domingo, 1 de julho de 2012

Evoluções na odontologia estão cada vez mais acessíveis, mas ainda há restrições

Elaine Anele escolheu o aparelho invisível depois de descobrir que as dores no maxilar tinham solução apenas com tratamento ortodôntico
Foto: Tadeu Vilani / Agencia RBS



Tratamento completo para deixar os dentes mais bonitos pode custar até R$ 30 mil

A desigualdade brasileira se vê nos dentes. E não é metáfora. Para uma minoria, os melhores tratamentos e o sorriso mais branco. Para o resto, sobram dados: quase 35 milhões de banguelas — e não é que apareça um ou outro buraco, mas duas arcadas inteiras desertas; 13% dos adolescentes nunca foram ao dentista e 45% da nação sequer usa escova de dente regularmente.

Os dados são do Ministério da Saúde de 2003. O mesmo órgão tenta reverter a situação criando uma política nacional de saúde bucal. Cansada de esperar e com um pouco mais de dinheiro no bolso, a população acaba tendo que optar por consultas particulares ou aderindo a planos privados. Em apenas uma década, os planos exclusivamente odontológicos aumentaram em 419,6%, ultrapassando os 16 milhões de cadastrados.

A acessibilidade também passa pelo número de profissionais, que, só no Rio Grande do Sul, triplicou no mesmo período. Mas a principal razão para barateamento dos serviços, de acordo com Felipe Arcas, consultor da Associação Brasileira de Odontologia (ABO), é que os produtos odontológicos cheguem mais em conta no consultório:

— A própria concorrência da indústria odontológica trouxe os preços mais para baixo. A indústria nacional melhorou muito. Produtos que antes eram importados, caros, difíceis de conseguir, a indústria nacional conseguiu alcançá-los e hoje temos até centros de pesquisa aqui.

Apesar do custo não estar mais tão elevado, ele admite que para procedimentos de estética e outros de maior complexidade, a conta ainda pesa. Mas não é por isso que deixa de ser usada. Mais caro que o tradicional, o aparelho invisível vem ganhando adeptos pela discrição. A farmacêutica-bioquímica Elaine Anele escolheu o modelo depois de descobrir com mais de 40 anos que as dores no maxilar tinham solução apenas com tratamento ortodôntico.

— Até agora, ninguém notou que estou usando — comemora a usuária, que já carrega os moldes transparentes há mais de um ano.

O aparelho é móvel, envolve os dentes fazendo pressão para o sentido que se deseja que sejam deslocados e deve ser trocado a cada duas semanas. Para Carlos Alberto Mundstock, ex-diretor da faculdade de odontologia da UFRGS, grande parte dos casos pode ser tratada com essa nova tecnologia.

Sorriso de cinema

Meio ano atrás, Jaqueline da Silva, 47 anos, não ria. Quando a piada era muito engraçada, tapava a boca e gargalhava para dentro. O pudor vinha pela ausência de dentes, que escancaravam a falta de condição da diarista para arrumar o sorriso. E põe condição nisso: R$ 30 mil. Esse era o preço estimado entre exames, aparelho e implantes, de acordo com a avaliação de Luiz Felipe Rodrigues Graziottin, doutor em dentistíca restauradora. Acabou com uma solução mais barata e — aparentemente — parecida: o sorriso de Hollywood, que para arcada superior lhe custou menos de R$ 3,5 mil.

O nome comercial define uma prótese que envolve os dentes, tapando imperfeições. Não trata nenhum problema, apenas esconde os dentes originais com uma espécie de dentadura oca e os fixadores da estrutura são a dentição natural. É feito de uma resina e o molde é personalizado. Para Graziottin, o método pode substituir o uso de porcelana ou implantes. Tudo vai depender das necessidades do paciente. Se por questão financeira ou pessoal (como medo de dentista, por exemplo), a pessoa não quiser uma prática invasiva, pode optar pela novidade. Ou se estiver passando por um tratamento odontológico e durante esse tempo o estético ficar prejudicado, pode recorrer ao sorriso de Hollywood.

Porém o uso contínuo é criticado por Rodrigo Bueno de Moraes, consultor científico da Associação Brasileira de Odontologia:

— Não resolve a situação, é um recurso de transição. Ainda assim, é melhor do que aquelas próteses de grampo metálico, que se ancoravam nos dentes remanescentes, deixando um aspecto feio.

A técnica não é recomendada para quem usa aparelho fixo, tem dentes muito para frente, problemas avançado de infecção de gengiva ou se não tem nenhum dente na boca.

Não é cinema: é dentista

Eles usam óculos 3D e miram em uma tela grande. Mas nessa tecnologia, nada de pipoca. Não é cinema: é dentista. Marcelo Fagundes Munhoz, mestre em microodontologia e presidente da Associação Brasileira de Microscopia Operatória no RS, vê a boca de seus pacientes na televisão com um zoom de três até 40 vezes. O atendido e a assistente acompanham em tempo real o procedimento. A maioria dos dentistas opera a olho nu, apenas por volta de 200 em todo Brasil são vinculados à Associação Brasileira de Microscopia Brasileira e usam microscópio — quando só no Estado se contabilizam mais de 25 mil profissionais.

Ele usa o microscópio para tudo, desde a remoção de tártaro até colocação de implante.

— As vantagens são maior iluminação, ergonomia, comunicação com o paciente e precisão dos resultados. Em muitos casos cirúrgicos, nós temos 95% de previsibilidade de resultados. A ampliação da visão, por sua vez, faz com que a odontologia seja minimamente invasiva, com menor dano ao tecido.

Neste ano, trouxe dos Estados Unidos um equipamento ainda mais potente, com a visão 3D. Foi por causa dessa visualização maior que o procurador da Fazenda Nacional, Marcelo Guimarães da Silva conseguiu dar fim às dores quando mastigava alimentos duros. Ele já havia ido a dois especialistas que não souberam detectar o problema. No consultório de Munhoz, viu — literalmente— que a origem estava em uma rachadura pequena em um dente e pôde tratá-la.

Zero Hora

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