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terça-feira, 26 de abril de 2011
Imagens mostram casa de R$ 1 milhão de traficante da Rocinha
Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, comanda o crime na favela há dez anos.
Com uma câmera escondida, um informante da polícia subiu a Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em uma segunda-feira.
No dia seguinte, é a vez da polícia entrar na maior favela do Brasil, com um endereço nas mãos. É lá, protegida no alto, que fica a mansão do traficante mais procurado do Rio.
Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, é há 10 anos o chefe do tráfico na favela. Nem quase não se deixa fotografar e pouco fala ao telefone.
Fantástico - Como que o Nem faz para se esconder dentro de uma favela que é encravada no coração do Rio?
Rafael Willis - delegado da Polícia Civil - A Favela da Rocinha é uma favela muito grande, onde ele conhece todas as vielas, conta com uma Mata Atlântica colada à favela enorme que tem várias trilhas. Enfim, é um ambiente propício pra ele se esconder. Os outros moradores têm medo, portanto eles procuram não denunciar onde ele está.
Depois que a polícia retomou o Complexo de Favelas do Alemão, há seis meses, e enfraqueceu o tráfico de drogas naquela área, Nem se tornou o maior traficante da cidade.
De acordo com a Polícia Civil, ele tem 200 homens sob seu comando. Vende 200 quilos de cocaína por semana, numa operação que fatura por ano R$100 milhões.
Nem ficou conhecido no Brasil quando um grupo de traficantes invadiu o Hotel Intercontinental, no ano passado, e fez reféns. Nem conseguiu escapar da polícia.
Quase oito meses depois, na última segunda-feira, um helicóptero fez um levantamento minucioso na Rocinha. Lá, no meio da favela, aparece uma grande laje branca: é a casa de Nem. Um pouco mais à frente, um toldo encobre toda a rua: é mais um item importante do esquema de segurança do bandido, para não ser visto do alto.
Mas, agora, o equipamento infravermelho da polícia enxerga até debaixo da lona, onde estão os traficantes responsáveis pela segurança do quartel-general de Nem. Eles usam motos para circular pelas ruas estreitas da favela.
Mas a segurança não evitou que a polícia invadisse a casa. O Fantástico teve acesso exclusivo às imagens. É uma casa de três andares. Logo na entrada, uma montanha de brinquedos. Paredes de tijolo de vidro. Na sala, teto rebaixado de gesso, bar bem abastecido e equipamentos sofisticados de TV. Na cozinha, uma geladeira de última geração.
Ao subir para o andar superior, a polícia achou um salão de festas e uma academia de ginástica. Mas ainda tinha mais uma piscina com deck. A cobertura destoa completamente da laje dos vizinhos. É toda cercada de vidros fumê com iluminação. E ainda oferece uma vista espetacular para o mar e para a Pedra da Gávea.
Fantástico - O Nem, mesmo morando lá no interior da Rocinha, ele tinha uma vida podemos dizer de luxo?
Rafael Willis - Exatamente. Por isso ele não sai da comunidade. Ele sabe que ele é um alvo hoje da polícia. Ele não sai de dentro da comunidade, mas ele vive muito bem. Ele vive como se fosse um rei lá dentro.
O Fantástico levou as imagens da casa do traficante nem para serem avaliadas pelo dono de uma grande corretora de imóveis.
“Essa casa não foi feita por um mestre de obras como são as casas de favela. Então, parece que não é uma casa de favela. A gente vê pela qualidade de piso, pelos vãos de janela, pela pintura, pelos próprios móveis. Então, a gente percebe que tem um decorador. Esse é um conforto de classe média alta. Uma casa dessa no mercado hoje ela custaria na ordem de R$1 milhão”, afirmou o empresário Rubem Vasconcelos.
Mas as investigações conseguiram descobrir muito mais do que uma casa de luxo no meio da Rocinha. Os policiais conseguiram identificar como quantias milionárias chegam, são usadas e depois saem da favela com aparência legal. É a rota do dinheiro do tráfico da Rocinha que o Fantástico mostra nesta reportagem.
O relatório nas mãos do delegado é sobre a movimentação financeira da quadrilha de Nem. A polícia pediu e a Justiça autorizou a quebra do sigilo bancário de pessoas próximas ao traficante.
Um dos principais alvos foi o presidente da Associação de Moradores de Bairro Barcelos, que fica dentro da Rocinha: Vanderlan de Barros Oliveira, conhecido como Feijão. Os investigadores descobriram que ele movimentou no banco R$ 2 milhões em um ano: dinheiro da venda de drogas, que foi lavado em duas empresas: euma loja de gelo e um lava-jato.
“A movimentação financeira dessas empresas era totalmente incompatível com o que elas declaravam à Receita Federal”, disse o delegado Felipe Cury.
A reportagem mostra como grande parte do dinheiro do tráfico era gasto. E por quem.
No clipe mostrado em vídeo, ela é descrita como Xerifa, favorita, é a mulher de Nem da Rocinha. Danúbia de Souza Rangel teve a prisão decretada por tráfico de drogas. Está foragida. As imagens mostram jóias, luxo, exibição de riqueza. As gravações de ligações telefônicas feitas pela polícia com autorização da Justiça confirmam como Danúbia gastava o dinheiro do marido traficante. A compra de jóias, roupas e sapatos nas lojas chiques da cidade.
- Mãe, tu já tá aí no shopping?
- Tô no meio do caminho, por que?
- Quanto tu tiver lá na Bum Bum, pra tu me ligar pra falar o que tem de roupa de praia, de saidinha de praia, se tu passar na loja de óculos, tu me liga. Queria um óculos pra mim botar, pra botar amanhã.
- Tapar seu rosto.
- É pra disfarçar.
Depois, ela encomenda sandálias.
- E as duas são bem altas, né?
- Isso. Bem alta.
- Quanto que ela tá?
- Olha, uma é R$ 340 e outra é R$ 320.
- Ela é puxada praquela oncinha no marrom, né?
- Isso, isso mesmo.
Depois de construir e decorar a casa na favela, Danúbia se preocupou com o paisagismo. “Eu fiz o orçamento para todas as plantas, a terra, os quatro vasos. E com mão-de-obra com tudo fica em R$ 3.600.”
Com o esquema financeiro rastreado, na mansão que construiu, o traficante agora não pode mais aparecer. Segundo a polícia, Nem virou um prisioneiro dentro da própria favela.
Fantástico
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