sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Mais da metade dos motoristas do país bebe, diz associação de medicina de tráfego


Para especialistas, exame para medir teor de álcool no sangue deveria ser obrigatório

Mais da metade dos motoristas do país bebe, e quase um quinto desse total é alcoólatra. A afirmação é da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego). Segundo o diretor da associação e médico, Dirceu Rodrigues Alves Junior, 54% dos motoristas brasileiros ingerem bebida alcoólica e 17% desse índice fazem uso crônico da bebida.

O médico afirma que os dados não significam que mais da metade dos motoristas bebe e na sequência dirige, mas mostram que 54% da população com carteira de habilitação têm o hábito de beber. O número é alto, segundo Junior, e revela um dos motivos do crescimento dos acidentes envolvendo motoristas alcoolizados.

- Os alcoólatras crônicos bebem todo dia, de manhã, à tarde e à noite, e dirigem. Quarenta e cinco milhões é a frota de motoristas no Brasil e 54% fazem o uso de álcool, sendo que 17%, cronicamente e outros 37%, socialmente.

Em São Paulo, por exemplo, a mistura de álcool e direção resultando em acidentes tem se tornado frequente. Segundo a Polícia Militar do Estado, o número de motoristas bêbados flagrados em blitze entre janeiro e setembro deste ano é 38% maior do que a soma de todo o ano de 2010. No dia 22 de outubro, o gerente de banco Fernando Mirabelli, de 32 anos, matou dois garis atropelados na marginal Pinheiros, na zona sul da capital paulista. Ele ficou preso em um CDP (Centro de Detenção Provisória), pagou fiança de R$ 50 mil e foi solto.

No início do mesmo mês, um estudante embriagado dirigia um carro de luxo modelo Camaro e se envolveu em pelo menos três acidentes em sequência. Em uma das batidas, a vítima Edson Domingues teve 90% do corpo queimado e morreu. O estudante pagou uma fiança de R$ 245 mil e também foi liberado.

Na madrugada de 23 de julho, a nutricionista Gabriella Guerrero, de 28 anos, retornava de uma casa noturna com o namorado em um Land Rover, quando perdeu o controle da direção e atropelou o administrador de empresas Vitor Gurman, de 24 anos. O jovem foi levado ao Hospital das Clínicas, ficou em coma por quatro dias e morreu.

"Furo na Lei Seca"
De acordo com o diretor da Abramet, outro fator responsável pelo aumento de acidentes do tipo é “um furo na Lei Seca”. Para ele, a fiscalização de motoristas alcoolizados é precária.

- A fiscalização é muito fraca ainda, é irrisória. Ela é ostensiva pontualmente, como na Vila Madalena e na zona sul do Rio de Janeiro. Saiu desses locais, você não tem mais nada.

O vice-presidente da Anatran (Associação Nacional de Trânsito), Luis Francisco Flora, concorda com Júnior e diz ainda que algum exame para comprovar a embriaguez ao volante deveria ser obrigatório, principalmente em casos de acidente.

- Eu defendo que a pessoa tem que ser rigorosamente examinada na hora da abordagem, ou na hora que ela causou o acidente. Pelo menos nos casos em que há acidente, a legislação deveria ser um pouco mais dura. O que eu acho é que precisa ter um pouco mais de rigor na hora em que você constata o acidente e que você tem um agente causador do acidente naquele momento. Se não for assim, as pessoas não vão ter o exemplo de que não devem fazer aquilo.

Porém, para o exame de bafômetro ou de sangue se tornar uma obrigatoriedade, é necessário que haja uma mudança no código penal, já que os brasileiros não são obrigados a produzir provas contra si.

- Não só a Lei Seca [precisa se tornar mais rigorosa], eu acho que você precisa ter uma alteração no Código Penal [...] Precisa ter uma mudança na legislação penal que permita ou que obrigue as pessoas quando elas se recusarem [a fazer exame de nível de álcool no sangue], que haja pelo menos uma obrigatoriedade.

Getúlio Hanashiro, ex-secretário de Transportes de São Paulo e especialista em trânsito diz acreditar que a Lei Seca é positiva, mas que a aplicação da legislação tem que ser mais rígida.

- A fiscalização precisa ser mais rigorosa, ostensiva. Eu sou contra fiscalização escondida, a fiscalização tem que estar presente, o cidadão tem que sentir que existe uma autoridade policial presente, ou uma autoridade responsável pelo trânsito. A fiscalização ostensiva é uma forma de constranger o cidadão.

Hanashiro comparou a Lei Seca à lei do cinto de segurança, que passou obrigar os motoristas a usarem o acessório depois de uma intensa fiscalização.

- A lei do cinto de segurança pegou porque houve uma fiscalização massiva. A Lei Seca vai pegar quando houver essa fiscalização. O pessoal perdeu o medo, perdeu o receio.

R7

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