segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ligação de Elize para PM relatando ameaça foi premeditação, diz promotor


Defesa afirma que acusação é deturpada

“Mais uma prova de que houve premeditação do crime”. Foi desta forma que o promotor José Carlos Cosenzo, do 5º Tribunal do Júri da capital, avaliou a denúncia feita, em abril, por Elize Matsunaga contra o marido, o herdeiro da Yoki Marcos Matsunaga.

Pouco menos de um mês antes de assassinar o empresário, Elize ligou para a Polícia Militar, relatando que estaria sendo ameaçada por Marcos. Na gravação que o R7 teve acesso, ela relata:

— Meu marido saiu de casa e me ameaçou e eu queria saber se eu posso trocar a fechadura.

O atendente pergunta se Elize quer cadastrar a ocorrência para que um policial seja enviado ao local. O telefonema foi anexada ao processo sobre o assassinato do executivo.

Para o promotor José Carlos Cosenzo, a ligação mostra que ela estava sendo orientada.

— Isso prova que ela já estava sendo orientada muito tempo antes para preparar esse crime. Ela é bacharel em direito e tinha pleno conhecimento daquilo que estava fazendo. Estava sendo assessorada por um advogado, que era professor de direto dela, segundo ela mesma disse. Desapareceu do local quando a polícia ligou. A polícia passou lá na frente (do prédio na Carlos Weber, onde o casal morava) e foi indagar o porteiro se havia algum problema. Ele respondeu que não, que nunca houve nada.

O promotor destacou ainda que Elize, ao ligar para o 190, não especificou que tipo de ameaça estaria sofrendo e quando teria sido feita. Cosenzo afirmou também que, após a comunicação à polícia, a acusada não tomou qualquer providência.

— Não apresentou uma queixa-crime, não fez um boletim de ocorrência, não fez nada. Quando a polícia retornou a ligação, ela não atendeu mais o telefone.

Para o promotor, o episódio da denúncia, conjugado com outras provas do processo, mostram que houve uma “sequência lógica”.

— Por exemplo, quando ela saiu estrategicamente para ir ao Paraná, deixou uma empregada monitorando os passos do Marcos, porque sabia que ele a estava traindo, ou seja, é uma sequência lógica: ela comunica a polícia, junta testemunha de que Marcos a estava traindo, contrata um detetive para provar a traição.

Cosenzo criticou o que chamou de “tática abominável e absolutamente antiética, que é ofender aquele que não pode se defender”.

— Agora, a defesa está querendo satanizar a vítima e canonizar a assassina. Eles estão querendo demonizar a vítima, que não tem nenhuma mácula. Durante toda a instrução processual, não há uma única testemunha que tenha dito que ele (Marcos) ameaçou, que um dia agrediu, que um dia falou mais ríspido com Elize. Nenhuma testemunha. Quem está sendo julgado não é o Marcos. A frieza maior de Elize é querer desmoralizar o pai da filha dela e a pessoa que a tirou da prostituição.

“Vou acabar com você”

Já a defesa da ré afirma que a visão da promotoria está completamente deturpada. Segundo o advogado Luciano Santoro, Marcos teria ameaçado Elize. Ele teria dito “Eu vou acabar com você”.

— É deixar de enxergar o óbvio. Eu tenho certeza que a opinião do juiz e dos jurados será completamente diferente da acusação. Saberão afastar a fantasia da realidade. Dizer que isso é premeditação é um absurdo. É querer tapar o sol com a peneira.

O caso

O empresário, herdeiro da Yoki Alimentos, foi encontrado morto e esquartejado na Estrada dos Pires, região rural, em Cotia, na Grande São Paulo, no dia 27 de maio. O corpo foi localizado cerca de uma semana após o desaparecimento, cortado em pedaços. A mulher do empresário, Elize Matsunaga, 30, confessou o assassinato e o esquartejamento no dia 6 de junho. De acordo com as investigações, Elize suspeitava que o marido estivesse tendo um caso e contratou um detetive particular para segui-lo. O profissional confirmou a traição. Na versão da mulher, o empresário foi morto com um tiro após uma discussão do casal. Ela afirmou que esquartejou o corpo do marido sozinha, mas, em outubro, a promotoria pediu a abertura de um novo inquérito para investigar a presença de duas ou mais pessoas na cena do crime.

A solicitação foi sustentada em provas técnicas. Uma delas surgiu a partir da reconstituição do assassinato. Durante o procedimento, foram feitas perícias em objetos e análises de amostras de material biológico coletados no local. O laudo indicou a existência de material genético de Marcos e de outras duas pessoas dos sexos masculino e feminino.

A outra prova técnica foi o laudo necroscópico, que apontou diferenças de cortes durante o esquartejamento da vítima.

O laudo mostrou ainda que a trajetória da bala que atingiu a cabeça de Marcos foi de cima para baixo, contrariando a versão apresentada por Elize. Ela afirmou que atirou na vítima quando ambos estavam de pé, após levar um tapa durante uma briga por ciúme. Como tem estatura menor que a de Marcos, a trajetória da bala teria que ser, necessariamente, de baixo para cima. Outra contradição levantada pelo perito foi quanto ao esquartejamento. De acordo com Elize, após atirar no marido, ela deixou o corpo dele por dez horas no quarto de hóspedes antes de começar a cortá-lo. Isto só teria ocorrido, de acordo com ela, quando o executivo já estava morto.

A perícia, no entanto, mostrou que o empresário morreu por traumatismo craniano, provocado pelo tiro, associado à asfixia por ter aspirado sangue durante a decapitação.

R7

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