RIO - Policiais fardados no pátio e dentro das salas de aula não são um sinal de insegurança na Escola Municipal Pedro Aleixo, na Cidade de Deus. Muito pelo contrário: são eles os responsáveis pelas aulas de música e capoeira que atraem cada vez mais a atenção de estudantes. A unidade é uma das que impulsionaram o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de colégios da prefeitura localizados em regiões pacificadas. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que as 24 escolas que oferecem do 1º ao 5º ano do ensino fundamental (primeiro segmento) nessas áreas tiveram um crescimento médio de 11,8% nas notas entre 2009 e 2011, passando de 4,48 para 5,01. As 90 em locais ainda sob o domínio do tráfico ou da milícia evoluíram 6,8% (de 4,72 para 5,04) no período. A melhoria nas notas das outras 592 escolas foi de 7,7% (5,2 para 5,6).
No segundo segmento (6º ao 9º ano), o crescimento é mais claro. Os oito colégios em áreas pacificadas registraram um aumento médio de 42,8% nas notas do Ideb, que subiram de 2,8 para 4. As 31 unidades em áreas conflagradas cresceram 28,2% (3,15 para 4,04). Uma evolução maior que a do restante da rede (332 escolas), de 25% (3,6 para 4,5). A nota do Ideb leva em conta provas de português e matemática e taxas de aprovação.
- Fica evidente que a pacificação ajuda e muito as escolas. Os relatos de diretores, além das próprias notas, mostram isso. Mas também é motivo de comemoração o fato de termos tido, no segundo segmento, por exemplo, um aumento do Ideb superior ao do restante da rede, mesmo em áreas que ainda sofrem com a violência. Tanto as unidades em locais pacificados quanto aquelas que ainda sofrem com a violência têm desde 2009 ações de reforço do projeto Escolas do Amanhã - diz a secretária municipal de Educação, Claudia Costin.
Queda na evasão também foi constatada
Um outro fator que chama a atenção nos colégios em regiões pacificadas é a queda da evasão escolar. No primeiro segmento, de 24 unidades, 14 conseguiram reduzir os índices de abandono de alunos entre 2009 e 2011, e duas mantiveram as taxas estáveis. No segundo segmento, de oito, cinco diminuíram o percentual de alunos que deixam as salas de aula ao longo do ano letivo. O caso da Pedro Aleixo, na Cidade de Deus, é emblemático: no primeiro segmento, o abandono saiu de 18% em 2009 para 3,1% no ano passado.
- A violência dificultava muito a frequência. Sempre que havia conflitos os pais ficavam receosos. Hoje não vemos mais pessoas armadas no entorno - destaca a diretora da Pedro Aleixo, Patrícia Pacini.
O mesmo aconteceu no Ciep Presidente João Goulart, no Andaraí. A taxa de abandono entre 2009 e 2011 no primeiro segmento caiu para menos da metade: de 5,8% para 2,4%. A unidade também foi uma das que mais evoluíram no Ideb, saindo de uma nota de 3,1 para 4,5. Com estudantes do Morro dos Macacos e do Complexo do Andaraí, que eram comunidades rivais, a diretora da escola, Ana Maria dos Reis, conta que alguns atritos entre alunos desapareceram após a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) em 2010 nos dois morros:
- Para reduzir a evasão, também passamos a trabalhar em conjunto com o conselho tutelar e os pais ou responsáveis pelas crianças para descobrir os motivos das faltas e como evitá-las.
Ao mesmo tempo, as unidades do projeto Escolas do Amanhã se destacaram no ranking do Ideb mesmo em áreas não pacificadas. O Ciep Heitor Villa Lobos, em Antares, na Zona Oeste, registrou um dos melhores desempenhos no primeiro segmento de toda a rede municipal: saiu de 3,9 em 2009 para 6,6 em 2011. A nota supera a média da capital do país que melhor se saiu no índice (Florianópolis, com 6). O Rio teve média geral de 5,4, ficando na sexta posição.
- Trabalho na escola desde 1986 e sou diretora desde 1990. A maior parte de nossa equipe está aqui há muito tempo, todos vestiram a camisa mesmo. O Ciep não perdeu as suas características originais: funciona desde a inauguração em sistema de horário integral - diz a diretora Luzinete Costa dos Santos.
A secretária Claudia Costin reforça a importância do projeto Escolas do Amanhã para auxiliar na tarefa de educadores em áreas violentas:
- Temos vários elementos importantes no projeto: oficinas de reforço escolar, artes e esporte; um programa de ciências com abordagem interdisciplinar; iniciativas culturais organizadas pelos próprios alunos, além de toda a capacitação que realizamos para desfazer bloqueios cognitivos que advêm de exposição à violência. As mães educadoras, que ficam nas escolas para dar apoio, e a presença de coordenadores em mediação de conflitos também foram muito importantes.
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