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sábado, 29 de junho de 2013
Como os chimpanzés lidam com a morte
Evidências indicam que esses animais apresentam comportamentos muito parecidos com os humanos em relação à perda de parentes e companheiros
Os Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira a decisão de aposentar 310 chimpanzés que eram utilizados em estudos científicos. Os animais serão levados para santuários ao longo dos próximos meses, restando apenas 50 chimpanzés para uso em pesquisas, que não poderão se reproduzir.
A decisão envolve questões éticas, como todo o caso de uso de animais em pesquisas, que são exacerbadas pela grande proximidade existente entre humanos e chimpanzés. Os estudos mais recentes mostram que as espécies têm mais de 98% do DNA em comum.
A carga genética em comum se manifesta de diversas formas: algumas características anatômicas, o hábito de viver em sociedade, capacidade de usar ferramentas, de aprender com seus companheiros, entre outros fatores. Uma dessas semelhanças, que ainda está em debate na comunidade científica, pode reforçar os argumentos contra o uso desses animais em pesquisas científicas: estudos indicam que chimpanzés têm consciência da morte. O assunto ganhou destaque em 2010, quando pesquisadores da Universidade de Stirling publicaram um artigo em que descrevem a morte da chimpanzé Pansy, em 2008.
Conforto de familiares — Pansy tinha mais de 50 anos, idade avançada para um chimpanzé. Quando começou a sentir dificuldades para respirar e deitou-se, estavam ao seu lado sua filha Rosie, já adulta, e sua melhor amiga, Blossom. Pansy e Blossom haviam chegado juntas ao parque zoológico em que viviam (o Blair Drummond Safari and Adventure Park, na Escócia) trinta anos antes, e criado seus filhos juntas. Blossom ficou ao lado da amiga e segurou sua mão em seus momentos finais.
Quando os pesquisadores do zoológico perceberam o que estava para acontecer, ligaram câmeras no local e decidiram não interferir. As imagens obtidas mostram os outros chimpanzés ao lado de Pansy, acariciando-a e segurando sua mão. Após sua morte, seus companheiros chacoalharam seus braços e se aproximaram do rosto dela. Abriram sua boca e a inspecionaram, como se quisessem se certificar de que ela estava morta.
Alguns minutos depois, Chippy, filho de Blossom, que havia se aproximado do grupo, atinge o peito de Pansy com as duas mãos em punho. Aos poucos eles se afastam, com exceção de Rosie, que continua ao lado da mãe por algumas horas. Os três chimpanzés têm uma noite inquieta, trocando de posição com muito mais frequência do que o normal. Na semana seguinte todos estavam mais silenciosos, comeram pouco e se recusaram a se aproximar do local onde Pansy havia morrido, que os cuidadores já haviam limpado.
O caso de Pansy foi uma das poucas mortes naturais de chimpanzés observada por pesquisadores e contou com particularidades que permitiram seu estudo, como a colocação de câmeras no local e a decisão de não remover imediatamente o corpo de Pansy. O relato do ocorrido, escrito pelos pesquisadores, foi publicado no periódico Current Biology
Perda dos filhos – A mesma edição do periódico, de abril de 2010, trouxe outro artigo sobre o assunto. A pesquisadora Dora Biro, da Universidade de Oxford, e sua equipe observaram a morte de cinco chipanzés de um grupo das florestas de Bossou, Guiné. Entre os animais, mortos por uma doença respiratória, estavam dois filhotes – Jimato, com um ano de vida, e Veve, com dois. As mães carregaram os corpos de seus filhos por semanas após sua morte (por 68 e 19 dias, respectivamente). Elas espantavam os insetos de perto deles, os acariciavam e até permitiam que outros filhotes "brincassem" com eles.
Analisando as imagens descritas, muitos pesquisadores apontam paralelos com atitudes humanas – como o velório e o luto, no caso de Pansy. As evidências, porém, não são suficientes para que se possa afirmar o que ocorre de fato com esses animais. A particularidade da situação, que não pode ser reproduzida de forma controlada e testada cientificamente, dificulta conclusões sobre o assunto.
Especulações — Hipóteses não faltam. Quando escreveram o artigo sobre Pansy, os autores sugeriram que o ataque de Chippy ao corpo poderia tanto significar uma tentativa de ressuscitá-la como a frustração em decorrência da perda. Sobre os chimpanzés de Bossou, os autores do estudo afirmam que não se pode ter certeza de que as mães soubessem que os filhos estavam mortos, pois continuaram cuidando deles durante algum tempo como se estivessem vivos. Para outros cientistas, a hipótese mais provável é a de que aquelas mães precisavam de um período de contato maior para aceitar a perda dos filhos.
Cada vez mais a ciência encontra semelhanças entre os humanos e seus parentes próximos, os chimpanzés. Além da proximidade genética, estudos mostram que eles são capazes de aprender códigos, têm senso de justiça, fazem guerras, têm consciência de si e transmitem conhecimentos, formando aquilo que chamamos de cultura, que pode inclusive variar de um grupo de chimpanzés para outro.
Apesar das poucas evidências registradas até hoje, a suspeita de que chimpanzés e seres humanos reagem de modo parecido à morte apoia a decisão tomada pelo governo americano de reduzir a quantidade de cobaias. De qualquer forma, os estudos ajudam a explicar as origens evolutivas do luto.
Trauma e depressão
Em 2010, Martin Brüne, professor de psiquiatria da Universidade Ruhr de Bocum, na Alemanha, foi convidado por uma fundação holandesa para tratar chimpanzés que sofriam distúrbios psiquiátricos após terem sido abandonados por laboratórios onde serviam de cobaias para pesquisas científicas. Separados muito cedo da mãe, infectados com doenças, e isolados de qualquer contato com outros animais, esses chimpanzés apresentam problemas de relacionamento e comportamentos anormais, como automutilação, movimentos repetitivos e regurgitação – sintomas que podem ser comparados aos vistos entre humanos que sofrem de depressão, ansiedade e síndrome do stress pós-traumático. Cinco animais participaram de um tratamento experimental com antidepressivos, e apresentaram melhoras consideráveis.
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