quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Cresce número de casos de mães que perderam a guarda dos filhos em São Paulo


SÃO PAULO - Levantamento da Secretaria Estadual de Saúde mostra que o número de mães que perdem a tutela dos filhos durante a gestação ou logo após o parto têm crescido anualmente na cidade de São Paulo. Na maior maternidade da Zona Leste da capital, região mais populosa da cidade, 99 mães perderam a tutela dos filhos desde 2007.

Naquele ano, houve um caso em que a Vara da Infância decidiu pela perda da tutela. Em 2008, foram 15 casos. Em 2009, 26 casos. No ano passado, 43 crianças foram tiradas das mães que não tinham condições de criá-las, devido à dependência química.

- Temos percebido que há uma tendência clara de aumento desses casos, de mães dependentes químicas que não têm como criar os filhos - diz Graziella Pacheco Velloni, diretora do serviço de Neonatalogia da Maternidade Leonor Mendes de Barros.

Graziella lembra que a perda da tutela é a medida mais extrema tomada pelo juiz. A medida vem após análise do relatório de uma equipe interdisciplinar formada por médicos, enfermeiros e assistentes sociais.

- Nesses casos, a Justiça considerou que a mãe não tinha como criar a criança e nenhum outro membro da família poderia ficar com a guarda - explica.

Em 2011, somente nos três primeiros meses do ano, foram registrados 14 casos de perda de tutela. A Secretaria não tem dados completos de toda a rede de Saúde, mas há uma indicação de que o fenômeno se repita nas demais regiões da cidade. Dados de outras tês maternidades indicam 50 casos do mesmo tipo no primeiro trimestre de 2011.

- Infelizmente são pacientes que se encontram em uma grave situação de vulnerabilidade social, com rompimento dos laços com familiares e a comunidade, e até estão em situação de moradia de rua - afirma o diretor da maternidade Leonor Mendes de Barros, Corintio Mariani Neto.

O estudo mostra o perfil das mães que acabam perdendo a guarda dos filhos. São jovens, com idade entre 15 e 25 anos, têm baixa escolaridade e sem profissão estabelecida. As drogas usadas são, principalmente, o crack e a cocaína. O estudo na maternidade mostra também que a dependência acaba atrapalhando o acompanhamento médico das gestantes. Quase metade delas não aderiram ao total de consultas de pré-natal oferecidas.

Além do problema com as mães, as próprias famílias não têm estrutura para criar os recém-nascidos.

- No geral, essas mulheres possuem companheiros que também são usuários de drogas. E elas acabaram perdendo a relação com tias, mães e a família no geral.

A perda da tutela é apenas um dos problemas que os recém-nascidos irão enfrentar. De acordo com Graziella, o uso das drogas durante a gestação pode provocar a ocorrência de deslocamento prematuro de placenta, parto prematuro, anomalias congênitas, retardo do crescimento, baixo peso do recém-nascido, morte neonatal, entre outros problemas

De acordo com a secretaria, existe a previsão de dobrar, até 2012, o número de leitos de internação para dependentes químicos (álcool e drogas) em todo o Estado, que passará de 400 para 800. O acompanhamento ambulatorial é feito nos Caps Ad (Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas) municipais.

O Globo

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