domingo, 6 de novembro de 2011

Adoção por casais gays aumenta à medida que caem restrições legais nos Estados Unidos


NOVA YORK - Há dois domingos, Farid Ali Lancheros e George Constantinou reuniram 164 parentes e amigos em Nova York para o chá de bebê de seus filhos gêmeos que nascerão de uma barriga de aluguel nos próximos dias. Gustavo e Milena, os bebês gerados por inseminação artificial, vão participar do fenômeno de transformação da família americana, com crescente número de adoções e gestações de crianças que vão viver em famílias nas quais os pais são homossexuais. Na festa, Constantinou disse que eles são a verdadeira família moderna, brincando com o nome do seriado "Modern family", um hit da TV, no qual um casal gay adota uma menina. Nos Estados Unidos, estima-se que 1,2 milhão de crianças vivam em famílias com pai ou mãe homossexual.

- Sei que estamos rompendo barreiras, mas todo o amor e o apoio que estamos recebendo são medidas da aceitação social que uma família gay pode receber. Nossos pais estão eufóricos, minha mãe virá da Colômbia passar o primeiro mês dos bebês com a gente - disse Farid Ali.

Juntos há dez anos, Farid, de 47 anos, e George, de 35, são sócios no restaurante Bogotá Bistro, no Brooklyn, e começaram a planejar uma família há dois anos. A opção inicial foi pela adoção, mas os dois se sentiram inseguros com a falta de informações sobre a saúde da criança e de sua família biológica.

- Era uma aposta muito alta. Fiquei nervoso com a ideia de não saber o histórico dessa criança, da possibilidade de ela ter sofrido, de não ter sido bem alimentada durante a gravidez, um monte de problemas. Aí surgiu a ideia da barriga de aluguel - conta Farid Ali.

O casal procurou uma agência especializada em Boston e levou adiante o projeto, que custou US$ 160 mil, entre o valor pago à gestante e à doadora dos óvulos (uma mulher latina), mapeamento genético, plano de saúde, despesas de viagem, pagamento de advogados.

"Você realmente se sente no fim da fila"

O processo enfrentado por Farid e George foi curto, se comparado aos sete anos que Jeff Friedman e Andrew Zwerin esperaram para adotar Joshua, hoje com 8. Friedman, advogado, e Zwerin, gerente de firma de computação, são casados no papel e moram juntos há 26 anos em Long Island, Nova York. Apesar da estabilidade, viveram a experiência de muitos casais gays, que se sentem preteridos por agências de adoção.

- Você realmente se sente no fim da fila. Como gay, você se acostuma a atravessar a vida com uma dose de vergonha, com a sensação de ser um cidadão de segunda classe - disse Friedman, de 43 anos.

O caso de Joshua confirma uma das principais conclusões do estudo mais recente sobre o assunto, uma pesquisa divulgada no mês passado pelo Evan B. Donaldson Adoption Institute: 60% das adoções feitas por gays são interraciais. Os homossexuais tendem a adotar mais as crianças que estão nos abrigos, crianças mais velhas (10% dos adotados por gays têm mais de 6 anos), negras ou com algum problema de saúde.

- Uma assistente social deixou claro que casais heterossexuais teriam preferência sobre crianças "mais desejáveis". Mas não poderíamos estar mais felizes com o Joshua. Desde o dia em que o pegamos nos braços, recém-nascido, sentimos que ele era o nosso filho, e ele não poderia estar mais bem ajustado - disse Friedman.

As adoções por casais gays vêm crescendo significativamente, ao passo que caem as barreiras legais. No Censo de 2009, as crianças adotadas por gays eram cerca de 32 mil, em comparação com 8.300 no anterior, de 2000. Segundo estimativas do demógrafo Gary Gates, da UCLA (Universidade da Califórnia), o número de crianças e adolescentes em famílias onde o pai ou a mãe é gay chega a 1,2 milhão.

- A grande maioria não é adotada, provavelmente filha de relações anteriores, de antes de a pessoa se assumir como gay. Mas, como hoje as pessoas estão se assumindo mais jovens, a tendência é o número dessas situações diminuir, e o de adoções aumentar - disse Gates.

O Globo

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