domingo, 18 de setembro de 2011

Clínicas que internam viciados em crack à força aplicam tática do "convencimento"


Equipe que busca pacientes usa calmantes, se necessário

Uma arma improvisada com um pedaço de madeira foi a forma que Michel* encontrou para interromper o tratamento forçado para se desintoxicar do uso de crack e outras drogas. Mas “antes de fazer alguma besteira”, como ele mesmo descreve, resolveu conversar com um psicólogo. Largou a arma e resolveu ficar por mais um tempo.

Michel tem 22 anos e usa drogas desde os 11, quando experimentou maconha pela primeira vez. Na gíria do tráfico, ele fazia "cruzado", misturava o consumo de várias drogas, como crack, cocaína, ecstasy, cola de sapateiro, entre outras. Diz já ter usado "de tudo". Ele é paciente da clínica Maia Prime, onde faz tratamento compulsório. Atualmente, está em sua terceira tentativa para se livrar da dependência. Agora, ele está na clínica por que quer.

Essa é base do tratamento compulsório na iniciativa privada: convencer o paciente. A postura joga um pouco de luz na discussão no país sobre a internação obrigatória de dependentes de crack. O Rio de Janeiro já adota isso. Em São Paulo, o governo estuda uma medida semelhante.

Na iniciativa privada, as internações à força já acontecem. O coordenador de terapia da clínica, o psicólogo Luciano Oliveira, diz que, quando é necessário trazer um paciente compulsório, uma empresa terceirizada especializada nesse tipo de caso faz o trabalho.
Segundo Oliveira, a equipe é constituída de três seguranças - geralmente, ex-usuários de drogas - que tentam convencer o paciente. Eles vão acompanhados de um médico e um enfermeiro, que aplicam calmantes caso a resistência do paciente seja grande.

Na clínica, de acordo com Oliveira, o convencimento segue.

– Membros da nossa equipe descrevem situações muito familiares aos usuários de drogas. Eles acabam se convencendo de que devem ficar.

A clínica tem grades e portas com fechaduras, mas nada muito difícil de pular.

Chá de “játobom”

Depois do convencimento, há uma fase delicada, segundo descrição de Oliveira e dois pacientes compulsórios que conversaram com o R7: o chá de "játobom". É o momento em que o paciente acha que, como já passou algum tempo sem as drogas, está curado.

Para Amanda*, 36 anos, isso é uma parte da manipulação dos "adictos" - termo que os próprios dependentes parecem preferir usar. Um adicto, segundo ela, é capaz de contar qualquer mentira para consumir drogas. A enganação pode ser até para si.

– Logo você já acha que está pronto para sair, que pode se tratar lá fora indo ao narcóticos anônimos... mas é mentira. É pura manipulação.

Sandra também já tentou fugir, mas foi parada pelos seguranças de uma outra clínica onde se tratava. Uma das razões para fugir: a comida.

– Eles serviam um frango cru horroroso.

Agora, Sandra diz querer sair pela porta da frente, quando já tiver aprendido a lidar com seu vício.

Características

Especialistas dizem que cada corpo reage de uma forma diferente ao crack, porém algumas características comuns podem ser apontadas como indícios.

Como Amanda e Michel disseram, os usuários da droga costumam mentir muito. Fisicamente, os dedos das mãos têm marcas de queimaduras - provocadas pelo acender do cachimbo. Além disso, o usuário come e dorme pouco, o que provoca magreza e olheiras. O usuário começa a ter problemas de pele (como escamação).

Psicologicamente, Oliveira descreve o usuário de crack como uma pessoa com um "vazio emocional" e baixa autoestima.

* Nomes fictícios

R7

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