Após receber tratamento, Érica Toledo superou a depressão e nunca mais pensou em suicídio
Crédito: Arquivo Pessoal
Últimos dados do Ministério da Saúde mostram que, a cada 45 minutos, uma pessoa se mata no país. No entanto, estudos da Organização Mundial de Saúde indicam que 90% dos suicídios poderiam ser evitados, se essas pessoas tivessem mais acesso a tratamentos.
Por Athos Moura
Em 2010, durante uma depressão profunda, a professora mineira Érica Toledo, de 39 anos, chegou a planejar o suicídio duas vezes. O casamento dela havia acabado e seu pai foi diagnosticado com Alzheimer. Hoje, Érica consegue falar sobre seus problemas, mas só depois de ter buscado tratamento.
"Foi a primeira vez que eu falei sobre isso. Eu não tinha com quem falar. Suicídio é um tabu na sociedade. Você não tem a menor abertura pra dizer isso, como você vai falar isso com alguém? Foi a primeira vez que falei sobre isso e a pessoa me ouviu sem preconceito. Aquilo foi libertador, foi catártico, sublimei tudo que tinha de negativo das minhas experiências de vida. Era possível seguir adiante. Nunca mais pensei nisso. Claro que tenho momentos de tristeza, mas me libertei de muita coisa", contou a professora.
Falar sobre suicídio é um tabu que precisa ser quebrado. É o que defendem especialistas e pessoas que já cogitaram se matar. O dia dez de setembro é o dia mundial de prevenção ao suicídio e, baseado nele, foi criada a campanha Setembro Amarelo, para alertar para o problema. Segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, o Sistema de Informação de Mortalidade registrou 10.653 mortes por suicídio em 2014. É o mesmo que dizer que, a cada 45 minutos, uma pessoa se matou no país.
Mas esse dado podia ser menor. Um estudo da Organização Mundial de Saúde diz que, por ano, oitocentas mil pessoas se matam no mundo, mas 90% dessas vidas poderiam ser preservadas, caso recebessem tratamento adequado.
Ainda de acordo com a OMS, 36% dessas pessoas possuem problemas relacionados a transtornos afetivos, que são doenças como bipolaridade e depressão; 23% são dependentes químicos; e 10% possuem outros transtornos como ansiedade e esquizofrenia. O restante sofre de outras doenças.
O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Geraldo da Silva, explica que é preciso ficar atento aos sinais de que a pessoa não está bem e ressalta que o tratamento é essencial para prevenir o suicídio.
"A gente acha que o mais importante é fazer a intervenção precoce. Mostrar para essas pessoas que nós temos inúmeros casos de sucesso de bom tratamento que fez a pessoa perder para sempre a ideia de suicídio. Não se tem ideia de suicídio sem se ter uma doença psiquiátrica. Portanto, se a pessoa tem acesso ao tratamento, ela vai perder a ideia de suicídio e vai perder a possibilidade de cometer suicídio", disse o psiquiatra.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio, Robert Paris, é um dos organizadores do Simpósio Internacional de Valorização da Vida, que acontece sempre em setembro, no Brasil, mas atrai pessoas de todo o mundo. Ele explica que o objetivo do encontro é criar redes regionais ou nacionais de prevenção, para auxiliar pessoas que estejam pensando em se matar.
"O que acontece nesse simpósio é uma troca de ideia, uma abertura de horizonte, para que a gente ache os caminhos para a prevenção de suicídio. Cada um dá a sua contribuição. O maior objetivo são formações de redes nacionais ou regionais de ações que possam efetivamente aumentar o apoio de quem procura ou deixar mais informações e lugares disponíveis para que se procure ajuda", alegou Robert.
Para os pesquisadores que participam do simpósio, um exemplo de mobilização da sociedade civil para a prevenção do suicídio é o Centro de Valorização da Vida, que desde 1962 atende pessoas em situação vulnerável. A sede fica em São Paulo, mas há outros 72 espaços de atendimento gratuito espalhados pelo Brasil, com dois mil voluntários.
A empresária Patrícia Fanteza é voluntária no Rio de Janeiro há 16 anos. Segundo ela, muitas pessoas apenas precisam ser ouvidas.
"A gente percebe que em geral as pessoas querem ser ouvidas. Elas querem poder falar de verdade aquilo que estão sentido sem esse medo e receio. Ou então às vezes até mesmo, a gente percebe uma tendência, mesmo que sem querer, das pessoas minimizarem um pouco. E quando elas encontram um espaço neutro, em geral, é como se ela tirasse um peso, como se aliviasse essa pressão", contou a voluntária.
O Centro de Valorização da Vida faz atendimento por telefone e em redes sociais. No âmbito do governo federal, o Ministério da Saúde informou que existem 2.328 Centros de Atendimento Psicossocial pelo país, onde o paciente recebe atendimento próximo da família, assistência médica especializada e cuidado terapêutico.
Fonte: CBN
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