O galês Cameron Thompson tem 14 anos e está estudando Matemática Aplicada na Open University. Em depoimento à BBC, ele fala sobre as dificuldades que enfrenta por ser um adolescente superdotado.
Aos dez anos, ele participou de um concurso de matemática na internet. "Eu fiz 140 pontos em um teste com pontuação máxima de 140. Quebrei o sistema, acho que me saí bem", conta.
Mas ser um gênio da matemática tornou-se a identidade completa de Cameron e participar da vida escolar e fazer amigos acabaram sendo relegados ao segundo plano.
"Tenho a sociabilidade de uma batata falante", ele admite.
"A maioria das pessoas da minha idade me despreza. É assim há anos. Estou acostumado a ser ignorado".
As bases do sucesso acadêmico de Cameron foram abaladas pelo fato de que suas notas na Open University vêm caindo. Por conta disso, ele está entrando em pânico.
No primeiro ano, suas notas foram altíssimas - 80% da pontuação máxima, algo que apenas 0,5% dos estudantes do curso consegue alcançar.
Porém, em um trabalho recente, Cameron obteve apenas 72% da pontuação. Uma ótima nota para a maioria das pessoas, mas não o suficiente para garantir a distinção que ele deseja.
"Estou com medo de não passar na Open University", ele diz. "Embora, tecnicamente, eu só devesse estar fazendo o curso daqui a cinco anos".
Recomeço
Embora Cameron consiga achar com facilidade as respostas para os problemas matemáticos, ele tem dificuldade em explicar como chegou a elas, o que diminui suas notas. Ele só poderá continuar o curso na Open University se conseguir melhorar sua pontuação.
Seus pais, Rod e Alison, moram perto de Wrexham, no País de Gales. Eles não têm certeza se a dificuldade do filho em explicar seu raciocínio se deve à sua idade ou ao fato de que recentemente ele foi diagnosticado como portador da Síndrome de Asperger, um tipo de autismo que ocasionalmente alia habilidade mental com problemas de comunicação.
"Aparentemente, muitas pessoas com (Síndrome de) Asperger são realmente inteligentes", diz Cameron. "Pessoas como Einstein e Newton, supostamente teriam (Síndrome de) Asperger".
A necessidade de melhorar suas notas no próximo trabalho preocupa Cameron. Mas a luta para se distinguir não é resultado de pressão dos seus pais e, sim, dele próprio. Para complicar a situação, o adolescente está entrando na puberdade.
"Minha mão notou que eu tenho um bigodinho", ele explica.
Os Thompson vão mudar de casa e Cameron vai começar a estudar em uma nova escola. A família espera que o recomeço ofereça uma oportunidade ao adolescente de formar uma nova vida social.
"Isso me dá uma chance de começar de novo", ele explica. "Eles acham que eu posso melhorar meu status social, em vez de ficar apenas lá embaixo".
"Se eu conseguir chegar ao meio, estarei menos sujeito a ser intimidado, pelo menos não fisicamente."
O adolescente espera conseguir fazer amigos. Com isso, ele acha que vai sofrer menos intimidações e agressões físicas.
A dificuldade em fazer amigos está associada à Síndrome de Asperger. A mãe de Cameron disse que o filho não consegue decodificar sinais sociais.
"Às vezes ele não tem o menor tato", ela diz.
"Ele é uma criança adorável, faz tudo por todo mundo. Ao mesmo tempo, se por um lado às vezes falta a ele um pouco de percepção, por outro, ele é muito sensível".
Escolher a escola certa para Cameron foi de extrema importância, porque seus pais querem que ele desenvolva várias aptidões, não apenas a acadêmica.
"Precisamos dar a ele um bom equilíbrio, temos de responder às suas necessidades emocionais e sociais e (permitir que ele) desenvolva uma ampla gama de habilidades", disse seu pai, Rod.
A nova escola de Cameron se especializa em educar crianças com vários graus de autismo e sua professora, Enid Moore, está ansiosa para que ele leve seus estudos sociais a sério.
Ela enfatiza que não é suficiente ter diplomas - Cameron precisa aprender a se relacionar com pessoas de sua própria idade e a manter amizades.
No primeiro dia de aula ele conheceu Tim, outro adolescente inteligente que também sofre de Síndrome de Asperger. Os dois têm interesses e problemas semelhantes, o que significa que podem dar apoio um ao outro nos momentos de dificuldade.
Tim falou à BBC: "É incrível ter um amigo novo porque ele é divertido... e ele também gosta dos mesmos jogos de computador que eu.
Matemática Aplicada
Nesse meio-tempo, Cameron prossegue com seu curso na Open University. Ele quer terminar o curso aos 16 anos. Sua última prova teve um resultado um pouco melhor: 77% da pontuação máxima. Isso significa que ele pode continuar no curso, mas ele não está satisfeito.
"Eu esperava mais de 80%", ele diz.
O matemático Imre Leader, do Trinity College, em Cambridge, fez uma avaliação da habilidade matemática do adolescente.
Ele sugeriu que Cameron diminua o ritmo um pouco e vá estudar matemática nas Universidades de Cambridge ou Oxford quando tiver 18 anos, com estudantes da mesma idade. Ele também recomendou que Cameron participe de cursos de verão com outros estudantes de matemática talentosos, vindos de outras escolas.
Cameron diz que ainda pretende concluir o curso na Open University, mas conta que os conselhos do professor Leader lhe deram uma outra opção de vida.
"Ele me ensinou que você precisa ir mais além na matemática, não apenas à superfície, mas lá dentro, nas profundezas. E como ele disse, há outras pessoas como eu, grande habilidade matemática, vidas escolares ruins".
Desde que completou 14 anos, Cameron vem se interessando por meninas. Recentemente, ele teve seu primeiro encontro com uma garota, desacompanhado dos pais.
"Comecei a me interessar por meninas há alguns meses", ele conta. "Comecei a gostar delas em vez de sentir repugnância por elas".
Com uma nova vida social e munido de um plano para o futuro mais a longo prazo, Cameron parece estar conquistando, aos poucos, uma vida mais equilibrada e feliz.
BBC Brasil
Aos dez anos, ele participou de um concurso de matemática na internet. "Eu fiz 140 pontos em um teste com pontuação máxima de 140. Quebrei o sistema, acho que me saí bem", conta.
Mas ser um gênio da matemática tornou-se a identidade completa de Cameron e participar da vida escolar e fazer amigos acabaram sendo relegados ao segundo plano.
"Tenho a sociabilidade de uma batata falante", ele admite.
"A maioria das pessoas da minha idade me despreza. É assim há anos. Estou acostumado a ser ignorado".
As bases do sucesso acadêmico de Cameron foram abaladas pelo fato de que suas notas na Open University vêm caindo. Por conta disso, ele está entrando em pânico.
No primeiro ano, suas notas foram altíssimas - 80% da pontuação máxima, algo que apenas 0,5% dos estudantes do curso consegue alcançar.
Porém, em um trabalho recente, Cameron obteve apenas 72% da pontuação. Uma ótima nota para a maioria das pessoas, mas não o suficiente para garantir a distinção que ele deseja.
"Estou com medo de não passar na Open University", ele diz. "Embora, tecnicamente, eu só devesse estar fazendo o curso daqui a cinco anos".
Recomeço
Embora Cameron consiga achar com facilidade as respostas para os problemas matemáticos, ele tem dificuldade em explicar como chegou a elas, o que diminui suas notas. Ele só poderá continuar o curso na Open University se conseguir melhorar sua pontuação.
Seus pais, Rod e Alison, moram perto de Wrexham, no País de Gales. Eles não têm certeza se a dificuldade do filho em explicar seu raciocínio se deve à sua idade ou ao fato de que recentemente ele foi diagnosticado como portador da Síndrome de Asperger, um tipo de autismo que ocasionalmente alia habilidade mental com problemas de comunicação.
"Aparentemente, muitas pessoas com (Síndrome de) Asperger são realmente inteligentes", diz Cameron. "Pessoas como Einstein e Newton, supostamente teriam (Síndrome de) Asperger".
A necessidade de melhorar suas notas no próximo trabalho preocupa Cameron. Mas a luta para se distinguir não é resultado de pressão dos seus pais e, sim, dele próprio. Para complicar a situação, o adolescente está entrando na puberdade.
"Minha mão notou que eu tenho um bigodinho", ele explica.
Os Thompson vão mudar de casa e Cameron vai começar a estudar em uma nova escola. A família espera que o recomeço ofereça uma oportunidade ao adolescente de formar uma nova vida social.
"Isso me dá uma chance de começar de novo", ele explica. "Eles acham que eu posso melhorar meu status social, em vez de ficar apenas lá embaixo".
"Se eu conseguir chegar ao meio, estarei menos sujeito a ser intimidado, pelo menos não fisicamente."
O adolescente espera conseguir fazer amigos. Com isso, ele acha que vai sofrer menos intimidações e agressões físicas.
A dificuldade em fazer amigos está associada à Síndrome de Asperger. A mãe de Cameron disse que o filho não consegue decodificar sinais sociais.
"Às vezes ele não tem o menor tato", ela diz.
"Ele é uma criança adorável, faz tudo por todo mundo. Ao mesmo tempo, se por um lado às vezes falta a ele um pouco de percepção, por outro, ele é muito sensível".
Escolher a escola certa para Cameron foi de extrema importância, porque seus pais querem que ele desenvolva várias aptidões, não apenas a acadêmica.
"Precisamos dar a ele um bom equilíbrio, temos de responder às suas necessidades emocionais e sociais e (permitir que ele) desenvolva uma ampla gama de habilidades", disse seu pai, Rod.
A nova escola de Cameron se especializa em educar crianças com vários graus de autismo e sua professora, Enid Moore, está ansiosa para que ele leve seus estudos sociais a sério.
Ela enfatiza que não é suficiente ter diplomas - Cameron precisa aprender a se relacionar com pessoas de sua própria idade e a manter amizades.
No primeiro dia de aula ele conheceu Tim, outro adolescente inteligente que também sofre de Síndrome de Asperger. Os dois têm interesses e problemas semelhantes, o que significa que podem dar apoio um ao outro nos momentos de dificuldade.
Tim falou à BBC: "É incrível ter um amigo novo porque ele é divertido... e ele também gosta dos mesmos jogos de computador que eu.
Matemática Aplicada
Nesse meio-tempo, Cameron prossegue com seu curso na Open University. Ele quer terminar o curso aos 16 anos. Sua última prova teve um resultado um pouco melhor: 77% da pontuação máxima. Isso significa que ele pode continuar no curso, mas ele não está satisfeito.
"Eu esperava mais de 80%", ele diz.
O matemático Imre Leader, do Trinity College, em Cambridge, fez uma avaliação da habilidade matemática do adolescente.
Ele sugeriu que Cameron diminua o ritmo um pouco e vá estudar matemática nas Universidades de Cambridge ou Oxford quando tiver 18 anos, com estudantes da mesma idade. Ele também recomendou que Cameron participe de cursos de verão com outros estudantes de matemática talentosos, vindos de outras escolas.
Cameron diz que ainda pretende concluir o curso na Open University, mas conta que os conselhos do professor Leader lhe deram uma outra opção de vida.
"Ele me ensinou que você precisa ir mais além na matemática, não apenas à superfície, mas lá dentro, nas profundezas. E como ele disse, há outras pessoas como eu, grande habilidade matemática, vidas escolares ruins".
Desde que completou 14 anos, Cameron vem se interessando por meninas. Recentemente, ele teve seu primeiro encontro com uma garota, desacompanhado dos pais.
"Comecei a me interessar por meninas há alguns meses", ele conta. "Comecei a gostar delas em vez de sentir repugnância por elas".
Com uma nova vida social e munido de um plano para o futuro mais a longo prazo, Cameron parece estar conquistando, aos poucos, uma vida mais equilibrada e feliz.
BBC Brasil
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