns dormiam, outros consumiam a droga. PMs passam perto do canteiro e descem do carro, expulsando os chamados “craqueiros”. Eles se espalham, entram nas ruas que cortam a avenida e voltam para o mesmo lugar em pouco mais de meia hora.
Uma das usuárias, conhecida como Magrela, ironiza a situação e diz que é mais fácil “colocar uma grade em volta do córrego e transformá-lo em uma clínica”.
- A polícia vem aqui, mas não adianta. Não é uma questão de polícia. É um problema de saúde. Aí, eles levam a gente para a cadeia. Na cadeia, eu fumei crack, eu fumei maconha. Nem dez dias eu fiquei. De que adiantou?
Magrela diz ter nascido e crescido no bairro. Aos 32 anos, ela viveu os últimos 15 entre melhoras e recaídas no vício do crack. Há sete meses, a usuária vive perto do córrego Água Espraiada.
- Eu sempre fui muito louca. Eu queria conhecer a loucura das drogas. Adoro beber. Sou alcoólatra de carteirinha.
Ela chora ao falar dos três filhos - de oito, quatro e três anos de idade -, que estão sob a guarda de sua irmã. E diz que foi abandonada pela família.
"Motoristas reféns"
Quem passa de carro todos os dias pela avenida fica refém da situação. O analista de sistemas Felipe Benedito conta que se mudou recentemente para um prédio muito próximo à avenida e vê essa mesma cena todos os dias. A sensação, segundo ele, é de insegurança.
- Me sinto mal. Principalmente à noite, quando aqui fica bem movimentado. Eles transitam por aqui, te param no trânsito... É complicado.
O advogado Paulo Jorge se diz “bastante preocupado” com a situação. Um piloto de avião, que preferiu não se identificar, afirma que se sente constrangido ao ver os usuários fumando às margens do córrego Água Espraiada.
- Me preocupa, porque a gente sabe que a droga leva o cara a te assaltar ou fazer qualquer outra coisa quando está doidão.
A situação também incomoda o despachante Afonso Pantoni, que transita com frequência pela via.
- Os caras queimam direto aqui. Eu me sinto mal, mal. A gente que é trabalhador passar por aqui é ruim.
A situação também atrapalha o comércio no local. Felipe Leite, gerente da loja de conveniência Select, conta que os viciados entram na loja para trocar o dinheiro que é pedido no sinal de trânsito.
- Como a gente funciona 24 horas, durante a madrugada aqui é um inferno. Só os noias da Espraiada entrando, saindo, roubando chocolate. A gente tem um segurança, mas mesmo assim, não inibe não (...) A polícia passa, faz ronda, mas não adianta. Eles ficam atrás do murinho, dentro do rio, então eles não veem. Ela repreende um e outro, mas não adianta não... É doença já.
O que dizem as autoridades
A GCM (Guarda Municipal Metropolitana) informou que trabalha no local há cerca de seis meses, promovendo atividades esportivas com o objetivo de "aproximar a corporação da sociedade e ampliar a rede de proteção social, contribuindo também para a diminuição de criminalidade e aumentando a sensação de segurança". O órgão diz ter instalado uma base comunitária móvel em frente ao piscinão das 6h às 18h e que também faz rondas noturnas.
Ao receber denúncias, a GCM diz enviar uma viatura para o local. "Se for pessoas em situação de risco, as mesmas serão encaminhadas aos órgãos competentes para tratamento/encaminhamento. Se a solicitação derivar de uma conduta tipificada, como crime, aí então cabe a condução ao distrito policial para ciência da autoridade", afirma a GCM, por meio de nota.
Já a prefeitura de São Paulo afirma que, desde 2005, a cidade "vem recebendo grandes investimentos para implementar uma política de atenção integral à pessoa com transtorno mental, incluindo as que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas".
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da prefeitura informou que a Secretaria Municipal de Saúde disponibiliza diversos leitos e que "todas as unidades hospitalares do município de São Paulo estão preparadas para atender pacientes psiquiátricos, entre eles, dependentes químicos". São 21 Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas que atendem de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h ou das 8h às 18h.
A prefeitura informa ainda que, desde 2008, a secretaria faz um trabalho de abordagem ao dependente químico. "Quando o paciente aceita ser avaliado, o encaminhamento se dá por meio de triagem, por um grupo de enfermeiros e médicos psiquiatras." O trabalho faz parte da Ação Integrada Centro Legal, parceria entre a prefeitura, governo do Estado, Poder Judiciário, Ministério Público e sociedade civil, criada para recuperar o centro da cidade.
A Secretaria de Segurança Pública informa que "o trabalho da Polícia Civil é investigar todos os crimes praticados na região desde que as ocorrências sejam devidamente registradas pelas vítimas nas delegacias da área. Também é importante ligar para o número 190 assim que a vítima sofrer o crime pois a ação ágil da Polícia Militar pode levar à prisão dos autores".
A Polícia Militar diz que "tem atuado de forma direta na questão de segurança do bairro de Campo Belo, especificamente no entorno da avenida Jornalista Roberto Marinho e nas comunidades que ali se encontram". De acordo com a PM, nos últimos dois anos, 327 pessoas envolvidas em tráfico e porte de drogas nas comunidades da avenida foram presas em flagrante. A corporação apreendeu 29 armas de fogo, prendeu 243 pessoas em flagrante delito por outros crimes e apreendeu 157 menores infratores.
Segundo a polícia, a grande maioria das prisões feitas na região envolve crianças e adolescentes, sendo que, por muitas vezes, os menores de idade são detidos mais de uma vez.
Quem passa pela avenida Jornalista Roberto Marinho, no Campo Belo, zona sul de São Paulo, e vê seus “novos moradores” diz que a sensação é uma mistura de constrangimento, tristeza e medo. O canteiro central da via, por onde passa o córrego Água Espraiada, foi transformado em ponto de consumo de crack. Dezenas de dependentes se acumulam ali, dia e noite, compondo uma nova Cracolândia na capital.
Por volta das 11h30 do dia 21 de janeiro, quando a reportagem do R7 esteve no local, já era possível ver usuários escondidos atrás do muro. Alguns dormiam, outros consumiam a droga. PMs passam perto do canteiro e descem do carro, expulsando os chamados “craqueiros”. Eles se espalham, entram nas ruas que cortam a avenida e voltam para o mesmo lugar em pouco mais de meia hora.
Uma das usuárias, conhecida como Magrela, ironiza a situação e diz que é mais fácil “colocar uma grade em volta do córrego e transformá-lo em uma clínica”.
- A polícia vem aqui, mas não adianta. Não é uma questão de polícia. É um problema de saúde. Aí, eles levam a gente para a cadeia. Na cadeia, eu fumei crack, eu fumei maconha. Nem dez dias eu fiquei. De que adiantou?
Magrela diz ter nascido e crescido no bairro. Aos 32 anos, ela viveu os últimos 15 entre melhoras e recaídas no vício do crack. Há sete meses, a usuária vive perto do córrego Água Espraiada.
- Eu sempre fui muito louca. Eu queria conhecer a loucura das drogas. Adoro beber. Sou alcoólatra de carteirinha.
Ela chora ao falar dos três filhos - de oito, quatro e três anos de idade -, que estão sob a guarda de sua irmã. E diz que foi abandonada pela família.
"Motoristas reféns"
Quem passa de carro todos os dias pela avenida fica refém da situação. O analista de sistemas Felipe Benedito conta que se mudou recentemente para um prédio muito próximo à avenida e vê essa mesma cena todos os dias. A sensação, segundo ele, é de insegurança.
- Me sinto mal. Principalmente à noite, quando aqui fica bem movimentado. Eles transitam por aqui, te param no trânsito... É complicado.
O advogado Paulo Jorge se diz “bastante preocupado” com a situação. Um piloto de avião, que preferiu não se identificar, afirma que se sente constrangido ao ver os usuários fumando às margens do córrego Água Espraiada.
- Me preocupa, porque a gente sabe que a droga leva o cara a te assaltar ou fazer qualquer outra coisa quando está doidão.
A situação também incomoda o despachante Afonso Pantoni, que transita com frequência pela via.
- Os caras queimam direto aqui. Eu me sinto mal, mal. A gente que é trabalhador passar por aqui é ruim.
A situação também atrapalha o comércio no local. Felipe Leite, gerente da loja de conveniência Select, conta que os viciados entram na loja para trocar o dinheiro que é pedido no sinal de trânsito.
- Como a gente funciona 24 horas, durante a madrugada aqui é um inferno. Só os noias da Espraiada entrando, saindo, roubando chocolate. A gente tem um segurança, mas mesmo assim, não inibe não (...) A polícia passa, faz ronda, mas não adianta. Eles ficam atrás do murinho, dentro do rio, então eles não veem. Ela repreende um e outro, mas não adianta não... É doença já.
O que dizem as autoridades
A GCM (Guarda Municipal Metropolitana) informou que trabalha no local há cerca de seis meses, promovendo atividades esportivas com o objetivo de "aproximar a corporação da sociedade e ampliar a rede de proteção social, contribuindo também para a diminuição de criminalidade e aumentando a sensação de segurança". O órgão diz ter instalado uma base comunitária móvel em frente ao piscinão das 6h às 18h e que também faz rondas noturnas.
Ao receber denúncias, a GCM diz enviar uma viatura para o local. "Se for pessoas em situação de risco, as mesmas serão encaminhadas aos órgãos competentes para tratamento/encaminhamento. Se a solicitação derivar de uma conduta tipificada, como crime, aí então cabe a condução ao distrito policial para ciência da autoridade", afirma a GCM, por meio de nota.
Já a prefeitura de São Paulo afirma que, desde 2005, a cidade "vem recebendo grandes investimentos para implementar uma política de atenção integral à pessoa com transtorno mental, incluindo as que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas".
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da prefeitura informou que a Secretaria Municipal de Saúde disponibiliza diversos leitos e que "todas as unidades hospitalares do município de São Paulo estão preparadas para atender pacientes psiquiátricos, entre eles, dependentes químicos". São 21 Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas que atendem de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h ou das 8h às 18h.
A prefeitura informa ainda que, desde 2008, a secretaria faz um trabalho de abordagem ao dependente químico. "Quando o paciente aceita ser avaliado, o encaminhamento se dá por meio de triagem, por um grupo de enfermeiros e médicos psiquiatras." O trabalho faz parte da Ação Integrada Centro Legal, parceria entre a prefeitura, governo do Estado, Poder Judiciário, Ministério Público e sociedade civil, criada para recuperar o centro da cidade.
A Secretaria de Segurança Pública informa que "o trabalho da Polícia Civil é investigar todos os crimes praticados na região desde que as ocorrências sejam devidamente registradas pelas vítimas nas delegacias da área. Também é importante ligar para o número 190 assim que a vítima sofrer o crime pois a ação ágil da Polícia Militar pode levar à prisão dos autores".
A Polícia Militar diz que "tem atuado de forma direta na questão de segurança do bairro de Campo Belo, especificamente no entorno da avenida Jornalista Roberto Marinho e nas comunidades que ali se encontram". De acordo com a PM, nos últimos dois anos, 327 pessoas envolvidas em tráfico e porte de drogas nas comunidades da avenida foram presas em flagrante. A corporação apreendeu 29 armas de fogo, prendeu 243 pessoas em flagrante delito por outros crimes e apreendeu 157 menores infratores.
Segundo a polícia, a grande maioria das prisões feitas na região envolve crianças e adolescentes, sendo que, por muitas vezes, os menores de idade são detidos mais de uma vez.
tem uma mãe desesperada porque seu filho está na cracolândia de São Paulo, tem problemas psiquiatricos e ela não sabe a quem recorrer para tira-lo de lá. Alguém pode me informar para eu poder ajudar essa pessoa que é minha vizinha? Obrigada
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