Roger Abdelmassih era procurado no programa de
recompensas (Foto: Reprodução / Web Denúncia)
Interceptação telefônica gravou ex-médico dizendo apelido de agente de SP.
Secretaria da Segurança Pública determinou investigação sobre o caso.
O Ministério Público (MP) investiga se um policial de São Paulo colaborava com Roger Abdelmassih e sua rede de informantes para que o ex-médico, condenado a 278 anos de prisão por estupros e foragido da Justiça brasileira, continuasse escondido no Paraguai.
Procurada pela equipe de reportagem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que também irá investigar o caso.
Os promotores têm interceptações telefônicas que flagram Abdelmassih dizendo a um parente o apelido desse policial. Em uma delas, o ex-médico diz que o agente é "amigo" de um dos seus colaboradores financeiros, e ainda "trabalharia junto à Secretaria da Segurança Pública", na capital paulista. Não há confirmação, no entanto, se o funcionário público pertence à Polícia Civil ou é da Polícia Militar.
Na conversa por telefone, gravada com autorização judicial, Abdelmassih diz que o policial poderia ser procurado por seu grupo para vazar dados sigilosos das 15 denúncias que o Programa de Recompensas recebeu sobre possíveis paradeiros do ex-médico. O áudio não menciona dinheiro em troca das informações.
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O grampo ainda mostra Abdelmassih pedindo para o familiar acionar seu grupo de colaboradores para procurar o policial e confirmar com ele os locais das denúncias. Desse modo, acreditava ser possível saber se alguma delas indicava o ponto exato onde o ex-médico estava. A escuta não mostra se os informantes encontraram o agente e se ele passou os dados.
Abdelmassih se diz "abatido", na interceptação, e demonstra preocupação se alguma das denúncias feitas pudesse revelar seu esconderijo. O ex-médico comenta, por exemplo, sobre a possbilidade de a Polícia Federal (PF) estar envolvida nas buscas a ele.
Grampo
A gravação ocorreu duas semanas antes de Abdelmassih, de 70 anos, ser preso neste mês em Assunção. Na capital paraguaia, ele usava o nome falso de Ricardo Galeano e morava numa casa alugada de alto padrão com a mulher, a ex-procuradora da República Larissa Sacco, de 37, e os filhos gêmeos do casal.
Indagado pela equipe de reportagem, o advogado Arles Gonçalves Jr, presidente da Comissão de Segurança da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo, afirmou que se for comprovado que um policial repassou para um procurado informações sigilosas de denúncias do paradeiro dele, o agente será responsabilizado criminalmente.
“O policial poderá responder por crimes, por exemplo, como favorecimento a fuga de criminoso, obstrução da Justiça, formação de quadrilha, quebra de sigilo”, afirmou Gonçalves Jr. "Ou corrupção, se ele recebeu dinheiro por isso".
Se ficar demonstrado que Abdelmassih e sua rede de informantes tentaram cooptar agente público, eles também poderão responder por crimes. “Poderiam entrar como favorecimento pessoal e formação de quadrilha”, disse o advogado.
Defesa
A equipe de reportagem não localizou a defesa do ex-médico para falar sobre o assunto. Condenado por estuprar e abusar sexualmente 37 ex-pacientes, Abdelmassih cumpre pena na Penitenciária de Tremembé, no interior paulista.
O ex-médico sempre negou as acusações de que violentou mulheres na clínica de fertilização que tinha na capital paulista. Em sua defesa, alegava que apenas beijava as pacientes no rosto e que elas estavam tendo alucinações por conta da sedação.
Recompensa
As 130 interceptações feitas nos telefones usados por Abdelmassih ajudaram o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP em Bauru, interior paulista, e a PF a localizarem e prenderem no Paraguai o homem mais procurado de São Paulo. Ele foi pego por um delegado federal e policiais paraguaios. A Polícia Civil paulista não participou da prisão em Assunção.
Apesar de o Programa de Recompensa ter oferecido R$ 10 mil para quem desse informações precisas que levassem ao esconderijo de Abdelmassih, e 15 denúncias terem sido feitas, o prêmio não foi pago. A SSP e o Instituto São Paulo Contra a Violência (ISPCV), parceiros do programa, avaliaram que as denúncias dos prováveis paradeiros do ex-médico não foram relevantes para a investigação.
A pasta é responsável pelo pagamento do prêmio e o instituto por administrar o programa.
Procurada pelo G1 para comentar o assunto, a SSP informou que irá apurar a informação de que Abdelmassih menciona o apelido de um policial que seria ligado à pasta da segurança.
“O secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, determinou a abertura imediata de investigação para apurar a existência do suposto policial e eventuais ligações dele com parceiros do ex-médico“, informa a nota da assessoria de imprensa da pasta.
Questionado pela equipe de reportagem, Mario Royo, gerente de projetos do ISPCV, respondeu que as denúncias são recebidas por telefone (Disque Denúncia 181) e internet (Web Denúncia).
De acordo com o representante, o instituto fica num local que não pode ser divulgado, mas não é no prédio da SSP. O atendimento ao público não é feito por policiais. E os dados dos denunciantes são confidenciais e mantidos sob sigilo por meio de códigos criptografados.
“O nosso papel é recolher informação tal e qual vem, sem mexer nada, registrar isso no formulário, e passar isso para policia. Não temos mais nenhuma ingerência e nem podemos ter sobre o trabalho policial”, disse Royo. “Os policiais [civis e militares] que recebem a informação, atuam da forma que tem que atuar.”
G1
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