domingo, 23 de dezembro de 2012

Daniella Perez: 20 anos do assassinato que mudou a lei


A novelista Glória Perez, mãe da atriz, conseguiu transformar homicídio qualificado em crime hediondo

RIO - “O Bira matou a Yasmin! O Bira matou a Yasmin!”

Era final de 1992. Daniella era esperada para um ensaio de uma peça no Shopping da Gávea. Mocinha da novela das oito, ela tinha passado o dia gravando na Barra. Nunca chegou. O Rio amanheceu, no dia seguinte, como a capital de um assassinato que jamais seria esquecido pelo país. A realidade foi mais brutal do que qualquer ficção: a talentosa Daniella Perez, a Yasmin de “Corpo e Alma”, novela escrita por sua mãe, Glória Perez, não chegou ao seu destino porque, no caminho, tinha sido emboscada e assassinada com 18 punhaladas por seu par romântico na trama, Guilherme de Pádua, e a mulher dele, Paula Thomaz.

O crime completa 20 anos. Nesse período, após quatro anos de espera, o casal Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foi condenado em dois júris. Os personagens principais daqueles acontecimentos tiveram as vidas marcadas para sempre e uma grande mobilização mudou a legislação penal. A novelista Glória Perez reuniu 1,3 milhão de assinaturas num abaixo-assinado que aprovou a primeira emenda popular da história do Brasil, tornando o homicídio qualificado crime hediondo. Depois, uma outra emenda pôs fim à progressão de regime para esse tipo de crime, o que foi restabelecido pelo Supremo Tribunal Federal, mas os prazos para a concessão dos benefícios em caso de crimes hediondos hoje são mais longos.

Jovem promotor de Justiça à época, à frente do que seria um dos seus primeiros grandes casos, José Muiños Piñeiro é hoje desembargador de Justiça. Ele chama atenção para o fato de o caso não ter precedentes na literatura dos tribunais do júri:

— Era a primeira vez que não era necessário explicar para os jurados quem era a vítima, inclusive eu disse isso no júri. Daniella Perez estava todos os dias na novela das oito, era como se fosse a irmã ou a filha de todos os brasileiros — observa ele . — Eu trabalhava no interior e tinha chegado há dois anos na capital. Quando me vi diante de um caso de tanta repercussão, senti o peso. Eu estava o tempo todo exposto, vigiado pela mídia. E se eu não conseguisse condenar os assassinos?

Glória Perez afirma que assassino é psicopata e que matou por vingança

Sem nunca ter se comportado como vítima passiva, Glória Perez volta a um passado doloroso para discutir, mais uma vez, as leis brasileiras:

— Tive a justiça possível: não a Justiça! Na época, um condenado a mais de 20 anos tinha direito a segundo julgamento. Para evitar isso, o juiz deu uma pena de 19 e meses para os dois. Condenados por homicídio duplamente qualificado com motivo torpe, cumpriram seis anos na área VIP dos respectivos presídios e foram postos na rua. Pra eles saiu barato — diz Glória, que não esquece a crueldade dos assassinos. — Eles foram à delegacia, dar pêsames à nossa família na própria noite do crime. Chegaram num carro ainda com o sangue de Daniella. Ele abraçou o Raul dizendo: “força, cara. Eu estou aqui”. E saiu pedindo à produtora Marcela Honignam que avisasse a hora do enterro porque queria estar do meu lado!

Sobre as últimas aparições de Guilherme em programas de TV, em que ele deu uma versão diferente da que prevaleceu no júri, Glória diz ser um comportamento doentio:

— Os psicopatas são exibicionistas, e ele é um psicopata clichê! Matou por medo de perder os holofotes. Por vingança, pois sua personagem deixou de aparecer num bloco e ele achou que estava sendo excluído da novela — afirma Glória, que criticou a emissora Record, onde ele deu entrevista. — Tão torpe quanto ele ou até mais torpe do que ele, que já não cabe na pele de cordeiro, é uma emissora que se diz cristã aliar-se a um criminoso para debochar da Justiça!

O Globo

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