quarta-feira, 4 de maio de 2016

Peritos dizem que ciclovia desabou porque pista não estava amarrada

Após o desabamento, ciclovia se transformou em um precipício - Guito Moreto / O Globo


Segundo laudo, força das ondas levantou tabuleiro provocando o desabamento

RIO - Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) afirmaram, na manhã desta quarta-feira, que a causa da queda de parte da Ciclovia Tim Maia, há 14 dias, foi o fato de as plataformas, que funcionam como vigas de sustentação, não estarem amarradas aos pilares. Segundo laudo preliminar da perícia do ICCE, a força das ondas, no sentido de baixo para cima, levantou o tabuleiro, provocando o desabamento do trecho. Duas pessoas que passavam a pé no local morreram. O laudo final ficará pronto na próxima sexta-feira.

Havia um estudo do impacto das ondas do mar de São Conrado sobre os pilares, mas não sobre a plataforma. Segundo a perícia, que analisou 11 volumes de documentos, o estudo avaliou o comportamento de marés até quatro metros e a uma velocidade de 65 quilômetros por hora.

— Fazer os cálculos para analisar o tipo de ancoragem para se fixar a passarela é uma etapa muita complexa. Requer muito fundamento teórico. Tem que fazer cálculos e cálculos. Não havia isso em nenhum documento — explicou um dos peritos.

Segundo o diretor do ICCE, Sérgio William Silva, os técnicos estiveram no local três vezes.

— A conclusão é de que o projeto não previu o impacto das ondas na plataforma, no sentido ascendente, de baixo para cima. Deveriam ter feito cálculo estrutural. Analisamos as memórias de cálculo e só encontramos o estudo das marés nos pilares — explicou o diretor.

O chefe do serviço de engenharia do ICCE, Liu Tsun, disse que o castelinho localizado embaixo do local da queda, construído há anos, não fez a onda dissipar:

— A onda atingiu a plataforma de maneira ascendente. O obstáculo serviu como rampa. Todos sabem que a onda faz este movimento há décadas. Poderiam ter pensado na amarração da plataforma ao pilar ou na construção de um quebra-mar. Tinha que ser prevista uma forma de bloquear a onda. Há relatos anteriores, inclusive, de que ondas quebraram janelas de imóveis em frente ao local da ciclovia.

Moacyr Duarte, especialista em gerenciamento de risco e pesquisador da Coppe/UFRJ, chegou a comparar, logo após a tragédia, a construção da ciclovia a uma montagem feita com o brinquedo Lego: uma obra modular, formada por pranchas (trechos de pista), colunas e apoios semelhantes. Na época, ele disse que “o que fica patente é que ela é alinhada no início, mas quando chega mais adiante começa a aparecer afastamentos, irregularidades, apoios irregulares, desalinhamento das vigas que são absolutamente injustificáveis”.

Duarte ressaltou a falta de um estudo sobre as ressacas na região e destacou ainda que, ao longo de todo o costão, o projeto é para que a onda mais forte suba o costão de pedra, passe por debaixo da ciclovia e acerte a pista de asfalto por onde trafegam os veículos. No entanto, o engenheiro explica que foi formada uma corrente de água de baixo para cima no ponto, que levantou o leito da passarela e o derrubou de cima das colunas. Segundo ele “a questão foi o sentido de ataque da onda e aquele ponto específico ter a presença daquele obstáculo. É bem peculiar”.

Fonte: O Globo

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