O consumo de álcool por menores de idade implica sérios riscos para a saúde, com maior chance de abuso e dependência de álcool e outras substâncias no futuro, para acidentes de trânsito e mortes prematuras. Entre as medidas preventivas ao consumo precoce de álcool, destaca-se uma vertente promissora, cujo foco são pais de adolescentes, com ações realizadas especialmente em escolas. Acredita-se que a alteração do comportamento, normas e atitudes dos pais pode impactar positivamente na redução do consumo de álcool por adolescentes.
A estratégia elaborada pelo programa Örebro Prevention Programme (OPP) consiste em reuniões com pais e professores com 30 minutos de duração, realizadas semestralmente em escolas. Nessas reuniões é indicado que os pais adotem postura de tolerância zero para o consumo de álcool pelos adolescentes, deixando claro para os menores de idade quais são as regras e possíveis sanções aplicadas caso o combinado não seja cumprido. O programa demonstrou resultados positivos em estudos anteriores para a prevenção do uso nocivo de álcool, reduzindo a frequência de episódios de embriaguez.
Com o objetivo de entender o mecanismo responsável pelo sucesso do OPP, o presente estudo analisou qual seria o papel das atitudes restritivas dos pais na obtenção dos resultados positivos, os quais foram redução dos episódios de embriaguez e o retardamento do beber regular (ao menos um episódio de embriaguez por mês). Para isso, 653 adolescentes com idade entre 12 e 13 anos e 524 pais preencheram questionários no início do estudo, após 18 meses e 30 meses. Além disso, variáveis que pudessem confundir os resultados, como gênero, status imigratório, qualidade de relacionamento com pais e uso de álcool por pais e colegas foram incluídas nas análises.
As atitudes dos pais foram classificadas conforme quatro opções, desde “muito lenientes” (consideram natural a curiosidade dos filhos para experimentar álcool e acreditam que fazem uso responsável) até “muito rigorosas” (consideram que menores de idade jamais podem consumir de álcool e nem deveriam se preocupar com isso). Os adolescentes responderam quantas vezes consumiram álcool até se sentirem alcoolizados no último mês, o que foi acompanhado ao longo do estudo para observar mudanças no padrão daqueles que iniciaram o hábito de beber mensalmente. Os adolescentes também responderam com qual frequência observam os pais e colegas consumirem álcool e sobre a qualidade de relacionamento com os pais. Para comparações de resultados, um grupo de pais recebeu a intervenção, isto é, participou das reuniões, e o outro não recebeu.
Constatou-se que no grupo sem intervenção os adolescentes evoluíram com mais episódios de embriaguez, enquanto no grupo com intervenção, adolescentes reduziram a frequência de episódios de embriaguez ou iniciaram mais tardiamente. Como resultado principal, cerca de 50% do resultado positivo do programa foi atribuído às atitudes restritivas dos pais, o que representa um papel robusto. Por outro lado, demais mecanismos adjacentes podem ser fonte de futuras pesquisas. Por exemplo, de forma interessante, os pais que receberam a intervenção mantiveram mais atitudes restritivas ao longo do tempo, enquanto o grupo que não recebeu evoluiu com menos atitudes restritivas frente ao uso de álcool por seus filhos. Além disso, foi observado que pais imigrantes ou que possuem má relação com filho tendem a adotar posturas menos restritivas. Talvez, pais que vivenciam relacionamento ruim com os filhos se sintam menos empoderados e tenham menor expectativa em relação a eles.
Conclui-se que atitudes mais restritivas dos pais, em vigência da intervenção do OPP, criaram ambiente desfavorável ao consumo de álcool e foram assim eficientes na prevenção do uso nocivo, ao reduzir e retardar o consumo de álcool por menores de idade.
Fonte: CISA
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