sábado, 23 de março de 2013

Índios devem ficar um ano em alojamento na Zona Oeste do Rio


Operários trabalham para entregar alojamento provisório neste domingo.
Indígenas devem se mudar quando Centro de Referência for construído.


Os índios retirados do terreno que ocupavam no Maracanã, na Zona Norte do Rio de Janeiro, devem passar cerca de um ano em um alojamento provisório junto ao Hospital Curupaiti, em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade, antes de irem para um local definitivo, informou neste sábado (23) a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado, que pretende entregar a residência temporária aos índigenas às 10h deste domingo (24).

Na sexta-feira (22), houve confronto entre a Polícia Militar e alguns dos indígenas, além de militantes, durante a desocupação do antigo Museu do Índio, que o grupo chamava de "Aldeia Maracanã".

A intenção dos indígenas era ocupar o local ainda neste sábado, mas isso não foi possível porque cerca de 50 operários trabalham no terreno para tentar concluir, em um único dia, as instalações e a ligação da rede de água e esgoto. Futuramente, o grupo deve se mudar para um terreno próximo, onde o governo do estado construirá o Centro de Referencia Indígena.

"O fato de eles terem aceitado ir primeiro para um alojamento provisório reduz o prazo para construção do Centro de Referência Indígena, que inicialmente era previsto em 18 meses. Mas ainda teremos que discutir a obra com os indígenas, depois licitar", disse o secretario estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, que visitou as obras do alojamento neste sábado. Ele não especificou quanto deve demorar a obra do centro que abrigará os índios, mas concordou que o tempo deve ser em torno de um ano.

Noite em hotel
Os índios passaram a noite desta sexta-feira (22) no terceiro andar do Hotel Acolhedor Santana 2, no Centro, oferecido pela prefeitura. As condições não agradaram o grupo. Afonso Apurinã esteve entre os 12 índios que foram ao albergue, mas saíram depois de almoçar, reclamando da comida, especialmente do arroz "duro" e do frango "horrível". Um deles, identificado apenas como Tiago, disse que não voltaria, afirmando que iria voltar a morar em Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste, onde sua família vive.

Segundo a Secretaria de Assistência Social, os índios visitaram os três locais oferecidos pelo estado, e optaram pelo terreno de Jacarepaguá, pelo tamanho, de 2 mil m² e a proximidade do trecho de matas da antiga colônia. De acordo com a secretaria, os alojamentos para residência temporária terão beliches e contêineres para cozinha e banheiros.

No total, 35 índios viviam no acampamento no Maracanã, segundo o defensor público da União Daniel Macedo, que intermediou as negociações, terminadas em conflito com uso de gás de pimenta e tiros de balas de borrancha por policiais militares do Batalhão de Choque. O confronto começou depois que uma fogueira acesa em meio a um ritual incendiou uma espécie de oca que eles mantinham inprovisada. O fogo foi apagado às pressas pelos bombeiros, antes que se espalhasse pela vegetação.

Um racha entre as índios que habitavam fez com que dois dos 17 grupos indígenas tentassem resistir à retirada, disse o artesão Kawatá Pataxó, que havia chegado ao acampamento do Maracanã há uma semana, vindo de Porto Seguro, na Bahia, e estava entre os que chegaram para passar a noite no albergue do Centro do Rio. "Todas as etnias aceitaram sair, menos Guajajara e Caiapó", contou.

Defensoria segue no caso
Daniel Macedo afirmou, na noite desta sexta-feira (22), que Defensoria pública da União (DPU) vai acompanhar os desbodramentos porque, segundo ele, não basta colocar o grupo em um terreno em Jacarepaguá. "Esse espaço não pode ser apenas um alojamento, para deixá-los lá. Tem que se criar uma estrutura digna para que eles consigam viver", disse

O defensor, acrescentou que a conduta da Polícia Militar será investigada. "Vamos apurar as responsabilidades, porque houve abuso de autoridade. Pedimos 10 minutos para negociar com os últimos índios que insistiam em permanecer no local. Eles estavam saindo, mas as autoridades determinaram a invasão. Jogaram spray de pimenta numa atitude truculenta".

Ocupantes reclamam de albergue
No Hotel Santana, os ocupantes têm que sair às 9h e tem horário de 16h as 22h para retornar. Os ocupantes, que podem ficar no albergue de dois a três meses, são advertidos caso não retornem no horário e, na terceira vez, expulsos. Eles criticam as condições do local. Um dos hóspedes, que não quis se identificar, com medo de expulsão, diz que, mal chegou, há 20 dias, já teve R$ 700 roubados em roupas.

Os armários não têm chaves e os furtos são comuns, segundo o faxineiro Ivonaldo Albuquerque, de 48 anos, que trabalha na Câmara dos Vereadores, no Centro, e "morava muito longe, em Santa Cruz [na Zona Oeste, a quase 80 km do Centro]", por isso, foi para o abrigo, de onde deve sair para morar de aluguel na Lapa, também no Centro.
"Nos dois meses em que eu estou aqui, teve um monte de furto, pelo menos uns cinco", conta.

Para evitar esse problema, o pedreiro Marco Antonio Coimbra, de 50 anos, conta que dorme com a carteira "dentro da roupa".

Por sua vez, Alex Fagner de Oliveira, de 29 anos, queixa-se da limitação de horário, que dificulta na hora de conseguir um trabalho a poder sair do abrigo.

"Cheguei aqui no dia 27 [de fevereiro], vindo de Macaé [no Norte Fluminense], e, no dia 4, arrumei emprego de garçom no Arábia Saudita, restaurante aqui perto, no Bairro de Fátima, mas eles exigiam que, toda vez em que eu passasse das 22h, o dono do restaurante assinasse um papel dizendo que eu estava trabalhando. Não dava para fazer isso sempre. Por isso, depois da primeira advertência, pedi para sair do emprego, para não ser expulso daqui", contou.

G1

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