quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Fornecedor do JBS nega culpa em escândalo


Empresa alemã Schypke, fornecedora do JBS na Europa, afirma ter comprado de outras empresas a carne de cavalo fornecida à suíça Nestlé

GENEBRA - O escândalo envolvendo a venda de carne de cavalo pela empresa brasileira JBS à Nestlé vira um "jogo de empurra". A fornecedora alemã do JBS, apontada como culpada pela fraude, rejeita a responsabilidade, garantindo que jamais forneceu ou comprou carne de cavalo. Na segunda-feira, 18, a multinacional suíça foi obrigada retirar de circulação produtos de seis países europeus.

Há dois dias, a polêmica envolvendo a fraude no comércio de carnes na Europa chegou até a Nestlé, a maior empresa de alimentos do mundo. A companhia disse que havia comprado carne adulterada do JBS. No lugar de carne bovina, o que estava em seus pratos era carne de cavalo. A companhia brasileira e a Nestlé alegaram que a culpa era do fornecedor alemão – a H.J. Schypke, que havia vendido o produto ao JBS.

Hoje, foi a vez de os alemães rejeitarem qualquer responsabilidade, insistindo que compram seus produtos de "fornecedores certificados". A Schypke admitiu que não era ela quem produzia a carne. Mas garante que jamais comprou carne de cavalo dos abatedouros da região.

A empresa, que se recusou a falar com o Estado, foi alvo de um mandado de busca pela Justiça alemã na segunda-feira. A procuradora Frauke Wilken indicou que havia "suspeita de fraude" nas atividades. Em comunicado, a Schypke insiste que jamais comprou carne de cavalo.

Na Alemanha, a crise ganha contornos políticos e policiais, incluindo até mesmo apelos para o envolvimento da Interpol nas investigações. O governo vem ampliando os testes e controles, fazendo exames até em cantinas de escolas. Segundo o resultado de uma primeira investigação, realizada ontem, 24 de 360 amostras de carnes avaliadas eram, na realidade, de cavalo, e não de vaca.

Um dos obstáculos nas investigações seria a falta de capacidade nos laboratórios para examinar todas as amostras. A ministra Ilse Aigner apelou ontem a que todos os atores na cadeia de produção "assumam suas responsabilidades".

Drible

No caso da empresa brasileira, um dos motivos da compra de um fornecedor alemão seria para fugir dos impostos de importação na Europa e conseguir fornecer à Nestlé produtos com um preço mais baixo.

Na segunda-feira, a Nestlé anunciou que estava retirando seus produtos das prateleiras da Espanha, Itália e França. Produtos como ravióli e tortellini, vendidos como de carne bovina, continham, na realidade, carne de cavalo. Após a divulgação do caso, a empresa se viu obrigada a suspender a distribuição de lasanha de carne para Portugal, Luxemburgo e Bélgica.

Em todos esses casos, o fornecedor da multinacional suíça era a JBS Toledo, empresa resultado da compra da belga Toledo em 2010 pelo grupo brasileira. "Suspendemos o fornecimento de todos nossos produtos fabricados que usam carne fornecida pela H.J. Shypke, subcontratada da JBS Toledo", informou a Nestlé.

Segundo o escritório da empresa brasileira JBS na Bélgica, boa parte do fornecimento de carne para a Nestlé vem mesmo de importações que chegam do Brasil. Mas fontes confirmaram ao Estado que, para driblar barreiras comerciais implementadas pelos europeus contra a carne nacional, o JBS passou a comprar de fornecedores europeus.

Assim, não paga os impostos de importação, que podem chegar a 20%, e ganha competitividade no território europeu. Em Bruxelas, a Comissão Europeia insiste que as tarifas comerciais servem justamente para garantir o controle de qualidade. Mas a Comissão admite que o caso revela a necessidade de que companhias aumentem seus testes de controle.

Estadão

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