segunda-feira, 23 de julho de 2012

Síndrome do ninho vazio

A famosa síndrome na verdade se refere a quando os filhos saem de casa, muitas vezes na época da faculdade. O que eu tenho pode ser considerado uma primeira edição ou rascunho, mas não deve ser tão diferente afinal.

Férias escolares, pais separados, divisão meio a meio e semana passada a Lucia foi viajar com a mãe. Aparentemente pra Lua ou algum lugar similar onde o celular não pega. Talvez até mais longe porque eu tenho certeza que os astronautas mandavam notícias pra Terra, lá do Mar da Serenidade.

Serenidade é o que eu tento manter já quase uma semana sem notícias da minha pequena. Pode parecer pouco, mas ela não tem nem quatro anos e desde que ela nasceu eu nunca fiquei tanto tempo sem notícias ou sem falar com ela.

Aí você junta minha imaginação fértil, a capacidade de criar as hipóteses mais absurdas e quando eu vejo, acabo usando quase todo meu espaço mental para criar cenários terríveis e tentar dispensá-los. O principal argumento contra quase tudo é que notícia ruim corre rápido.

Quando eu tinha uns vinte anos, eu queria que roubassem meu carro, que valia mais no seguro que na revenda. Fui fazer uma caminhada de quatro dias na Serra da Bocaina. Deixei o carro estacionado em uma ruazinha perto da rodoviária. Não avisei ninguém, afinal com vinte anos e morando sozinho, estava aproveitando a liberdade.

Quando eu voltei o carro não estava lá. Eba. O dono do estacionamento em frente disse que travestis quebraram o vidro e usaram o carro como motel, e depois a polícia recolheu o veículo. Estaria tudo bem se o Átila (nome do meu Uno) não estivesse ainda registrado no endereço da minha mãe.

Quando eu dou notícias descubro minha mãe no maior desespero do mundo, porque a polícia ligou pra ela dizendo que encontraram meu carro abandonado perto da rodoviária. Ninguém sabia do meu paradeiro. Ela achou que eu poderia estar morto. Estava tão furiosa que esteve a um passo de me matar ela mesma. E eu nem aí, a meu ver não tinha feito nada de errado...

E hoje eu volto do trabalho, fico andando pelo apartamento vazio, me encolho junto com meus gatos debaixo do cobertor e fico destilando minha apreensão. “Ela está bem. Ela está bem. Ela deve estar bem. Droga, preciso ligar pra minha mãe e pedir desculpas de novo.”

Crescer

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