terça-feira, 26 de abril de 2011

Improviso para salvar as vidas de crianças


Falta de leitos pediátricos de UTI no Rio obriga médicos a usarem gaze e esparadrapo para fixar equipamentos vitais. Até respirador retirado de ambulância é adaptado

POR PÂMELA OLIVEIRA

Rio - Em duas enfermarias comuns, sete crianças que precisam de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) lutam pela vida no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), no Fundão. Com os seis leitos de UTI pediátrica da unidade ocupados, e sem conseguir transferência para os pacientes excedentes, o instituto oficializou o improviso: gaze e esparadrapo substituem peças e até equipamentos emprestados são usados no tratamento dos pequenos.

“A gente está tirando leite de pedra. Mesmo com todos os leitos de UTI ocupados, decidimos acolher as crianças graves em vez de fecharmos as portas. A situação é dramática. Os profissionais estão sobrecarregados e acabam precisando decidir qual criança grave vai ter acesso à UTI. É um sofrimento para todo mundo”, admite o médico Edimilson Migowski, diretor do IPPMG há dois meses.

Lucas Alves da Silva, 2 meses, que nasceu com um problema no sistema nervoso central, ocupa um dos leitos da enfermaria improvisada. “Meu filho espera desde que nasceu por um leito de UTI. Ele está sendo bem atendido, mas não está onde precisa. Isso é muito difícil para uma mãe. É revoltante saber que o governo não toma uma providência”, desabafa Lucielen Alves da Silva, 23 anos.

CHORO DE MÃE
A jovem chorou ontem ao saber que outro bebê seria transferido para a UTI, e não o dela. “Meu filho é o mais grave. Está aqui esperando uma vaga há duas semanas”, lamentou. Em todo estado, outras 19 crianças estão em situação parecida: precisam de leito de UTI, mas não conseguem vaga. Já na Maternidade Leila Diniz, em Jacarepaguá, nove leitos de UTI pediátrica equipados nunca foram usados desde a inauguração, em 2008. “São aparelhos caros que já até saíram da garantia. Faltam pediatras intensivistas, pois os salários são baixos. Já levamos a situação ao Ministério Público para tentar resolver”, afirma Jorge Darze, presidente do Sindicato dos Médicos.

“Um pediatra intensivista recebe R$ 1,6 mil mensais, o mesmo que outros médicos, que lidam com pacientes menos graves”, diz.

A Secretaria Municipal de Saúde diz que a UTI da Leila Diniz foi construída “sem planejamento” e que o órgão priorizou a recuperação e ampliação do serviço que já era oferecido. Coordenador da Comissão de Fiscalização do Cremerj, Carlindo Machado e Silva Filho critica a falta de leitos. “A situação é alarmante: crianças ficam esperando enquanto há hospitais com UTIs desativadas por problema de recursos humanos”, reitera. “Quando precisam transferir uma criança, os médicos tratam com as condições que têm. Primeiro pela central estadual, e, depois, na base da amizade”.

Subsecretário de Atenção à Saúde do estado, Alfredo Scaff admite que o governo estadual tem déficit de 30 leitos de UTI pediátrica. “Estamos fazendo licitação para contratar leitos na rede privada. Estudamos fazê-lo emergencialmente. Mas essa responsabilidade não é somente do estado. Os municípios precisam atuar. E a rede federal poderia ampliar o número de leitos do IPPMG”.



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