“A educação desempenha um papel central não só na prevenção de conflitos armados, mas, sobretudo, na reconstrução dos países afetados por eles. É uma importante força de paz que tem sido esquecida e negligenciada pela comunidade internacional.” Esse é o alerta do diretor de educação da UNESCO no Brasil, Paolo Fontani, a partir do relatório A crise oculta: conflitos armados e educação, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e apresentado nessa segunda-feira (4/7), em Genebra, na Suíça.
Ao todo, 42% das crianças que estão fora da escola no mundo vivem em países afetados por conflitos, segundo o documento. Isso equivale a 28 milhões de estudantes afastados da educação por causa da violência. “As dificuldades que eles enfrentam vão desde o impedimento de chegar à escola, passando pela falta de professores, salas de aula, até os traumas psicológicos deixados pela violência”, aponta o diretor da UNESCO.
O documento, produzido pela equipe do Relatório de Monitoramento Global de Educação Para Todos (EPT), aponta que apenas 2% dos recursos destinados à reconstrução de países afetados pela violência são aplicados em educação. Distante das prioridades no cessar-fogo, o setor ainda sofre com os desvios de dinheiro para gastos militares.
“Seriam necessários apenas seis dias de gastos militares dos países doadores para preencher o déficit de 16 bilhões de dólares no financiamento da iniciativa de Educação para Todos”, afirma o texto. A Unesco sugere a criação de um fundo específico para educação, onde haja contribuição direta dos doadores e onde se consiga elevar os investimentos na área.
O relatório adverte ainda que a falta de medidas rápidas e contínuas na educação, imediatamente após o conflito, pode dificultar a consolidação da paz, especialmente se ainda estiverem vigentes mecanismos de exclusão, intolerância e injustiça.
Segundo Fontani, “os conflitos geram um impacto grande no tecido social, por isso é preciso uma estratégia diferenciada, uma educação que envolva toda a comunidade, que privilegie a formação de professores, forneça materiais adequados e desenvolva metodologias participativas. Enfim, é necessário construir um processo de paz no interior de cada escola”.
Ele avalia que o medo e a insegurança também são fatores que impedem milhares de alunos de continuarem os estudos. Exemplos não faltam: no Afeganistão, no início de 2010, mais de 450 escolas estavam fechadas por falta de segurança. Em Mogadiscio, capital da Somália, 60 escolas foram fechadas em 2009 e pelo menos 10 foram ocupadas por forças militares.
No Iraque, os anos de violência ocasionados pela Guerra do Golfo (1990-1991) e agravados pela invasão das tropas aliadas em 2003, foram responsáveis por destruir grande parte da infra-estrutura escolar, além de terem forçado centenas de professores e alunos a abandonarem o país. Em Gaza, nos territórios autônomos palestinos, os ataques militares israelenses em 2008 e 2009 deixaram 350 crianças mortas, 1.815 feridos e 280 escolas danificadas, de acordo com o documento.
Tomados como alvos legítimos das forças militares envolvidas nos conflitos contemporâneos, alunos, escolas e professores acabam sendo vítimas de ataques, seqüestros e prisões, caracterizando a violência como o maior obstáculo a ser superado neste século para o avanço da educação, conclui o relatório.
Depoimento
Durante a entrevista o diretor da UNESCO, Paolo Fontani, descreveu sua experiência no Kosovo, região ao sul da antiga Iugoslávia que, em 1999, enfrentou uma guerra que resultou em centenas de mortos. Veja abaixo, a íntegra do seu depoimento.
“Cheguei imediatamente após o conflito, um conflito com componentes étnicos onde o ódio, a incompreensão e a intolerância eram vigentes. Fui para ajudar em um programa de educação e direitos humanos. Assim que desembarquei vi cerca de 70% dos edifícios destruídos. Fazia 25ºC negativos e havia 90 mil estudantes fora da escola. Eram muitas as dificuldades, mas assim mesmo a educação era vista como força de paz. Nosso projeto, Educação para a Democracia e os Direitos Humanos, tinha como um de seus objetivos construir uma nova geração que pudesse conviver em uma sociedade pluralista, tolerante e democrática. Para isso, foi necessário introduzir elementos que o conflito tinha se encarregado de destruir, como a resolução pacífica de conflitos e a convivência de diferentes etnias nos mesmos centros educativos. Posso dizer que professores, alunos e famílias foram transformados e sofreram um impacto positivo, trazendo bons resultados.”
Fonte: Portal Aprendiz - 04/07/2011
prómenino
Ao todo, 42% das crianças que estão fora da escola no mundo vivem em países afetados por conflitos, segundo o documento. Isso equivale a 28 milhões de estudantes afastados da educação por causa da violência. “As dificuldades que eles enfrentam vão desde o impedimento de chegar à escola, passando pela falta de professores, salas de aula, até os traumas psicológicos deixados pela violência”, aponta o diretor da UNESCO.
O documento, produzido pela equipe do Relatório de Monitoramento Global de Educação Para Todos (EPT), aponta que apenas 2% dos recursos destinados à reconstrução de países afetados pela violência são aplicados em educação. Distante das prioridades no cessar-fogo, o setor ainda sofre com os desvios de dinheiro para gastos militares.
“Seriam necessários apenas seis dias de gastos militares dos países doadores para preencher o déficit de 16 bilhões de dólares no financiamento da iniciativa de Educação para Todos”, afirma o texto. A Unesco sugere a criação de um fundo específico para educação, onde haja contribuição direta dos doadores e onde se consiga elevar os investimentos na área.
O relatório adverte ainda que a falta de medidas rápidas e contínuas na educação, imediatamente após o conflito, pode dificultar a consolidação da paz, especialmente se ainda estiverem vigentes mecanismos de exclusão, intolerância e injustiça.
Segundo Fontani, “os conflitos geram um impacto grande no tecido social, por isso é preciso uma estratégia diferenciada, uma educação que envolva toda a comunidade, que privilegie a formação de professores, forneça materiais adequados e desenvolva metodologias participativas. Enfim, é necessário construir um processo de paz no interior de cada escola”.
Ele avalia que o medo e a insegurança também são fatores que impedem milhares de alunos de continuarem os estudos. Exemplos não faltam: no Afeganistão, no início de 2010, mais de 450 escolas estavam fechadas por falta de segurança. Em Mogadiscio, capital da Somália, 60 escolas foram fechadas em 2009 e pelo menos 10 foram ocupadas por forças militares.
No Iraque, os anos de violência ocasionados pela Guerra do Golfo (1990-1991) e agravados pela invasão das tropas aliadas em 2003, foram responsáveis por destruir grande parte da infra-estrutura escolar, além de terem forçado centenas de professores e alunos a abandonarem o país. Em Gaza, nos territórios autônomos palestinos, os ataques militares israelenses em 2008 e 2009 deixaram 350 crianças mortas, 1.815 feridos e 280 escolas danificadas, de acordo com o documento.
Tomados como alvos legítimos das forças militares envolvidas nos conflitos contemporâneos, alunos, escolas e professores acabam sendo vítimas de ataques, seqüestros e prisões, caracterizando a violência como o maior obstáculo a ser superado neste século para o avanço da educação, conclui o relatório.
Depoimento
Durante a entrevista o diretor da UNESCO, Paolo Fontani, descreveu sua experiência no Kosovo, região ao sul da antiga Iugoslávia que, em 1999, enfrentou uma guerra que resultou em centenas de mortos. Veja abaixo, a íntegra do seu depoimento.
“Cheguei imediatamente após o conflito, um conflito com componentes étnicos onde o ódio, a incompreensão e a intolerância eram vigentes. Fui para ajudar em um programa de educação e direitos humanos. Assim que desembarquei vi cerca de 70% dos edifícios destruídos. Fazia 25ºC negativos e havia 90 mil estudantes fora da escola. Eram muitas as dificuldades, mas assim mesmo a educação era vista como força de paz. Nosso projeto, Educação para a Democracia e os Direitos Humanos, tinha como um de seus objetivos construir uma nova geração que pudesse conviver em uma sociedade pluralista, tolerante e democrática. Para isso, foi necessário introduzir elementos que o conflito tinha se encarregado de destruir, como a resolução pacífica de conflitos e a convivência de diferentes etnias nos mesmos centros educativos. Posso dizer que professores, alunos e famílias foram transformados e sofreram um impacto positivo, trazendo bons resultados.”
Fonte: Portal Aprendiz - 04/07/2011
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