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domingo, 28 de outubro de 2012
Pacificada, favela do Rio agora atrai moradores estrangeiros
Eles nunca se imaginaram num barraco, mas resolveram morar em um morro no Rio e se somaram aos 22% da população carioca --cerca de 1,4 milhão-- que vive em favelas.
São empresários, jornalistas e fotógrafos, em geral jovens, vindos de Paris, Barcelona, Buenos Aires e outros lugares no exterior.
Escolheram favelas que foram retomadas pelas forças de segurança. Algumas delas já receberam UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora).
"O povo te faz sentir parte de um lugar e de seus momentos. Os problemas se superam com um jeito de viver alegre e relaxado", diz o jornalista espanhol Edgar Costa, 34, que comprou um dúplex no Vidigal há um ano.
Costa aterrissou no Rio para gravar uma reportagem sobre o Carnaval e nunca mais voltou. Investiu R$ 60 mil em uma casa de dois andares. "Um presente", diz, pois no seu país é impossível achar algo por esse preço. "Mas é caro se consideramos que falamos de uma favela."
Ele conta que na Espanha não iria para um bairro marginal nem de visita. "Mas aqui vejo meu quintal com outros olhos, gosto das cores, dos meninos empinando pipa... E estou morando de frente para o mar."
Além do Vidigal, com 9.678 moradores, as favelas Pavão-Pavãozinho, Cantagalo, Santa Marta e a Rocinha, todas na zona sul, são as mais procuradas por estrangeiros, segundo Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi-RJ (sindicato da habitação).
"São muitos, mas não temos como medir o número de estrangeiros que se interessaram por casas nas favelas", explica Schneider.
Sem condições de dar números exatos, a Associação de Moradores do Vidigal diz que, de um ano para cá, o número de estrangeiros procurando casas aumentou consideravelmente. Calcula que até 200 estrangeiros passaram pelo escritório no último ano.
Os preços nas favelas, segundo moradores e agentes imobiliários, subiram muito.
Ficou difícil encontrar uma casa. "Não tem oferta. São muitos estrangeiros e brasileiros vindo", diz Roberto dos Santos, 39, morador do Pavão-Pavãozinho.
Isabela do Nascimento, 17, o marido e o filho de dois anos moram na casa da mãe dele. "Há quatro meses procuramos casa, mas pedem mais de R$ 500 por uma pequena com sujeira, mofo e umidades", reclama.
No Chapéu Mangueira, onde há apenas três estrangeiros entre os 3.000 moradores, o argentino Alejandro Karpowicz, 40, criou com a baiana Jamylli, sua mulher, a Marmita Popular Brasileira.
Ele sobe e desce o morro para entregar os pedidos dezenas de vezes por dia.
"Moramos em frente à praia, rodeados de natureza e ficamos perto de tudo", diz Karpowicz. O casal paga R$ 350 mensais por um quitinete com terraço e vista para a praia do Leme.
"É legal o fato deles se interessarem pela vida e a cultura da gente. A maioria das pessoas tem preconceito", opina Hortênsio Cavalcante, 36, gerente de restaurante e morador da Rocinha.
Folha OnLine
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