quarta-feira, 9 de novembro de 2011

PF prende na Gávea policiais que escoltavam traficantes em fuga da Rocinha


RIO - Dez pessoas, entre policiais e traficantes, foram presas no início da noite desta quarta-feira, durante operação da Polícia Federal, quando cinco agentes civis e militares escoltavam cinco traficantes que esteriam fugido da Favela da Rocinha. A comunidade deve receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no próximo domingo. De acordo as primeiras informações, o grupo estaria dividido em quatro carros que foram interceptados por agentes da PF em frente ao Shopping da Gávea e ao Jóquei, na Zona Sul do Rio. Um dos bandidos presos é o traficante Anderson Rosa Mendonça, conhecido como Coelho, braço-direito do traficante Nem e chefe do tráfico no Morro de São Carlos. Nos carros foram apreendidas armas, granadas e drogas. Todos foram levados para a sede da PF, na Praça da Bandeira.

Entre os presos, segundo a PF, estão três policiais civis, sendo deles da Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) - Carlos Renato Rodrigues Tenório e Wagner de Souza Neves - e um da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Saúde Pública (DRCCSP) - Carlos Daniel Ferreira Dias. O grupo também conta com dois ex-PMs, José Faustino Silva e Flávio Melo dos Santos, de acordo com nota enviada pela PF na noite desta quarta-feira. Os outros cinco são traficantes. Além de Coelho, outro dos principais chefes do tráfico no Morro de São Carlos, no Estácio, também estaria entre os presos na noite desta quarta-feira. Sandro Luiz de Paula Amorim, o Lindinho ou Peixe, foi procurar abrigo na Rocinha logo após seu reduto ser ocupado por uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Ele foi encarregado de assumir também o comandos das favelas de Macaé, após a morte do traficante Roupinol, ocorrida em 2010. Os outros três bandidos são Paulo Roberto Lima da Luz, conhecido como Paulinho; Varquia Garcia dos Santos, conhecido como "Carré"; e Sandro Oliveiro.

Já segundo informações da assessoria dp Tribunal de Justiça, a Polícia Federal pediu auxilio à Vara de Execuções Penais para monitorar um dos integrantes do grupo. A PF sabia que ele, por ser foragido do sistema penal, estava usando uma puseira eletrônica. Através desse monitoramento, foi possível localizar o grupo.

A colunista Lu Lacerda estava na Gávea e presenciou a cena. Conforme descrito em seu blog , a "Santos Dumont, de pracinha bucólica que é, transformou-se numa zona de guerra". Segundo ela, quatro carros com policiais à paisana tentavam interceptar um Honda Civic de placa de final 5036, em frente ao Jockey Club. Um policial recebeu a denúncia, que foi confirmada quando dois carros da Polícia Civil conseguiram interceptá-los, e com eles encontraram pistola, fuzil, maconha, carregador de arma e granada. Os bandidos, inclusive o policial, foram jogados no asfalto, algemados e presos ali, diante de pedestres chocados, de acordo com a colunista: "Sirenes soavam, o trânsito parou, algumas pessoas corriam, outras berravam, com muito, muito medo." Uma estudante da Pontifícia Universidade Católica, na Gávea, também contou os momentos de tensão que viveu durante a operação. Em vídeo postado no Twitter , ela revela que agentes do Bope entraram na universidade.

A quatro dias da provável ocupação da Rocinha, as corregedorias da Polícia Civil e Militar investigam a denúncia de que o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, também deixaria a favela escoltado por um carro da polícia. Segundo o corregedor da Polícia Civil, delegado Gilson Emiliano, a informação de que Nem sairia escoltado foi passada pelo Disque-Denúncia (2253-1177) na manhã desta quarta-feira, e dá conta de que o traficante sairia da favela num carro preto com soldados do tráfico fortemente armados e escoltados por viaturas. A denúncia não mencionou se a escolta seria feita por policiais civis ou militares. Por precaução, Gilson Emiliano montou uma operação para evitar a fuga e prender os policiais. Até o momento nenhum suspeito foi preso.

- A denúncia, recebida às 10h40m, diz que Nem sairia num carro preto hoje ou amanhã. Enviei policiais da Coinpol em quatro carros escoltados por agentes da Core (Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais) em dois carros. Estamos revistando todos os veículos escuros e observando carros da Polícia caracterizados que entram e saem da favela - contou o corregedor da Polícia Civil, que informou ainda que um veículo da Coinpol com três agentes ficará de plantão na 15ª DP (Gávea) até quinta-feira para entrar em ação rapidamente.

O corregedor da Polícia Militar, coronel Waldir Soares, informou que delegou à 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) a investigação da denúncia. Segundo ele, agentes daquela unidade apoiam uma ação da Corregedoria Geral Unificada (CGU). O corregedor geral, o desembargador Giusepe Vitagliano, confirmou a denúncia e afirmou que já há equipes em campo para evitar a suposta tentativa de fuga do bandido e prender os policiais.

Segundo a polícia, o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na Rocinha, continua na comunidade. A Polícia Militar reforçou o patrulhamento nos acessos à Rocinha e à Favela do Vidigal, também na Zona Sul, inclusive com viaturas da corporação. Agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) ocupam a Vista Chinesa, uma das possíveis rotas de fuga de bandidos da Rocinha.

O Batalhão de Choque da PM realizou entre a noite de terça-feira e a manhã desta quarta uma operação na Favela da Rocinha. Cerca de 50 policiais, em 12 patrulhas, se fixaram em dois pontos (na saída da Rua 1 e na Estrada da Gávea) e começaram a revistar vans e outros veículos. Segundo o serviço reservado do batalhão, o objetivo da operação era impedir a fuga de bandidos. Não houve presos, e o clima era de tranquilidade na comunidade. Nesta manhã, os policiais do 23º BPM (Leblon) continuam fazendo patrulhamento nos arredores da comunidade.

Na terça-feira, o delegado titular da 15ª DP (Gávea), Carlos Augusto Nogueira Pinto, afirmou que instaurou um procedimento para investigar a denúncia de que Nem estaria intervindo nas associações de moradores na região. Há informações de que o traficante teria determinado a antecipação da eleição para a escolha dos presidentes das entidades.

Bandido cobra taxas de vans, motos e prostíbulo
A expectativa da ocupação da Rocinha e do Vidigal pela polícia, para a implantação de UPPs, fez com que Nem se reunisse com seus cúmplices na segunda-feira, na tentativa de antecipar as eleições em três associações. Segundo o delegado Carlos Augusto, o bandido estaria disposto a deixar pessoas de sua confiança à frente das entidades e de seus negócios ilícitos. O delegado explicou que, além do dinheiro do tráfico, Nem recebe uma espécie de "pedágio" de vans e motos que circulam nas favelas, além de cobrar taxas de uma clínica de aborto, interditada na semana passada, e de uma casa de prostituição.

Em novembro, a delegacia da Gávea já recebeu 20 informações do Disque-Denúncia sobre Nem. De acordo com o delegado, o bandido teria ido um dia à Praia de São Conrado.

- Chegamos a ir lá, mas ele não estava mais na praia. Não estamos deixando de averiguar nenhuma informação. Foi assim com a denúncia de que Nem se encontrava na UPA da Rocinha, recebendo tratamento médico . Havia cerca de 40 traficantes fazendo a segurança do bandido. Quando nos aproximamos da UPA, os criminosos soltaram fogos anunciando a nossa chegada - contou o delegado.

"Vai ser um alívio ver isso aqui sem os bandidos"
O clima nas duas comunidades na segunda-feira era um misto de alegria e apreensão por conta da futura ocupação para a instalação de UPPs. Helicópteros da Polícia Civil sobrevoaram a Rocinha e o Vidigal. Por medida de segurança, alguns moradores já deixaram as favelas, a fim de não pôr as famílias em risco no dia da ocupação.

- Estou aproveitando para viajar para o Nordeste. Volto quando as coisas se acalmarem. Vai ser um alívio ver isso aqui sem os bandidos. Os traficantes ficam na porta da gente xingando e tocando funk a todo o volume, na frente das crianças - reclamou um morador.

Moradora de São Conrado há 18 anos, a cantora Elba Ramalho compartilha de mesma apreensão da comunidade da Rocinha. Com três filhas pequenas, ela teme que a ocupação gere um confronto armado. Na expectativa, Elba diz esperar que a ação ocorra de forma "extremamente" organizada:

- Sou sempre a favor da paz e de uma sociedade organizada, mas fico muito temerosa pela ação em si, já que a grande maioria da população da Rocinha é formada por pessoas de bem e que não tem culpa. Por isso, a ação deve proteger quem mora na comunidade e quem mora ao redor - diz Elba.

* Do Extra

O Globo

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