segunda-feira, 15 de outubro de 2012

‘Faixa de Gaza’: Traficantes e usuários de crack só mudam de lugar


A rápida e pacífica entrada da polícia nas favelas de Manguinhos e do Jacarezinho, na zona norte carioca, foi considerada um sucesso pelas autoridades de segurança do Rio. Dado o passado recente de inocentes mortos em tiroteios, a inexistência de vítimas na operação de domingo não deixa de ser um fato a se comemorar. Mas desde já é possível antever um grave efeito colateral da empreitada. O primeiro é o deslocamento dos criminosos para outras favelas. E o segundo, quase como consequência, é a migração de usuários de crack para onde quer que existam ‘pedras’ à disposição.

Traficantes de Manguinhos e Jacarezinho começaram a debandada ainda na quarta-feira anterior à ocupação. A Polícia Civil estima que cerca de 100 fuzis tenham sido levados para outras favelas – a saber, Vila Kennedy, Antares e Juramento – tão logo a operação ‘secreta’ chegou aos ouvidos dos chefões do tráfico.

Um vídeo obtido por VEJA mostra dois dos integrantes da quadrilha de Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, 37 anos, conhecido como Piloto, operando à vontade em Manguinhos. Cinco homens contam o dinheiro separado em centenas de pilhas sobre a mesa de um bar, enquanto comparsas ostensivamente armados - um deles usando um cinto abarrotado de munição. Duas mulheres grávidas com seus filhos compram comida no balcão ao lado. Crianças brincam junto a um ponto de venda de cocaína. Em outro trecho, vê-se a droga estocada em grandes bacias e sendo embalada em pequenos sacos plásticos. Foi ele quem arquitetou a fuga de outro bandido que aparece no vídeo, Diogo de Souza Feitosa, o DG.

Piloto não é um traficante qualquer. Segundo a polícia, nos últimos dois anos ele se tornou o mais poderoso traficante ainda à solta no Rio de Janeiro. Como as prisões não estavam no foco das preocupações da polícia na ocupação de domingo, neste momento Piloto está estruturando, em outra favela, estruturando algo certamente semelhante ao que se vê no vídeo.

Na ‘Faixa de Gaza’, além de todas as mazelas de um local abandonado e repleto de traficantes, há uma tragédia amais: instalou-se naquela região a maior cracolândia do Rio. Segundo a secretaria municipal de Assistência Social, 104 usuários de crack foram recolhidos do Jacarezinho no domingo. Os 89 adultos – 15 eram crianças e adolescentes – foram levados para a unidade de Reinserção Social, em Paciência, mas 42 já deixaram o local e voltaram para as ruas.
“Não é enxugar gelo, mas é um processo de convencimento. Essas pessoas têm um vínculo muito forte com a rua, não têm horário para comer, para banho, para dormir. Isso tudo no primeiro momento é muito complicado e eles acabam não ficando na instituição. Muitos não ficam na primeira, não ficam na terceira, mas em uma quarta abordagem podem ficar”, afirma a secretária Fátima Nascimento.

A Prefeitura do Rio foi a primeira a determinar, através de uma resolução, a internação compulsória de crianças e adolescentes viciados em crack. A medida não inclui os adultos. O caminho encontrado pelo município para determinar a internação de compulsória foi a responsabilidade que a municipalidade tem com a infância – o que abre a possibilidade de manter em abrigos aqueles dos quais não se tem notícia de pais ou responsáveis.

Veja

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