terça-feira, 21 de abril de 2009

Alfabetização precoce divide especialistas

Em parte por pressão dos pais, escolas antecipam leitura e escrita

Aprender a ler e escrever já na primeira infância garantirá adultos mais capazes e bem-sucedidos? A alfabetização precoce, dúvida que tira o sono de muitos pais, ganha cada vez mais adeptos nas escolas infantis da capital. A tendência não agrada a boa parte dos especialistas, que dizem que criança tem de ser criança. Outros, porém, defendem a antecipação.
"Pesquisas mostram que as escolas infantis são para aprender diferentes tipos de linguagem. A escrita não deve ser prioridade", diz Maria Letícia Nascimento, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e do Fórum Paulista de Educação Infantil.
Segundo especialistas, a corrida para saber ler e escrever foi impulsionada com a recente aprovação da lei, que aumentou a duração do ensino fundamental de 8 para 9 anos, transformando o último ano da educação infantil (antiga pré-escola) no primeiro do fundamental. Para que seus alunos não chegassem a essa etapa despreparados, colégios particulares anteciparam o início da alfabetização para os 3 anos.
A motivação, em geral, vem da ansiedade dos pais. "Muitos acreditam que o filho tem de ser o melhor. Por isso esperam que tenham o conhecimento antecipado", observa Maria Letícia. Mas, segundo ela, não é colocando o filho em uma escola que ensina alemão no 1º ano de vida que os pais vão garantir que a criança seja um adulto melhor. "O importante é que nessas escolas ela viva bem a infância."
Daniel Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, diz que, como política de inclusão de crianças fora de escolas, a mudança foi importante. "Mas o impacto pedagógico e os efeitos que poderiam vir a ocorrer foram pouco discutidos", afirma. É consenso que a criança, segundo ele, está sendo pressionada a terminar o 1º ano do ensino fundamental com 6 anos já lendo e escrevendo. Maria Regina Maluf, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), discorda. "Já ficou demonstrado que não é cedo alfabetizar aos 6 anos ou até antes." Para ela, a questão está mal colocada. "Aprender é sempre bom, porque vivemos em uma cultura letrada."
Maria Malta Campos, da PUC e da Fundação Carlos Chagas, concorda. "A criança tem interesse pelas letras", diz. "Algumas aprendem sozinhas, outras demoram mais. O que é fundamental é que escolas levem em conta essas diferenças sem pressioná-las." A pais insones, ela responde a questão lançada no início da reportagem: "Não se preocupe se o coleguinha já está lendo e o seu filho, não. No tempo dele essa habilidade será desenvolvida. Não é escrevendo cedo que ele será um adulto mais feliz."
Rodrigo Cunha, de 4 anos, que frequenta uma escola particular na Vila Clementino, escreve o nome desde os 3 anos. Ele brinca com lápis, caneta e papel. Copiar letras é uma de suas diversões preferidas. Neste ano, ele está sendo apresentado à matemática e escrita.

Luísa Alcalde


2 comentários:

  1. Os especialistas estão se esquecendo que as crianças de hoje são hiperevoluídas. É uma geração a frente de nosso tempo, com acesso a livros, internet, tv, revistas, etc...
    São crianças com sede de saber, muito visuais, que aos dois anos de idade já reconhecem a marca Xuxa, Mac Donalds, Coca-Cola...
    Não sendo nada obrigatório, não vejo por quê não permitir-lhes a alfabetização. Tudo tem que ser muito lúdico, e sem stress.

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  2. Concordo que as crianças recebem muitas informações e guardam muitas palavras como essas citadas.
    Tudo tem seu tempo e não devemos correr com o aprendizado.
    Muitas etapas precisam ser vencidas antes da alfabetização que vai chegar na hora certa, de acordo com a individualidade de cada um.
    Obrigada por seu comentário
    Maria Célia e Carmen

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