8 de agosto de 2013 - À medida que dá início à vacinação contra a pneumonia no campo de refugiados de Yida, no Sudão do Sul, a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta que a comunidade internacional envolvida com vacinação está negligenciando a implementação de novas vacinas para crianças afetadas por crises.
Enquanto planejava imunizar crianças contra doenças pneumocócicas no campo de Yida, MSF enfrentou diversas barreiras na tentativa de adquirir vacinas mais novas a preços acessíveis e se viu obrigada a lidar com políticas burocráticas que excluem as necessidades das populações afetadas por conflitos.
“Crianças refugiadas são extremamente vulneráveis a doenças que podem ser prevenidas por vacinas. Por que continuamos a ouvir de farmacêuticas, organizações e financiadores envolvidos com a vacinação que essas crianças não são problema deles?”, pergunta Kate Elder, especialista em vacina da Campanha de Acesso a Medicamentos de MSF. “Devíamos estar fazendo todos os esforços para que crianças refugiadas fossem beneficiadas pelas vacinas mais recentes, ao invés de as deixarmos definharem em um ponto cego da comunidade global.”
As vacinas mais novas foram primeiramente introduzidas nos países pobres com o suporte da Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (GAVI), mas a iniciativa não cobre a vacinação de refugiados e pessoas afetadas por crises, deixando de atender imensas necessidades. Além disso, os descontos negociados pela GAVI não são sistematicamente disponibilizados para organizações humanitárias que atuam em contextos de crise. Apesar dos pedidos feitos aos envolvidos, inclusive às farmacêuticas Pfizer e GlaxoSmithKline (GSK), produtoras dessas novas vacinas, e à GAVI, um preço baixo global para organizações humanitárias como MSF não foi estabelecido.
Refugiados sudaneses começaram a cruzar a fronteira rumo ao Sudão do Sul em junho de 2011, quando irrompeu o conflito entre o governo de Cartum e os rebeldes do Movimento Popular de Libertação do Sudão do Norte (SPLM-N), no estado de Kordofan do Sul, no Sudão. No auge da crise no campo de Yida, em meados no ano passado, foram reportadas altas taxas de mortalidade entre crianças admitidas no hospital de MSF com infecções do trato respiratório, como a pneumonia, uma das principais causas de morte. As condições dos campos de refugiados tornam as crianças particularmente vulneráveis ao pneumococo, bactéria que mais causa a pneumonia, assim como a superlotação e a exposição a múltiplas estirpes da bactéria podem elevar ainda mais os riscos.
“A situação em Yida no ano passado foi dolorosa, com crianças morrendo de doenças que poderiam ter sido prevenidas por vacinas”, afirma Audrey Landmann, coordenadora de projeto de MSF em Yida no período.
MSF determinou que a vacina pneumocócica conjugada (PCV) poderia resultar em uma substancial redução da mortalidade em Yida. Esta é uma das primeiras vezes que a PCV está sendo usada em um campo de refugiados; e é a primeira utilização no Sudão do Sul.
MSF vinha trabalhando desde setembro de 2012 para conseguir PCV para usar no campo de Yida, mas tem enfrentado atrasos relacionados à lenta negociação e às restrições legais para a aquisição. As companhias fabricantes das vacinas propuseram uma doação, mas MSF evita doações porque procura uma solução sustentável para o problema, para que possa agir prontamente em contextos similares. A organização eventualmente conseguiu adquirir a vacina a um preço reduzido da GSK, mas, devido aos atrasos, a vacinação planejada foi postergada e está sendo realizada agora, em meio à estação das chuvas, o que representa um desafio em termos de logística.
“Tentamos há mais de dois anos encontrar uma solução para o acesso regular e a baixos custos às vacinas recentes, para que possamos agir rapidamente quando necessário, mas ainda não encontramos solução para o caso dos refugiados”, conta o Dr. Greg Elder, Diretor-adjunto de Operações de MSF em Paris. “Precisamos que as companhias farmacêuticas e a GAVI ofereçam o menor preço global para organizações humanitárias. Nós podemos salvar vidas de crianças em meio a crises; apenas nos deixem fazê-lo”.
O Brasil está ligado à GAVI, já que prometeu contribuir com 20 milhões de dólares. O repasse seria escalonado, de 2013 a 2031.
Presente em Yida desde outubro de 2011, MSF atualmente mantém um centro de saúde primária (média de 10 mil consultas por mês), um hospital de 60 leitos, uma unidade de tratamento para desnutrição e equipes médicas móveis que trabalham por todo o acampamento. A organização também está envolvida com o suprimento de água e a construção de latrinas. De maio de 2012 a maio de 2013, MSF tratou cerca de 3 mil crianças severamente desnutridas em Yida.
MSF atua na região que hoje constitui a República do Sudão do Sul desde 1983. A organização está trabalhando em seis dos dez estados do país, respondendo a emergências, como o deslocamento de pessoas em grande escala, influxos de refugiados, crises de desnutrição e surtos de malária e calazar, além de oferecer serviços de saúde básicos e especializados.
Médicos Sem Fronteira
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