segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Pesquisa revela o perfil e o que pensam os caminhoneiros no Brasil sobre exploração sexual nas estradas

Dia Mundial do Turismo, uma comemoração que abre canais para a exploração sexual. Mas neste dia, preferimos olhar para casos que muitas vezes passam despercebidos, naturalizados na paisagem. As estradas que nos levam a vários cantos do Brasil são espaços para uma exploração cruel de crianças e adolescentes.As estradas brasileiras possuem atualmente 1.776 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes, por onde passam mais de um milhão de caminhoneiros. A mercantilização do corpo de crianças e adolescentes nas rodovias é alvo de pesquisas que buscam traçar o perfil e os motivos que levam meninos e meninas a venderem seus corpos nos acostamentos. Mas uma pesquisa de 2010 procurou entender a visão dos caminhoneiros, ou seja, quem mais “demanda” o sexo e exploração sexual infantil nas rodovias. Esse foi o objetivo da pesquisa “O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro”, de 2010, realizada pela campanha Na Mão Certa, da Childhood Brasil.

Em entrevista ao Promenino, professor da Universidade Federal de Sergipe e coordenador do estudo, Elder Cerqueira, diz que há dois pontos a serem destacados: “um é que os caminhoneiros enxergam o sexo de forma instintiva e banalizada, eles se envolvem nessas situações com a consciência de utilizar um serviço como qualquer outro. De forma geral, não há nenhum perfil de pedófilo ou abusador, é muito mais uma questão de pura satisfação sexual”.

Outro ponto é o como os caminhoneiros veem o vínculo estabelecido com as vítimas de exploração sexual, tendo o machismo como uma representação bem clara dentro da exploração e do sexo comercial na visão dos motoristas. “Eles se justificam para se impor em questões de gênero, em como o homem entende o que é sexo e a sexualidade, e em como ele julga o sexo da mulher”, aponta o coordenador. “Eles criam uma categoria diferente para essas crianças de estrada. O significado de criança e adolescente desses homens é biológico, ou seja, para o censo comum, uma menina não ser mais virgem significa que ela é mulher. Então eles usam o comportamento sexual delas para colocá-las em outra categoria que não a mesma de suas filhas, sobrinhas e netas”.

Segundo Cerqueira, as garotas buscam o interesse financeiro imediato, sejapara usar drogas ou bens materiais, alimentando o consumismo e mudando o perfil de serem exploradas apenas pela miséria e necessidade financeira. “Os caminhoneiros enxergam essa situação como prostituição, as garotas usam perfume e tem celular próprio, muitas vezes não é somente pela necessidade financeira”, explica. Ainda assim, está claro que um maior número de crianças são exploradas em regiões mais pobres. “É muito importante essa análise da mercantilização do corpo, do mundo do consumo, tanto do lado do homem, como cliente, como do lado delas”.


A necessidade financeira da criança ou da família continuou sendo o principal motivo (79,4%) para jovens com menos de 18 anos se envolverem em situação análoga à prostituição, na opinião dos entrevistados. Também foram citados falta de educação (43,4%), exploração/coerção de alguém (34,1%), existência de mercado fácil (23,7%), prazer (19,5%), existência de adultos que gostam/procuram (13,5%) e falta de opção do que fazer (12%). De acordo com os caminhoneiros, a média do valor do programa com crianças e adolescentes foi de R$ 25,05, acima do valor apontado em 2005, que foi de R$ 17,26.

“Atualmente há uma noção maior do que é criança e adolescente e maioridade. Mas em relação a direitos eles conhecem superficialmente, já ouviram falar sobre ECA, Conselho Tutelar e Disque 100, porém o número de denúncias ainda é baixo”, explica Cerqueira.

Em comparação com os dados apurados em 2005, os entrevistados se mostraram mais familiarizados com as leis e os serviços de proteção às crianças e adolescentes. A maioria disse conhecer o Conselho Tutelar (91,6%), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (76%), o Juizado de Menores (76,6%), a campanha Na Mão Certa contra a exploração de crianças e adolescentes no Brasil (61,7%) e o Disque-denúncia (56,2%). A pesquisa de 2010 mostrou ainda que 37,7% conhecem a Delegacia da Criança e do Adolescente e 9,2% conhecem o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS).

Além disso, as estradas e rodovias são vulneráveis, desde questões jurídicas e legais que emperram atuação e fiscalização a problemas relacionados à distância dos órgãos de proteção. “Até a denúncia chegar ao órgão e a fiscalização ir ao local, muita coisa pode ter acontecido. Há vilarejos em que o conselho tutelar fica a mais de 100 quilômetro de distância. São lugares de passagem e alta circulação de pessoas, o fato de um homem cometer um crime dessa forma e logo em seguida estar em outro estado facilita”.



promenino

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