quarta-feira, 21 de agosto de 2013

MSF vai intensificar esforços para encontrar as pessoas em meio à mata para oferecer ajuda

20 de agosto de 2013 - O medo e as inundações estão impedindo as pessoas de buscarem assistência na província de Pibor, no estado de Jonglei, no Sudão do Sul. Cerca de 90 mil pessoas ainda estão desaparecidas, escondidas na mata, com medo. Cerca de 28 mil pessoas foram localizadas, mas poucas delas estão recebendo os cuidados que precisam.

Em maio, o conflito entre o exército do Sudão do Sul (SPLA) e a milícia David Yau Yau se intensificou e forçou praticamente toda a população da província de Pibor a fugir para a mata. Em julho, mais violência entre o grupo étnico Luo Nuer e o Murle, predominante na região, causou uma nova onda de pânico. Cerca de 28 mil pessoas foram localizadas pelas autoridades locais no vilarejo de Gumuruk e redondezas, onde MSF mantém um centro de saúde. Mas, apesar de este ser um dos poucos locais acessíveis em meio à região pantanosa e insegura, a assistência para essas pessoas chega de forma lenta e seu registro, feito por agências das Nações Unidas, teve início apenas nos últimos dias.

A clínica de MSF em Gumuruk é pequena, mas muito movimentada, realizando de 90 a 100 consultas por dia para pessoas que estão sofrendo com doenças que são consequência direta da permanência na mata por semanas ou meses em meio à estação chuvosa: pneumonia e outras doenças respiratórias, malária, diarreia e, atualmente, crianças desnutridas.

Mas dois aspectos importantes continuam a preocupar a equipe de MSF: “As pessoas vem ao vilarejo e esperam o dia todo para receber alimento”, conta Carolina Lopez, coordenadora de emergência de MSF na província de Pibor. “A maioria perdeu suas cabeças de gado no confronto recente, e a estação de plantio deste ano foi marcada por violência. Por isso, eles estão extremamente vulneráveis. Muitos deles voltam para os abrigos temporários à noite, com suas sacolas vazias.” Outra preocupação é que a equipe cirúrgica enviada a Gumuruk não tem atendido casos de homens feridos nos confrontos, apesar da brutalidade dos embates em julho. “Tratamos quase 20 crianças e mulheres com feridas gravemente infectadas, mas apenas um homem com um ferimento à bala chegou até nós para ser operado”, conta Martial Ledecq, cirurgião de MSF em Gumuruk. “Os últimos grandes confrontos de que tivemos ciência na mata aconteceram há cerca de um mês. É improvável que aqueles que tenham se ferido gravemente tenham sobrevivido todo esse tempo.”

Com base nos pacientes que vieram até a clínica, parece que alguns têm medo de buscar assistência em locais onde há presença militar. “Meu marido não se arrisca a entrar no vilarejo porque tem medo de ser assassinado”, conta uma mulher que foi se tratar na clínica e diz que seu marido também está doente. “Se corrermos para a cidade, os soldados podem nos matar, e se corrermos para dentro da mata, uma tribo inimiga pode nos matar.”

“Há muitas outras pessoas na mata que estão doentes”, diz um homem, carregando sua filha para a clínica com um ferimento à bala gravemente infectado em seu ombro. Em seu estado frágil, e com as chuvas agravando a inundação, uma caminhada de duas horas levou dois dias. “Se eles não puderem chegar rapidamente à clínica, morrerão”, ressalta o homem.

À medida que as chuvas se intensificam e as condições de vida tornam-se ainda mais precárias, a situação na província de Pibor permanece crítica. Apesar dos desafios logísticos de se locomover em meio ao vasto pântano, MSF vai intensificar esforços para localizar as 90 mil pessoas que ainda estão desaparecidas para avaliar sua condição e responder às demandas mais urgentes.

Enquanto isso, é possível levar ajuda à aproximadamente 28 mil pessoas nos arredores de Gumuruk, e todas as organizações humanitárias ativas no estado de Jonglei devem intensificar esforços para fazê-lo.


Nota: a estimativa mais utilizada da população da província de Pibor é de 148 mil pessoas. Cerca de 30 mil estão em países vizinhos ou deslocaram-se para Juba. As autoridades da região de Gumuruk localizaram 28 mil pessoas, o que significa que 90 mil estão em movimento pela província, em busca de algum lugar seguro, ou estão simplesmente desaparecidas.

Médicos Sem Fronteiras

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