"Falaram que eu tô ótimo. Não querem me dar uma chance. Então, tá. Tô indo pro fluxo." A afirmação é do agitado Thomas Navar Watanabe Fantine, 20, roupas sujas, olhos vermelhos e pontas dos dedos queimadas pelo crack.
Na tarde de ontem, ele deixava o Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas), no centro de São Paulo, sem conseguir o que queria: ser internado.
"Eu tô pedindo. Estou desde os nove anos nesta vida. O que tenho que fazer para que eles entendam que eu preciso de ajuda? Trazer um cachimbo de crack e fumar aqui, na frente deles?"
Ao deixar o Cratod, Thomas seguiu para a cracolândia, para o "fluxo" de uso da droga. Sentou na calçada, sacou o cachimbo e fumou sua pedra.
Ontem era o segundo dia seguido que o rapaz procurava tratamento no Cratod. Desde segunda, o centro virou uma espécie de pronto-socorro de dependentes de drogas em busca de ajuda e de familiares que querem internar à força seus filhos, irmãos, pais e mães com algum vício.
Rosangela Elias, coordenadora de Saúde Mental, Álcool e Drogas do Governo, afirmou ontem que os médicos avaliaram Thomas e que, como a situação dele não foi considerada grave, ficou decidido que ele deveria procurar um Caps, que oferece atendimento ambulatorial --as pessoas frequentam grupos de ajuda, passam por psicólogos e, se preciso, são medicadas.
SEM SUCESSO
O Caps mais próximo fica na mesma rua do Cratod, distante cerca de 2 quilômetros.
"O que eu vou fazer lá? Passar o dia, tomar remédio e depois voltar para a rua e usar crack?", diz Thomas, morador fixo da cracolândia há dois meses. O rapaz disse que já havia tentado esse tratamento, sem sucesso.
Agora, procurava ajuda "em homenagem" à mãe.
"Se ele pediu ajuda, está mesmo precisando", lamentou Sheyla Fantini, 44, a mãe de Thomás, por telefone, após ser avisada pela Folha de que o filho buscara tratamento. Ela afirma que tentará novamente uma internação.
Desde segunda-feira, o governo Alckmin (PSDB) montou um plantão jurídico (com juiz, promotor e advogados) no Cratod para agilizar as internações à força.
O local, no entanto, atraiu muita gente em busca de ajuda e algumas internações foram feitas de forma voluntária. Tanto que, de segunda a quarta-feira, só 4 das 18 internações foram à força. Ontem, mais 16 pessoas foram internadas --o governo não informou quantas foram feitas contra a vontade do dependente.
Folha Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário