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sábado, 27 de outubro de 2012
Colega de quarto confessa ter matado estudante e atribui crime a bullying
Crime ocorreu em república no Jardim Botânico; família da vítima veio do Ceará para liberar corpo do jovem
RIO — Depois de um depoimento de 15 horas, o estudante de matemática Bruno Euzébio dos Santos, de 26 anos, confessou, na noite desta sexta-feira, que matou o colega de quarto José Leandro Pinheiro, de 21 anos, porque era vítima de bullying. Segundo o diretor da Divisão de Homicídios (DH), Rivaldo Barbosa, a confissão ocorreu na presença dos pais do autor do crime e de um psicólogo. Bruno, no entanto, não disse se era tratado por algum apelido, mas relatou que as risadas dos jovens da república no Jardim Botânico, onde ocorreu o crime, o incomodavam. O indiciado será levado para uma unidade prisional em Bangu no sábado.
Ele contou que, na noite da última quarta-feira, véspera do dia do crime, ele não conseguia dormir por causa dos colegas que ficaram conversando até tarde. Antes de cometer o assassinato, Bruno tentou abafar o som das conversas dos colegas colocando um fone de ouvido com música no último volume, mas disse não ter conseguido se concentrar nos estudos. Segundo o delegado, ele disse que as vozes persistiam em sua cabeça. Depois de tomar vodca com Coca-Cola e tranquilizantes, Bruno disse que pegou uma pedra de 30 centímetros que escorava a porta do térreo e atacou o colega, desferindo, em seguida, quatro facadas no peito dele. O criminoso foi achado desacordado na cozinha da república, com as mãos sujas de sangue, enquanto José Leandro estava morto no quarto. Segundo Rivaldo, Bruno contou que achava que os colegas estavam rindo dele.
— Até a tosse de José Leandro o irritava. Isso gerou um distanciamento social profundo entre Bruno e os colegas. Ele disse que se sentiu vítima de bullying. Seu temperamento era de uma pessoa calada, instrospectiva, enquanto os colegas brincavam. Estou estudando a possibilidade de pedir um exame de sanidade mental dele — disse Rivaldo, que indiciou Bruno por homicídio qualificado.
Os dois jovens eram alunos do curso de mestrado do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Bruno estava há 1 ano e 8 meses no Rio. Ao perceber que o convívio social estava insuportável, Bruno contou em depoimento que procurou dois psiquiatras, um na Barra de outro em Copacabana. Segundo o delegado, um deles receitou um remédio que impedia o estudante de dormir. Ele tomava ainda remédios controlados como Fluoxetina e Rivotril.
— Depois do crime, Bruno tentou se suicidar com vodca e vários comprimidos de rivotril. O depoimento dele confirmou o que a perícia relatou no laudo. Ele achava que as pessoas zombavam dele. Ele foi indiciado por homicídio qualificado porque não possibilitou a defesa da vítima. Para a DH o caso está elucidado, porque foi esclarecida a motivação, dinâmica do evento, além de ele ter sido autuado em flagrante — contou Rivaldo.
Família chega do Ceará para reconhecer corpo
A Divisão de Homicídios criou um Serviço de Estudo Comportamentais, com psicólogos que acompanham os casos onde há indícios de problemas psicológicos por parte dos suspeitos da autoria do crime. É o quinto caso que o serviço ajuda a elucidar. O pai de Bruno, José Enivaldo dos Santos, de 53 anos, que veio de Sergipe por causa do crime, pediu desculpas à família de José Leandro pela morte dele.
O agricultor Nestor Pinheiro, de 48 anos, após reconhecer o corpo do filho José Leandro, no Instituto Médico-Legal, revelou que o rapaz nunca comentou com a família nada de ruim sobre os colegas da república onde morava no Jardim Botânico. O último contato de José Leandro com a família ocorreu na terça-feira passada. Na ocasião, ele disse que estava feliz e que tinha comprado a passagem para o passar o fim de ano com a família no Ceará. Segundo Nestor, a mãe do rapaz, Josefa Maria Pinheiro, ficou muito abalada com a morte do filho e preferiu não vir ao Rio. A vítima tinha outros quatros irmãos, dois homens e duas mulheres.
Mãos sujas de sangue
Bruno foi achado desacordado na cozinha da república, com as mãos sujas de sangue. Ele foi levado para o Hospital Miguel Couto, onde permaneceu internado até esta sexta-feira, algemado, sob custódia da Polícia Militar. Peritos encontraram no quarto de José Leandro a pedra usada no crime, de cerca de 30 centímetros, suja de sangue e com vestígios de pele. Policiais também acharam duas facas sujas de sangue sobre um armário que fica entre a cozinha e o quarto de nove metros quadrados que os dois dividiam há cerca de um ano. No quarto de José Leandro e Bruno, a polícia achou, ainda, dois vidros de tranquilizantes vazios.
Na quinta-feira, o delegado Rivaldo Barbosa disse que não havia sinais de luta corporal na república, nem de uso de drogas. A perícia, segundo o delegado, mostrou que José Leandro havia sido atingido pela pedra quando estava deitado na cama: ele estava deitado, dormindo ou falando ao celular.
Na quinta-feira, sete estudantes do Impa, cinco deles estrangeiros, o caseiro e o gerente da república, além do coordenador do curso, prestaram depoimento na Divisão de Homicídios. Todos disseram desconhecer qualquer desavença entre os dois colegas de quarto. Os moradores da república, entre eles um belga e um cubano, chamaram a atenção para o fato de Bruno, que nasceu em Sergipe, ser muito retraído. Ele mal falava com os colegas da república.
Jovem estudioso e campeão de olimpíadas de matemática
Natural do Ceará, José Leandro nasceu na cidade de Deputado Irapuan Pinheiro, no sertão do estado, a cerca de 250km de Fortaleza. Filho de agricultores humildes, ele tem cinco irmãos. Ficou na cidade até os 14 anos e, por ser muito inteligente, ganhou uma bolsa de estudos para fazer o ensino médio numa escola agrícola em Iguatu, a 50km de Irapuan. Concluiu o curso aos 17 anos e, aprovado para estudar matemática na Universidade Federal do Ceará, mudou-se para a capital cearense, onde se formou aos 20 anos. Após um curso de 45 dias, foi selecionado para fazer o mestrado em matemática no Impa.
José Leandro, de acordo com o amigo Thiago Dourado, ganhou várias medalhas em olimpíadas de matemática. Em Deputado Irapuan Pinheiro, Elessandra Pinheiro Holanda, tia de José Leandro, disse que o sobrinho sempre foi um rapaz discreto, obediente e dedicado aos estudos.
A família de José Leandro soube da notícia da morte de Leandro na manhã de quinta-feira, por volta das 11h (horário local), por meio de um telefonema do Impa à prefeitura de Deputado Irapuan Pinheiro. Segundo Antônio Ícaro Pinheiro Vieira, funcionário da prefeitura que atendeu a ligação, a população da cidade está chocada com o ocorrido.
Impa decreta luto de dois dias
O Impa suspendeu as aulas nesta quinta-feira e na sexta, decretando luto oficial de dois dias. Em nota, o Impa informou também que está prestando toda a assistência necessária aos parentes de José Leandro, que vivem no Ceará.
O Globo
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