sexta-feira, 15 de abril de 2016

Comunidade quilombola no Rio acusa milicianos de atentado a bomba


Artefato teria sido lançado na porta de morador em área de parque.
Caso foi encaminhado à Draco; 100 pessoas moram no quilombo.


O silêncio na área da comunidade remanescente do Quilombo do Camorim, localizado dentro do Parque do Maciço da Pedra Branca, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, foi quebrado de forma abrupta por volta das 19h30 da última sexta-feira (8). Conforme relatos dos quilombolas, uma bomba de fabricação caseira foi lançada e explodiu na frente da porta de um dos moradores. A vítima acredita em ataque de um grupo de milicianos, após ele ter 'batido de frente' com os criminosos.

O caso, denunciado à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), foi encaminhado à Delegacia de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) nesta quinta-feira (14). Até a publicação desta reportagem, a delegacia não havia informado se será instaurado um inquérito.

"A vítima e sua família serão acompanhadas pela Comissão. O caso é muito grave", disse a coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, Mariele Franco.

Um homem, que não quer se identificar, diz ter sido o alvo do atentado e afirma que já esperava a ação. "Essa é a segunda vez que me ameaçam. Não concordo com as ações deles, cobrar por segurança, gás. Só que desta vez foi pior", afirmou.

Pedaços de plástico e parafusos se espalharam pelo quintal, e uma parte do material foi recolhida pelos moradores, a fim de fundamentar a denúncia na Draco. O suposto alvo do atentado escapou porque estava em uma reunião, e diz que não pretende sair do quilombo.

"Achava até que fossem me dar um tiro, e não fazer o que fizeram. Mas agora não vou sair. Se sair, eles vencem e tomam de vez aquela área", afirmou.

O Quilombo do Camorim foi certificado como comunidade remanescente de quilombos em 2014 pela Fundação Cultural Palmares. Segundo a Fundação, o Camorim tem registros de quilombo desde 1574. A igreja de São Gonçalo do Amarante, símbolo do local, foi construída em 1625.

Ameaças
Segundo a vítima, estão atuando na região milicianos dos morros César Maia, em Vargem Pequena; Covanca, em Jacarepaguá; Jordão, na Praça Seca, além do próprio Camorim. O homem conta que a primeira ameaça data de 2003.

"Estávamos fazendo uma homenagem a Zumbi dos Palmares quando disseram para mim que 'agora quem comanda aqui é a gente'. Eu não abaixei a cabeça, disse que não precisávamos de comando. Mas até então tinha ficado apenas nisso", disse.

"Nunca aconteceu nada parecido. Estamos, sim, assustados", disse outro morador da região, que conta ainda que, após as 20h30, poucas pessoas ficam fora de casa no local. "Eles circulam com carros e ficam de olho no que acontece. Por essas coisas, o movimento, que era muito grande na rua, praticamente acabou."

Cobranças
Desde 2015, apesar da resistência de moradores, homens fortemente armados com pistolas e até fuzis estariam cobrando R$ 65 pelo botijão de gás e R$ 35 pelo serviço de "gatonet", tv a cabo pirata. "Eles tentaram cobrar R$ 70 para uma taxa de segurança, mas eu não permiti, e os moradores não estão aderindo. Isso deve estar os deixando irritados", afirma.

Atualmente, 100 pessoas moram no quilombo, que ministra atividades sociais e culturais de religiões de matriz africana, como rodas de jongo, oficinas de capoeira e artesanato, além da formação de jovens como guias de turismo ecológico.

Fonte: G1

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