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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
A pior mãe do mundo
Sou eu! Minha filha de 7 anos me disse isso outro dia. Tá bom, foi no meio de um rompante de raiva. Mas, como foi a primeira vez que ouvi frase tão contundente, as palavras desceram alma abaixo como torrada seca sem água. Quase entalei.
Sabe como me tornei a pior mãe do mundo?
A menina de repente esqueceu o combinado. Ficou repentinamente surda boiando na piscina enquanto eu implorava que ela saísse para que eu e o pai pudéssemos providenciar o almoço, para que elas não ficassem com fome e pudessem retornar (à piscina!) mais tarde. Nada.
Lá fui eu recorrer à estratégia fácil de ameaçá-la.
Sem Carrossel hoje, tá?
Sem êxito, fui além.
Não vai voltar à piscina mais tarde.
Talvez já assimilando o castigo inevitável, ela resolveu continuar estendendo sua estadia na piscina até eu chegar ao máximo da minha crueldade.
Ficará sem Carrossel a semana toda!
Nãoooooooo!!!
Recuperada e desprovida de ressentimentos, reflito. Você sabe como pensa e age a pior mãe do mundo? Ela não bate pois tem horror a palmadas. Sua vantagem física transformaria qualquer agressão em covardia. Seu grande desafio é buscar a supremacia psicológica, a fronteira que separa um adulto de uma criança. É aí que a pior mãe do mundo não quer falhar.
A pior mãe do mundo quer, antes de mais nada, que os filhos mantenham sua palavra e os obriga a pensar sobre a atitude reprovável. Por isso, a pior mãe do mundo pune, embora tenha dúvidas, muitas dúvidas.
Como punir? Você sabe? A pior mãe do mundo ainda não está convencida sobre a melhor tática.
Há quem defenda a recompensa no lugar da punição. Premiar a boa atitude seria o antídoto para não banalizar o castigo. Você estaria enfatizando o bom comportamento em vez do mau, alem de ensinar o seu filho a obedecer e seguir regras, tudo o que todos queremos. Só não faça isso com presentes. Alertam. Não saia comprando o bom comportamento do seu filho. Verdade. Recompense-o de outra forma. Ok.
A pior mãe do mundo pensa: jamais fiz qualquer coisa esperando uma compensação que não fosse uma conquista. Estudei para aprender. Não me deram presentes ou passeios em troca. Minha recompensa foram notas boas. Não passei no vestibular para ganhar um carro ou uma viagem. Primeiro porque o carro não era meu objetivo – nem um sonho de consumo realizável por meus pais, à época, aliás. Segundo porque minha meta era dar início a uma carreira. Minha recompensa? Satisfação e independência. Aprendi desde muito cedo que meu esforço seria recompensado pelos meus sonhos realizados, e não porque alguém me daria algo em troca dos meus belos olhos castanhos. Com o tempo, percebi que só de me empenhar em algo, perseguir um sonho, eu posso ser feliz. Na casa da nossa infância, como costuma dizer meu marido, o comportamento certo não gerava benefícios. O errado é que seria passível de punição. Primeiro, pelos pais, depois, pela vida. Simples assim.
Talvez minha história explique o fato de eu não confiar cegamente no sistema de trocas, embora faça uso dele de vez em quando. Ainda que o escambo não seja material, a mensagem implícita é “eu só ajo certo quando há troca”. Que história é essa de premiar tudo que é bom? Que lição passaremos para nossos filhos ao ensinar-lhes que a vida segue esse padrão? Pode ser que não haja recompensas no final. Quem vive em função de uma linha de chegada não curte a caminhada.
Confesso: a pior mãe do mundo é, antes de tudo, uma chata, porque fala, dá exemplos, chama à reflexão. Lê até notícia de jornal. Filho mimado maltrata os pais. Pessoas sem palavra roubam dinheiro de remédio de pobres. Pouco a pouco, a pior mãe do mundo vai introduzindo situações de vida para mostrar porque devemos seguir regras, manter palavras e colaborar. E que nem sempre isso tem que fazer parte de um sistema de trocas. Você vai se sentir melhor por ser uma pessoa assim.
Ai que saco.
A pior mãe do mundo não quer embrulhar para presente um dia feliz com os pais na piscina porque ela quer usufruir dos dias de sol e férias com os filhos.
A pior mãe do mundo não quer prometer um dia de diversão como se fosse exceção porque todos os dias podem se divertidos, ainda que eles sejam consumidos entre trabalho e outras obrigações. Viver é divertido.
A pior mãe do mundo não pensa nem na hipótese de impor como punição a própria ausência porque ela acredita que momento a sós ou a dois é um direito, justo e necessário, para o equilíbrio de todos da família, e não um castigo para as crianças.
A pior mãe do mundo pensa demais e sabe que é preciso ter muita criatividade além de paciência em dobro para convencer as filhas em idade diferente a cumprir o combinado.
Não tenho o condão de impedir acessos de raiva infantis nem de contornar a chateação pós-bronca, aquele desconforto que se espalha pela família, azedando os humores, como a ação do tempo oxidando o vinho por tantos anos envelhecido em barril de carvalho. Se eu não fosse a pior mãe do mundo, talvez eu soubesse a fórmula para não perder minhas notas de baunilha e meu aroma de groselha de vinho preservado. Porque, na hora da bronca, somos todos vinagre.
O castigo foi revisto porque eu errei feio na dose. Primeiro que uma semana inteira sem Carrossel justamente quando eu voltaria a trabalhar foi um erro estratégico. Chego cansada da rua e ela adora assistir à novelinha comigo ao lado. A gente troca impressões e conversa a respeito. É uma ótima alternativa para certas noites de fadiga.
Eu errei também ao vetar a piscina. Minha mais velha é o tipo feliz, rapidamente se contenta com a nova atividade dentro de casa. Privá-la da piscina seria um castigo para mim, que além de ficar em casa com ela no último dia das minhas férias, longe da outra filha e do marido, teria que lidar à noite com uma criança cheia de energia contida e nada disposta a dormir.
A pior mãe do mundo está sempre em busca de uma saída criativa para lidar com a desobediência – artigo que, mais cedo ou mais tarde, aparecerá na sua residência também -, embora ela nem sempre se sinta bem sucedida na empreitada. Às vezes, chora escondido frustrada.
Depois a filha voltou atrás, disse que falou da boca pra fora, mas a realidade a ser encarada é que estamos numa transição. Pais não devem esperar só elogios dos filhos. É duro e dói até. Os filhos não vão concordar com nossos métodos, sejam eles de compensação ou punição. E muitos estarão dispostos a nos enfrentar e questionar. Ainda bem ; )
Mas é difîcil, viu. Ô.
Pelo sim pelo não, guardo bilhetes e desenhos em que apareço de pernas finas, vestido triangulo, sorriso margarina e sou a mais linda que existe. E desenhos são eternos, palavras atiradas ao vento, não.
Mulher 7 X 7
Marcadores:
comportamento,
educação
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