RIO - Do nascimento à adolescência, a criança terá no mínimo 20 consultas com o pediatra, para avaliar sua saúde física e prevenir doenças. Já a saúde mental só será percebida se virar um problema para pais e mães, a maioria refém do modo de vida contemporâneo, em que predominam o estresse, as muitas horas fora de casa, as dificuldades para impor limites e, muitas vezes, a terceirização da educação a babás e escola. Os reflexos da modernidade e da competitividade incidem sobre os filhos. No corre-corre da rotina, são cada vez mais cedo submetidos a provas rígidas, precisam dar conta de grande quantidade de deveres de casa, têm menos tempo para brincar e muitas vezes isolam-se em frente a telas de TV, videogames, computadores.
Veja como os pais podem ajudar
Mas algumas mudanças já podem ser vislumbradas nesse cenário. Até o fim do ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria, atendendo a um pleito antigo de psiquiatras da área infantil, começará a capacitar os pediatras para que eles identifiquem também a quantas anda a saúde mental da criança. Um dos objetivos é diagnosticar precocemente problemas graves, como o autismo, para o tratamento ser iniciado imediatamente. Mas o desafio não se restringe às patologias: o pediatra também será fundamental para perceber comportamentos inadequados e dificuldades dos pequenos, como agressividade, problemas de aprendizagem, ansiedade e medos. E poderão passar a bola para o psiquiatra orientar a família no tratamento.
-- É muito importante acompanhar as crianças entre 0 e 6 anos, para percebermos os sinais de alerta. Muitas vezes, a criança está só passando por uma fase mais difícil porque vai ganhar um irmãozinho e orientamos a família a ajudá-la. Outras vezes, há uma dificuldade simples que a impede de avançar na escola e ninguém percebe. E há também casos mais graves, como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e autismo. O bacana é que todas essas crianças que vão ao ambulatório são acompanhadas até os 15, 16 anos - diz a psiquiatra Gabriela Dias, coordenadora do Ambulatório Pré-Escolar da Santa Casa, autora junto com o marido e psiquiatra Fabio Barbirato, chefe do Setor de Psiquiatria Infanto-Juvenil da Santa Casa, de "A mente de seu filho" (Agir), um guia para a família estimular as crianças e identificar distúrbios psicológicos na infância.
Veja como os pais podem ajudar
Mas algumas mudanças já podem ser vislumbradas nesse cenário. Até o fim do ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria, atendendo a um pleito antigo de psiquiatras da área infantil, começará a capacitar os pediatras para que eles identifiquem também a quantas anda a saúde mental da criança. Um dos objetivos é diagnosticar precocemente problemas graves, como o autismo, para o tratamento ser iniciado imediatamente. Mas o desafio não se restringe às patologias: o pediatra também será fundamental para perceber comportamentos inadequados e dificuldades dos pequenos, como agressividade, problemas de aprendizagem, ansiedade e medos. E poderão passar a bola para o psiquiatra orientar a família no tratamento.
-- É muito importante acompanhar as crianças entre 0 e 6 anos, para percebermos os sinais de alerta. Muitas vezes, a criança está só passando por uma fase mais difícil porque vai ganhar um irmãozinho e orientamos a família a ajudá-la. Outras vezes, há uma dificuldade simples que a impede de avançar na escola e ninguém percebe. E há também casos mais graves, como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e autismo. O bacana é que todas essas crianças que vão ao ambulatório são acompanhadas até os 15, 16 anos - diz a psiquiatra Gabriela Dias, coordenadora do Ambulatório Pré-Escolar da Santa Casa, autora junto com o marido e psiquiatra Fabio Barbirato, chefe do Setor de Psiquiatria Infanto-Juvenil da Santa Casa, de "A mente de seu filho" (Agir), um guia para a família estimular as crianças e identificar distúrbios psicológicos na infância.
Ansiedade atinge crianças pequenas
O.K., saúde mental é importantíssima, mas será que crianças tão novas precisam realmente de um acompanhamento? Segundo Barbirato e Gabriela, sim. Primeiro, porque nesta fase, até os 6 anos, é possível prevenir problemas mais graves no futuro, só com a terapia familiar e orientações simples, e evitar que um probleminha vire um problemão. E depois porque pesquisas internacionais, como a coordenada pela psiquiatra americana Hellen Egger, mostram que cerca de 10% das crianças entre 0 e 6 anos têm algum transtorno psiquiátrico grave, que causa grande comprometimento em suas vidas.
- Pouco se falava de ansiedade e depressão na infância e hoje já sabemos que 10% das crianças sofrem do problema. É duas vezes mais frequente na infância que TDAH e autismo. E, segundo a Organização Mundial de Saúde, ansiedade e depressão são muito mais incapacitantes na vida $do que qualquer outra doença - explica Barbirato.
Mas aquela criança agitada, ansiosa, ligeiramente estressada se enquadra nesses 10%?
- Não - garante Gabriela. - Nesses 10% é quando ocorre o comprometimento: a criança que não quer mais ir à escola, sair de casa, ver amigos.
Jéssica, de 9 anos, paciente da Santa Casa, faz parte dessa porcentagem. Diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada, ela é tratada com terapia:
- Eu sou muito ansiosa, perco o sono, tenho bruxismo. Estudo, sei a matéria, mas sempre acho que vou me dar mal na prova. E fico estudando mais e mais.
Vitoria, de 9 anos, de olhar sério e poucos sorrisos, sente um enorme complexo de inferioridade, como definiu sua tia, apesar de muito inteligente. É super-responsável, preocupada ao extremo, e agora acha que tem poucos amigos na escola.
- Eu tinha algumas amigas, elas arrumaram novas e eu fiquei sobrando. Agora estou me esforçando para fazer outras amizades - conta.
Dados epidemiológicos apresentados no Congresso da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência em 2007 mostram que os transtornos de ansiedade são os mais comuns na fase pré-escolar, seguidos por transtorno opositivo-desafiador, TDAH e depressão.
- Mas o foco principal do ambulatório pré-escolar e desse trabalho integrado com os pediatras não é a doença. Queremos, sim, identificar logo alterações de temperamento, reconhecer aquele que é mais introspectivo, o mais agressivo, os problemas de convivência em grupo, as dificuldades de cognição, a birra frequente, os comportamentos inadequados, para ajudar a família. O tratamento consiste basicamente na orientação aos pais. Temos que ouvir a família e saber que nela está a chave da mudança - destaca Barbirato.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo Vaz, é o pediatra quem entende de desenvolvimento infantil e daí a importância da parceria com o psiquiatra. As etapas do desenvolvimento cognitivo e físico são muito individuais e compreendem uma faixa etária extensa, mas alguns marcos - como uma criança de 1 ano e meio não estar falando nada - não podem ser desprezados. E compreender essas etapas, serviço que o livro de Barbirato e Gabriela destrincha para os pais, ajuda tanto a não minimizar os diagnósticos como também a não maximizá-los.
- O desenvolvimento do cérebro é muito importante até os 6 anos, mas principalmente até os 3. Quem não recebe afeto nos primeiros anos de vida dificilmente vai gostar do outro. O pediatra precisa entender a dinâmica da família. Temos 35 mil pediatras no Brasil. Se eles estiverem treinados para identificar doenças ou problemas de comportamento da criança, tudo pode ficar mais fácil - explica Vaz, que destaca o trabalho do pediatra Ricardo Halpern, presidente do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da SBP. - Houve uma mudança grande no estilo de vida dos pais e dos filhos. E há uma busca desenfreada pelo sucesso. Isso gera um impacto sobre a saúde mental das crianças.
O Globo
O.K., saúde mental é importantíssima, mas será que crianças tão novas precisam realmente de um acompanhamento? Segundo Barbirato e Gabriela, sim. Primeiro, porque nesta fase, até os 6 anos, é possível prevenir problemas mais graves no futuro, só com a terapia familiar e orientações simples, e evitar que um probleminha vire um problemão. E depois porque pesquisas internacionais, como a coordenada pela psiquiatra americana Hellen Egger, mostram que cerca de 10% das crianças entre 0 e 6 anos têm algum transtorno psiquiátrico grave, que causa grande comprometimento em suas vidas.
- Pouco se falava de ansiedade e depressão na infância e hoje já sabemos que 10% das crianças sofrem do problema. É duas vezes mais frequente na infância que TDAH e autismo. E, segundo a Organização Mundial de Saúde, ansiedade e depressão são muito mais incapacitantes na vida $do que qualquer outra doença - explica Barbirato.
Mas aquela criança agitada, ansiosa, ligeiramente estressada se enquadra nesses 10%?
- Não - garante Gabriela. - Nesses 10% é quando ocorre o comprometimento: a criança que não quer mais ir à escola, sair de casa, ver amigos.
Jéssica, de 9 anos, paciente da Santa Casa, faz parte dessa porcentagem. Diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada, ela é tratada com terapia:
- Eu sou muito ansiosa, perco o sono, tenho bruxismo. Estudo, sei a matéria, mas sempre acho que vou me dar mal na prova. E fico estudando mais e mais.
Vitoria, de 9 anos, de olhar sério e poucos sorrisos, sente um enorme complexo de inferioridade, como definiu sua tia, apesar de muito inteligente. É super-responsável, preocupada ao extremo, e agora acha que tem poucos amigos na escola.
- Eu tinha algumas amigas, elas arrumaram novas e eu fiquei sobrando. Agora estou me esforçando para fazer outras amizades - conta.
Dados epidemiológicos apresentados no Congresso da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência em 2007 mostram que os transtornos de ansiedade são os mais comuns na fase pré-escolar, seguidos por transtorno opositivo-desafiador, TDAH e depressão.
- Mas o foco principal do ambulatório pré-escolar e desse trabalho integrado com os pediatras não é a doença. Queremos, sim, identificar logo alterações de temperamento, reconhecer aquele que é mais introspectivo, o mais agressivo, os problemas de convivência em grupo, as dificuldades de cognição, a birra frequente, os comportamentos inadequados, para ajudar a família. O tratamento consiste basicamente na orientação aos pais. Temos que ouvir a família e saber que nela está a chave da mudança - destaca Barbirato.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo Vaz, é o pediatra quem entende de desenvolvimento infantil e daí a importância da parceria com o psiquiatra. As etapas do desenvolvimento cognitivo e físico são muito individuais e compreendem uma faixa etária extensa, mas alguns marcos - como uma criança de 1 ano e meio não estar falando nada - não podem ser desprezados. E compreender essas etapas, serviço que o livro de Barbirato e Gabriela destrincha para os pais, ajuda tanto a não minimizar os diagnósticos como também a não maximizá-los.
- O desenvolvimento do cérebro é muito importante até os 6 anos, mas principalmente até os 3. Quem não recebe afeto nos primeiros anos de vida dificilmente vai gostar do outro. O pediatra precisa entender a dinâmica da família. Temos 35 mil pediatras no Brasil. Se eles estiverem treinados para identificar doenças ou problemas de comportamento da criança, tudo pode ficar mais fácil - explica Vaz, que destaca o trabalho do pediatra Ricardo Halpern, presidente do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da SBP. - Houve uma mudança grande no estilo de vida dos pais e dos filhos. E há uma busca desenfreada pelo sucesso. Isso gera um impacto sobre a saúde mental das crianças.
O Globo