Empresária com filho que foi sequestrado por babá no Centro de Vitória: criança ficou em poder da adolescente por cerca de sete horas
Foram aproximadamente sete horas de angústia para pais do bebê de 1 ano e 3 meses
Uma babá de 15 anos sequestrou um bebê de 1 ano e 3 meses de idade, em Vitória. Foram aproximadamente sete horas de angústia para os pais da criança, que chegaram a receber mensagens de celular da garota, avisando sobre o sequestro. Era o primeiro dia de trabalho da babá com a família, mas não o primeiro crime cometido pela suspeita: ela já havia sequestrado outras duas crianças.
A babá havia começado a trabalhar no local, na Rua do Vintém, no Centro de Vitória, na manhã de quarta-feira. Desde cedo, insistiu para passear com o menino. Conseguiu o que queria às 16h, quando a mãe do bebê - uma empresária de 32 anos que prefere não se identificar - permitiu que ela fosse com o pai da criança até um supermercado.
Nesse momento, a adolescente aproveitou para fugir. Ela estava com um telefone celular da família, mas não atendia às ligações. "Algumas vezes, ela me deixou ouvindo música e muitas vozes. Parecia estar em alguma casa", falou a mãe do bebê.
Em vez de tranquilizar a família com notícias, a babá usava o celular para passar mensagens de texto. Numa delas, anunciou: "Seu filho está sequestrado".
Segundo a garota, ela pegou um ônibus para o Terminal de Laranjeiras, na Serra. Em seguida, foi a Jacaraípe e a Vila Nova de Colares. Lá, sentou-se num banco de ponto de ônibus e ligou para a polícia, 4h30 após o início do sequestro, dizendo estar arrependida. Horas depois, o menino foi entregue à polícia e voltou para os braços dos pais, às 23h.
O bebê estava com um machucado no lábio inferior e muito agitado, segundo a mãe, que tem outro filho, de 5 anos. A adolescente foi apreendida - termo previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente - e autuada por ato infracional correspondente ao crime de sequestro e cárcere privado.
Outros casos
A garota admitiu a polícia já ter roubado outras duas crianças. Na primeira ocasião, pegou um primo e foi a uma padaria, em Jardim Tropical, Serra, e quando retornou a mãe da criança havia acionado a polícia.
Na segunda vez, foi apreendida e passou 70 dias na Unidade Feminina de Internação (UFI). Ela raptou o sobrinho de um ex-namorado, em Cidade Continental, Serra, em setembro do ano passado. Passou quatro dias com a criança, de 6 meses de idade, numa casa em Taquara, mesmo município, e só foi descoberta graças à ação de investigadores do Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) da Serra.
Funcionário de casal recomendou jovemO casal de empresários e pais do bebê sequestrado revelou que foi um funcionário da empresa deles quem recomendou a adolescente de 15 anos. "Ele disse que a garota morava na rua dele, em Morada de Jacaraípe, e que conhecia a menina havia três ou quatro meses. Depois, meu marido mandou a moça aqui em casa para eu fazer uma entrevista", contou a empresária.
Na verdade, o funcionário só conhecia a menina havia quatro dias e estava tendo um caso com ela. Ele não estava envolvido no crime e até chorou com o casal de patrões.
Após ser indicada, a menina foi à residência do casal, no Centro de Vitória, no final da tarde de terça-feira. Ela conversou com a empresária, e as duas combinaram que a adolescente dormiria na casa no primeiro dia de trabalho. Também acertaram o valor do salário, que seria de R$ 600,00.
No outro dia de manhã, a babá logo pediu para passear com o bebê na pracinha do bairro. A mãe não permitiu, porque a babá não conhecia o local.
Passados alguns minutos, a babá deu banho no bebê e pediu para passear com ele de novo em frente à residência. Dessa vez, a mãe deixou e ficou observando a adolescente pela janela. Mas, por volta das 15 horas, o marido dela chegou, e a empresária pediu que ele fizesse algumas compras.
No momento do pedido, a babá pediu para ir junto, levando o bebê. A mãe autorizou desde que o marido os trouxesse de volta no carro. Mas o marido dela deixou a babá no supermercado e entregou à jovem o telefone celular da mãe para que as duas se comunicassem. Depois disso, a criança foi levada pela adolescente.
Adolescente usava nomes diferentes
A adolescente de 15 anos que confessou ter sequestrado o bebê usa vários nomes falsos e alegou que não ter documentos. Ela apresentou uma certidão falsa à polícia, na quarta-feira. Na outra ocasião em que levou uma criança de 6 meses, em Cidade Continental, disse que se chamava Ludmila. Para a mãe do bebê sequestrado na quarta-feira, afirmou que seu nome era Amanda e que tinha 19 anos. O verdadeiro nome da adolescente não pode ser divulgado, porque ela é menor de 18 anos, e o Estatuto da Criança e do Adolescente não permite que se revele sua identidade.
Versão
"Acho que faço isso porque não posso ter filhos"
Algemada nos pés e sentada no banco da delegacia, a adolescente contou detalhes de como sequestrou o bebê. Aparentemente tranquila, a garota disse estar arrependida, mas logo mudava de opinião. A adolescente acrescentou que recebeu tratamento psicológico durante os 70 dias que ficou na Unidade de Internação Feminina (UFI), em Cariacica.
Você já trabalhou de babá?
Já trabalhei três anos na casa de uma família em Barra de São Francisco, no Norte.
E você sequestrou algum bebê lá?
(risos) Não, lá não. As outras vezes foram aqui. Só na primeira vez, minha tia inventou a história porque estava com ciúmes de mim com o marido dela. E da outra vez foi o sobrinho do meu ex-namorado.
Você se arrepende?
Por um lado sim, por outro não.
E por que faz isso?
Não sei, acho que é porque não posso ter filhos, por causa dos problemas de cabeça que tenho. Os médicos falam que vou passar para o bebê. Tenho sete irmãos, e todos eles têm medo de mim (risos).
Angústia
"Não quero mais babá. Meus filhos ficarão em creche"
A empresária que teve o filho sequestrado contou os momentos de angústia que viveu por quase sete horas. Ela não teve coragem de ver a babá na delegacia e acredita que a jovem tenha planejado tudo.
Quando percebeu que a babá demorava a voltar com seu filho?
Depois de uns 40 minutos. Liguei para o meu marido, e ele disse que havia deixado a babá no supermercado com o meu celular. Liguei, mas ela não me atendeu. Após três ligações não atendidas, entrei em pânico.
Vocês procuraram logo a polícia?
Não. Achei que ela havia se perdido. Algumas vezes ela atendia ao telefone, e eu ouvia música e vozes. Não pensei que era sequestro.
Foi ela quem avisou sobre o sequestro?
Não. Eu liguei para um telefone anotado num caderno que ela trouxe e descobri que era a casa da criança sequestrada antes do meu filho. Aí, eu pirei.
Depois do que viveu, o que você pensa em fazer agora?Não vou contratar mais ninguém como babá e vou colocar meus filhos em uma creche.
Gazeta Online