segunda-feira, 30 de abril de 2012

Família brasileira pode entrar com nova ação nos EUA para ver Sean


Sean Goldman falou à TV americana NBC pela 1ª vez desde início do caso.
Psicanalista contratado pela família brasileira do menino analisou entrevista.


A família brasileira de Sean Goldman, de 11 anos, pode entrar com uma nova ação na Justiça Federal dos Estados Unidos para que possa visitar o menino. A informação foi dada pelo advogado da família, Carlos Nicodemos.

"A medida será tomada caso não se consiga obter a visitação da avó materna ao menino pelas autoridades", afirmou Nicodemos, em coletiva realizada na tarde desta segunda-feira (30). Também participaram da entrevista outro advogado, Frans Nerdestig, e o psicanalista Luiz Alberto Py, contratado pela família para analisar a entrevista de Sean à rede NBC, reproduzida com exclusividade no domingo (29), pelo Fantástico.

Segundo documento apresentado pelos advogados, a Autoridade Central americana informou que não atuará mais no caso, alegando que já existe uma ação nesse sentido na comarca do estado americano de New Jersey e porque a Convenção de Haia não prevê pedidos de visita por avós. Os dois argumentos são contestados pelos advogados.

"Não há nenhuma pretensão de reversão da guarda que foi alcançada pelo pai, David Goldman, no Supremo Tribunal Federal. A família reclama, nesses dois anos e quatro meses (desde que Sean voltou para os Estados Unidos), o direito de visita, não só da avó, Silvana Bianchi, como dos tios, da irmã", afirmou Nicodemos.

O advogado criticou bastante as autoridades brasileiras e americanas na condução do caso. "Para nós, tudo isso contraria o princípio da reciprocidade, considerando todos os esforços feitos pelo Brasil na saída de Sean daqui. O que nos chama a atenção não é só a negativa das autoridades americanas, mas o silêncio das autoridades brasileiras. Onde fica a autoridade do Ministério das Relações Exteriores e do Itamaraty? Isso coloca o Brasil em condições de subserviência em relação aos Estados Unidos. Gostaríamos de saber o motivo que leva ao silêncio do Itamaraty e das autoridades brasileiras", declarou o advogado.

O G1 procurou o Itamaraty, mas até agora não obteve retorno.

Psicanalista diz que Sean é forte
O psicanalista Luiz Alberto Py, contratado pela família brasileira para analisar a entrevista à TV americana, afirmou que o menino estava "tenso e desconfortável". "Causou dor olhar a entrevista e ver o menino submetido a isso. De certa forma eu vejo com otimismo como ele consegue driblar esse desconforto. É um sobrevivente, com a personalidade muito forte, felizmente", afirmou o psicanalista.

"Essas pessoas fortes tendem a se sentir amadas. Sean deve pensar: 'Poxa, me amam tanto que até brigam por mim'", avaliou Py, acrescentando que considerou a entrevista "invasiva" e "desnecessária".

Segundo o psicanalista, a exposição pode causar um dano ao menino, mas "isso só pode ser avaliado por um terapeuta".

Py destacou o olhar parado de Sean e algumas respostas monossilábicas como sintomas de sua tensão. Para o psicanalista, o menino estava confuso e evitou todo o tempo o confronto. Apesar disso, acha que Sean foi espontâneo em algumas respostas. Py não soube avaliar se o garoto foi obrigado a dar a entrevista: "Não sei se foi, seria especulativo, mas ele enfrenta. 'Chegou a hora de dar a entrevista, eu dou'. E o pai tem um lado positivo, e ele vai atrás desse lado bom do pai", afirmou.

Embora considere que há riscos de que essa exposição na mídia provoque danos ao menino, Py disse que o mais importante é sua capacidade de sobreviver aos traumas: "Ele tem uma robustez para enfrentar as dificuldades", avaliou o psicanalista.

Avó brasileira considera 'crueldade'
A avó materna de Sean, Silvana Bianchi, disse ao G1 na quinta (26) que considera a entrevista "uma crueldade". "Não cheguei a ver e nem quero ver. Fiquei sabendo da reportagem por jornalistas, que me relataram alguns trechos do que o Sean teria dito na entrevista. Eu me reservo ao direito de não assistir porque eu acho isso uma crueldade. Eu acho que é uma exposição", afirmou Silvana.

Silvana reclamou ainda da falta de contato com o menino. "Há um ano e meio que eu não tenho uma palavra do meu neto, nenhuma palavra, nem e-mail nem telefonema. O menino está totalmente bloqueado junto ao pai. Se ele já tem tudo isso que ele mais desejava na vida, por que continua essa exposição dessa criança na imprensa? Eu acho isso uma crueldade, por isso que eu não quero ver", disse.

A entrevista
Durante a entrevista exibida na sexta-feira (27), Sean Goldman disse que, quando sua mãe se casou novamente, ela falou para ele que o advogado João Paulo Lins e Silva era seu pai. É a primeira vez que ele fala desde o início do caso.

"Minha mãe casou com outra pessoa e me falou: Este é seu pai", afirmou. Questionado se ele simplesmente aceitou aquilo, ele respondeu: "Sim, porque eu não queria deixar ninguém bravo."

Sean aparece falando em sua primeira entrevista desde o polêmico caso
"Do que eu me lembro, eu estava confuso. O que está acontecendo, onde está meu pai?", conta. O menino afirma que não questionava a família sobre o paradeiro do pai. "Isso só me deixaria triste de novo. Eles provavelmente diriam: eu não sei. (...) Sim, talvez fosse um pouco de medo [da resposta que receberia]", disse.

Sean contou que aprendeu a se fechar contra o que sentia. "Eu não queria ser diferente, então eu meio que espantava os sentimentos e tentava viver com a situação."

Quando perguntado se ele sabia das idas de seu pai ao Brasil para tentar vê-lo, Sean negou. "Não, eu não tinha nenhuma ideia". Segundo ele, os familiares brasileiros não o informavam sobre aquilo.

Sean elogia o pai
Quando a apresentadora pede que ele compare o período de cinco anos no Brasil e os últimos dois anos, desde que chegou aos EUA, Sean elogia o pai.

"Os últimos dois anos foram um pouco [mais fáceis], porque meu pai tem ajudado muito, mas os cinco anos [no Brasil] não foram muito fáceis. (...) Agora, eu tenho um guia, meu pai. Não sei como explicar, temos esse elo. Por isso aqui é mais fácil, porque eu tenho um pai."

Sean disse se lembrar de quando, em dezembro de 2009, foi levado do Rio de Janeiro de volta a Tinton Falls, Nova Jersey, onde hoje mora.

"Lembro de ser arrastado por ruas cheias de cinegrafistas. Muitas pessoas empurrando", disse. "E ouvir muita gritaria e gente chamando meu nome. Eu só queria escapar de todos."

"Eu lembro de ter ido ao avião, e meu pai estava olhando e acenando. Eu disse para ele se apressar porque eu queria entrar no avião e voltar para os EUA."

Visita da avó
O pai de Sean, David Goldman, também foi ouvido na reportagem. Ele falou sobre sua ex-sogra, Silvana Bianchi, que segue com um processo na Justiça americana apelando pelo direito de visitar o neto.

"Quem disse que eu não permito que ela o veja? Ela pode vir e vê-lo quando ela quiser, levando em conta algumas condições que eu seria um idiota se não impusesse. Porque se fosse por ela, eu nunca mais veria meu filho e ele ainda estaria no Brasil. Ela precisa parar com os processos e então vir para a terapia, com o terapeuta do Sean, conversar e ouvir o aconselhamento sobre como ela deve agir", afirmou Goldman.

Ele afirmaou que, se o filho demonstrasse vontade de rever a avó, ele daria apoio, mas que isso não acontece. "Várias vezes, nos feriados, eu dizia 'Vamos ligar? Nós deveríamos ligar', mas ele não queria. E eu não sei até onde devo insistir", diz Goldman. Mas afirma que, caso o menino quisesse o encontro, ele seria nos Estados Unidos.

Sean cogitou visitar os parentes brasileiros, mas no futuro. "Quero estar mais velho antes de voltar ou algo assim. (...) Porque eu provavelmente vou conseguir lidar com mais coisas, com mais sentimentos. (...) Eu ainda tenho 11 anos. Talvez aos 16 ou 18 eu possa tentar."

Disputa judicial
A disputa judicial pela guarda do garoto começou depois da morte da mãe de Sean, Bruna Bianchi, em 2008.

Antes da decisão da Justiça brasileira autorizando a permanência do garoto com o pai biológico, Sean morava no Brasil havia quase 5 anos, após ter sido trazido dos Estados Unidos pela mãe.

Já no Brasil, Bruna Bianchi se separou de David e se casou com o advogado João Paulo Lins e Silva.

Em 2008, após a morte de Bruna, o padrasto ficou com a guarda provisória da criança.

David Goldman, no entanto, entrou na Justiça e pediu o retorno da criança aos Estados Unidos.

O presidente dos EUA, Barack Obama, e a secretária de Estado, Hillary Clinton, pressionaram pela entrega de Sean.

Pai, padrasto e avós maternos da criança travaram uma batalha jurídica pela guarda do menino.

O caso começou na Justiça estadual do Rio e depois passou para a jurisdição federal.

Goldman argumentou que o Brasil violava uma convenção internacional ao negar seu direito à guarda do filho.

Já a família brasileira do garoto dizia que, por “razões socioafetivas”, o que inclui a convivência com sua meia-irmã, Chiara, ele deveria permanecer no país, ao qual já estava adaptado.

A Justiça brasileira, no entanto, ordenou a entrega do menino ao pai biológico.

A avó de Sean ainda recorre, no Supremo Tribunal Federal, da decisão judicial que o mandou morar com o pai nos Estados Unidos.

O plenário do tribunal deve analisar o caso, em data ainda não definida.

G1

Um comentário:

  1. Já deu para entender o que ela quer:criar um problema internacional.
    Abre o olho gente e vejam o que fizeram e estão fazendo com essa criança desde o sequestro nos USA.
    E ela não sossega, quer continuar armando 'barraco', quer continuar tentando colocar os políticos no caso.
    O menino está bem e lembra de tudo de quando morava com o pai.
    Qual filho gosta de ser afastado do pai ou da mãe por mentiras cruéis?
    BASTA!!!!!!

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