Internada em abrigo durante a semana, criança em recuperação do vício do crack abraça o pai a caminho de casa, onde passa os sábados e domingos com a família
Após nove meses, Rio libera 15% das crianças e adolescentes com internação obrigatória
- Não foi a primeira vez que meu filho tinha fugido de casa. A cura contra o crack é muito difícil. Agora, quando passamos por uma cracolândia no caminho para casa, no final de semana, ele diz: “Que horror, não quero voltar para aí”.
O relato é de um pai, que deu seu depoimento sob a condição de não ser identificado, cujo filho se recupera do vício do crack. O adolescente de 12 anos é um dos menores de idade internados à força na cidade do Rio, política que, em quase nove meses, acolheu 118 crianças e adolescentes e liberou 18 deles para as famílias, segundo a Secretaria de Assistência Social.
Bastante criticado, o tratamento obrigatório está prestes a ganhar reforço. O Estado e a Prefeitura do Rio serão os primeiros a receber verba federal do programa Crack, Vencer É Possível.
O pai do menino afirma que ganhou de volta o filho que enfrenta problemas com droga desde os dez anos. Antes arredio, o agora amoroso garoto abraça o pai ao vê-lo na porta Casa Viva, em Laranjeiras, na zona sul do Rio, após um passeio com um grupo de menores em recuperação. Tímido, ele diz que as saídas com os novos amigos é o que mais gosta de fazer nesta nova fase da sua vida.
- A gente vai até para a praia. Eu também faço judô e toda quarta tem natação. Eu gosto de todo mundo aqui. Já fiz 11 amigos.
O pai afirma que a internação foi muito positiva, mas aponta que algumas melhorias ainda precisam ser feitas.
- A casa é boa, mas é preciso mais espaço para jogar futebol, ir à piscina, fazer atividades. Eles até fazem, mas precisam sair dali. É necessário separar as crianças que acabam de chegar, e ainda estão violentas, das que estão mais avançadas na recuperação.
Encontrado na cracolândia do Cajueiro, em Madureira, na zona norte, o adolescente está internado há seis meses e dentro de mais um mês deve voltar para casa, segundo o pai que acaba de conseguir a guarda do menino. A mãe é alcoólatra e o padrasto violento com a criança, diz o pai. O irmão mais velho também fugiu de casa e ainda está desaparecido. O pai mora em Mesquita, na Baixada Fluminense, com uma nova companheira e dois filhos.
- Sei que só levar para casa não resolve, mas era o que podia fazer nas outras vezes. Agora estou desempregado, mas vou encontrar atividades para depois da escola, deixá-lo ocupado. Estou conversando com os assistentes sociais para ver como eles podem me ajudar com o psicólogo.
O menino diz que está ansioso para voltar a estudar em uma escola. É lá que ele pretende se preparar para ser engenheiro civil e dar em emprego fixo ao pai, que é pedreiro.
Volta para casa
De acordo com Maria Teresa Aquino, professora de Psiquiatria da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) convidada a participar do projeto do município de combate ao crack com a verba federal, a volta para a casa requer acompanhamento de equipe multidisciplinar e rede de apoio na família.
- A recuperação de um viciado é trabalhar o lado espiritual, mental e físico. Quando a criança volta para casa, é preciso ainda acompanhamento de um assistente social, de um psicólogo e, se necessário, de um médico. A criança precisa lidar com a sua realidade familiar, o preconceito de ser um ex-usuário de drogas, a falta de atividades durante o dia, além da escola. Pode ser necessária a prescrição de um antidepressivo e um antipsicótico.
Para a especialista, ainda é cedo para saber se o adolescente de 12 anos está livre do crack. Maria Teresa afirma que, se no período de um ano, o viciado não sentir necessidade de consumir a droga, então a recuperação mostrou resultado.
O pai do menino está animado com o futuro do filho, depois de pensar que não tinha mais esperança.
- A primeira vez que fui à Casa Viva estava desanimado, chorei. Pensei que ia perder meu filho para a droga. Quando foi internado, ele tomava remédio e ficava meio mole e muito triste. Agora já é um menino ativo.
Os menores de idade são liberados após decisão judicial, mediante reinserção familiar e matrícula na escola, segundo a Secretaria de Assistência Social.
Conselhos criticam tratamento obrigatório
A polêmica do tratamento obrigatório permanece quase nove meses após a implantação da política. A internação à força de menores de idade chegou a ser apontada como "uma faxina social" na cidade, sede de eventos internacionais. Para o presidente do Conselho de Serviço Social, Charles Toniolo, “o enfrentamento ao uso do crack não pode ser realizado unilateralmente, como vem sendo feito até agora”, com operações de recolhimento compulsório, sem a participação das secretarias de Cultura, Esporte e Educação.
Para a conselheira e psicóloga Fernanda Mendes, o acolhimento não pode ser uma imposição, independentemente da idade. Ela defende que a Secretaria de Assistência Social não deveria estar à frente da recuperação dos usuários de drogas, pois o tratamento antidrogas é uma questão da Secretaria de Saúde.
- O conselho é contra a privatização e terceirização do atendimento aos viciados em crack, pois isso permite que o tratamento seja feito de acordo com o que cada instituição estabeleceu, sem padrão e sem seguir o que já tinha sido definido em políticas públicas.
Na capital, as crianças e adolescentes viciados em crack são encaminhados para quatro abrigos - o da Casa Viva, da prefeitura, e três comunidades de tratamentos terceirizadas.
R7
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Chega de tanto palpite contrário.Preferem que fiquem pelas ruas se drogando?
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