Segundo o desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador da Vara
de Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de São Paulo, só na
região da Cracolândia, na área central da cidade, a estimativa é de que
até 400 crianças estejam envolvidas com drogas especialmente crack.
“Temos entre 22 e 23 cracolândias cercando a cidade. A central, que é a
maior cracolândia do mundo, tem 2 mil usuários [entre adultos, crianças
e adolescentes]. Calculamos que mais ou menos 20% dessas pessoas são
crianças e adolescentes. Ou seja, devemos ter, no centro da cidade,
entre 200 e 400 crianças e adolescentes em situação de drogadição. Fora
nas outras [cracolândias], que não faço nem ideia”, disse o
desembargador, que tem visitado a região praticamente todos os dias.
Para Ana Regina Noto, professora do Departamento de Psicobiologia da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que em 2004 coordenou um
estudo envolvendo 2.807 crianças e adolescentes em situação de rua de 27
capitais do país, o número de dependentes não cresceu muito depois da
elaboraçãoo da pesquisa, mas houve mudanças no uso. “Cresceu o consumo
de crack, mas a gente percebe também que houve substituição.
Não houve aumento de crianças e adolescentes usando drogas, isso
permaneceu o mesmo. Mas houve uma migração porque o crack
começou a ocupar espaço nas grandes cidades e começou a ser uma droga de
opção. Muitos que usavam cocaína começaram a migrar para o crack”, disse à Agência Brasil.
Um levantamento feito pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack
e Outras Drogas da Assembleia Legislativa sobre a situação do crack, da maconha e outras drogas nos municípios paulistas e divulgado em dezembro do ano passado, com o nome de Mapa do Crack,
apontou que das 50.511 pessoas que foram atendidas nos sistemas
públicos de saúde em 299 municípios de São Paulo por envolvimento com o crack 5.676 eram menores de 18 anos. Os dados, segundo a frente parlamentar se referem ao ano de 2011. Cerca de 6% dos usuários de crack
que procuraram o sistema público de saúde para tratamento eram menores
de até 13 anos de idade. Do total de pessoas que procuraram atendimento
para se tratar do vício, 21% tinham entre 14 e 20 anos de idade.
A Agência Brasil procurou a Secretaria Municipal de
Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo para confrontar os
números, mas não obteve retorno. Mas segundo o Censo da População em
Situação de Rua na Municipalidade de São Paulo, que foi divulgado pela
secretaria e que se encontra disponível em seu site oficial,
14.478 pessoas viviam nas ruas de São Paulo em 2011, sendo que 6.765
delas em situação de rua e 7.713 em centros de acolhimento da capital. O
censo apontou que mais da metade dessa população vivia na região
central. Desse total, 7.002 eram adultos, 1.455 idosos, 221 adolescentes
e 212 crianças. O censo também apontou que 743 viviam entre a Rua
Helvétia e a Alameda Dino Bueno, que fazem parte da chamada cracolândia.O atendimento de crianças e adolescentes dependentes é feito principalmente hoje por meio de organizações não governamentais ou pela prefeitura, que as encaminham para os centros de Atenção Psicossocial (Caps).
Procurada pela Agência Brasil, a prefeitura de São Paulo, por meio de suas secretarias de Assistência Social (que faz a abordagem das crianças e adolescentes em situação de rua) e de Saúde (responsável pelo atendimento e tratamento dessas crianças e adolescentes viciados em crack), não respondeu e nem explicou como é feita a abordagem e o tratamento desses menores e nem deu uma média de quantos deles são abordados nas ruas ou encaminhados para os centros de tratamento a cada mês.
O governo de São Paulo, que desde janeiro desenvolve um programa
voltado para a cracolândia, informou que as crianças e adolescentes,
assim como os adultos, são atendidos pelo programa, mas não forneceu
mais detalhes sobre como ele é desenvolvido, especificamente crianças e
adolescentes viciados em crack. A Secretaria Estadual de Saúde
declarou que algumas crianças e adolescentes são atendidos no Centro de
Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), mas que a grande
maioria é encaminhada para os Caps, de responsabilidade da prefeitura.
Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
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