SÃO PAULO - Teve início na manhã desta segunda-feira o julgamento de três médicos acusados de retirar órgãos de pacientes ainda vivos, em Taubaté, a 134 quilômetros da capital paulista. A história chocou o Vale do Paraíba, interior de São Paulo, e todo o Brasil na década de 1980. Pedro Henrique Masjuan Torrecillas e Rui Noronha Sacramento são acusados de quatro homicídios dolosos contra os pacientes Miguel da Silva, Alex de Lima, Irani Gobbo e José Faria Carneiro, entre setembro e dezembro de 1986. O médico Mariano Fiore Júnior é acusado de ser partícipe dos crimes. Um quarto acusado, o neurologista Antônio Aurélio de Carvalho Monteiro, morreu em maio do ano passado. A previsão é que o julgamento só termine na noite desta terça-feira.
Primeiro, falarão sete testemunhas de acusação. E depois, as dez de defesa. Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, a primeira pessoa a dar seu depoimento será o médico que denunciou os acusados, Roosevelt de Sá Kalume, que na época era diretor do departamento de Medicina da Universidade de Taubaté (Unitau). Segundo ele, as cirurgias foram realizadas sem autorização, sempre durante a noite e pelos mesmos médicos.
Depois de Kalume, devem falar outras seis testemunhas de acusação, entre elas Ivã Gobbo, irmão de uma das vítimas, Irani Gobbo.
Os médicos faziam parte do corpo de profissionais da Universidade de Taubaté e realizaram os procedimentos no Hospital Santa Isabel, hoje Hospital Regional do Vale do Paraíba. As informações são do site VNews.
Segundo a acusação, os médicos se utilizaram de diagnósticos falsos de morte para extrair os rins dos pacientes para utilizá-los em uma rede de transplante de órgãos. Na época, os procedimentos foram presenciados por uma enfermeira, que foi testemunha no processo.
Tomando conhecimento do procedimento, o médico Roosevelt Kalume, na época diretor do departamento de Medicina da Universidade de Taubaté (Unitau), denunciou o caso. Segundo ele, as cirurgias foram realizadas sem autorização, sempre durante a noite e pelos mesmos médicos.
Ivan Gobbo viveu um drama familiar em 1986. O irmão dele, Irani Gobo, foi internado no antigo hospital Santa Isabel com um aneurisma. A família autorizou a doação dos rins assim que fosse constatada a morte cerebral. Mas Ivan diz que os médicos desligaram os aparelhos antes disso.
- Tem gente que não fica em coma dois, três, quatro anos e de repente se recupera? Por que não ele? Vamos dizer até que poderia ser um milagre, mas existia a possibilidade - diz.
Na época, outras três famílias contaram histórias parecidas. Então, em 1987, a polícia abriu um inquérito para investigar os atos de quatro médicos. Mais de duas décadas depois, ele quebrou o silêncio. E reafirmou: no momento da retirada dos órgãos, os pacientes estavam vivos:
- Pelos padrões científicos internacionais, você não pode ter um diagnóstico de morte cerebral num paciente que tem fluxo cerebral. E os doentes tinham fluxo cerebral. Tinham arteriografias perfeitas.
O inquérito policial durou dez anos. E o delegado Roberto Martins, que investigou o caso, concorda: houve precipitação na extração dos rins:
- Nós temos uma testemunha, uma enfermeira, que foi incisiva quando ela disse que um dos médicos deu um golpe, uma estocada com bisturi, no coração de uma das vítimas. E também um detalhe importante: morto não volta para a UTI. Era o caso que acontecia. Retirava os rins, diziam que estavam mortos, e voltavam pra UTI. Pra quê?
No tribunal do júri de Taubaté, serão contadas histórias com versões completamente diferentes: a promotoria diz ter provas de que os médicos cometeram, ao menos, quatro assassinatos. Mas a defesa vai tentar mostrar que as denúncias são absurdas e que não passam de mentiras.
Dois acusados, o neurologista Marione Fiore Junior e o urologista Rui Sacramento falaram à VNews. Eles alegaram que a equipe fez todos os procedimentos de forma correta. E disseram que Kalume retirou dos prontuários os laudos que comprovariam a morte dos pacientes.
- O doutor denunciante encaminhou para o conselho prontuários manipulados, manuseados, dos quais ele retirou documentos importantes - afirma o urologista Rui Sacramento.
Mas Mariano Fiore Jr., neurologista, afirma, "não havia sinais de fluxo cerebral compatível com vida nestes pacientes". O quarto médico, também urologista Pedro Henrique Torrecillas, não quis falar.
Ivan Gobo diz que espera por uma decisão da Justiça há 25 anos:
- Quanto tempo de espera e o negócio só vai enrolando, enrolando... É uma emoção muito grande saber que agora pode resolver esse problema desse processo.
- Eu acho que a Justiça tem que dar um basta nessa história. Foi um negócio assim, que me causa náusea até hoje. Me causa espanto - afirma Roosevelt Kalume.
- Eu sofrendo, a família sofrendo, um desespero dos amigos. Só não sei por que isso demorou tanto tempo. Nós estamos atrás dessa absolvição faz tempo - diz Mariano Fiore Jr.
Já o urologista Rui Sacramento se defende:
- Não me formei e não estudei 20 anos para prejudicar a vida dos outros. Pelo contrário: eu me formei pra salvar vidas e pra ajudar as pessoas a viver melhor.
Sobre a possível manipulação dos prontuários das vítimas, o médico denunciante, Roosevelt Kalume, nega as acusações dos réus.
A pena pode variar de seis a 20 anos de prisão.
O Globo
Primeiro, falarão sete testemunhas de acusação. E depois, as dez de defesa. Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, a primeira pessoa a dar seu depoimento será o médico que denunciou os acusados, Roosevelt de Sá Kalume, que na época era diretor do departamento de Medicina da Universidade de Taubaté (Unitau). Segundo ele, as cirurgias foram realizadas sem autorização, sempre durante a noite e pelos mesmos médicos.
Depois de Kalume, devem falar outras seis testemunhas de acusação, entre elas Ivã Gobbo, irmão de uma das vítimas, Irani Gobbo.
Os médicos faziam parte do corpo de profissionais da Universidade de Taubaté e realizaram os procedimentos no Hospital Santa Isabel, hoje Hospital Regional do Vale do Paraíba. As informações são do site VNews.
Segundo a acusação, os médicos se utilizaram de diagnósticos falsos de morte para extrair os rins dos pacientes para utilizá-los em uma rede de transplante de órgãos. Na época, os procedimentos foram presenciados por uma enfermeira, que foi testemunha no processo.
Tomando conhecimento do procedimento, o médico Roosevelt Kalume, na época diretor do departamento de Medicina da Universidade de Taubaté (Unitau), denunciou o caso. Segundo ele, as cirurgias foram realizadas sem autorização, sempre durante a noite e pelos mesmos médicos.
Ivan Gobbo viveu um drama familiar em 1986. O irmão dele, Irani Gobo, foi internado no antigo hospital Santa Isabel com um aneurisma. A família autorizou a doação dos rins assim que fosse constatada a morte cerebral. Mas Ivan diz que os médicos desligaram os aparelhos antes disso.
- Tem gente que não fica em coma dois, três, quatro anos e de repente se recupera? Por que não ele? Vamos dizer até que poderia ser um milagre, mas existia a possibilidade - diz.
Na época, outras três famílias contaram histórias parecidas. Então, em 1987, a polícia abriu um inquérito para investigar os atos de quatro médicos. Mais de duas décadas depois, ele quebrou o silêncio. E reafirmou: no momento da retirada dos órgãos, os pacientes estavam vivos:
- Pelos padrões científicos internacionais, você não pode ter um diagnóstico de morte cerebral num paciente que tem fluxo cerebral. E os doentes tinham fluxo cerebral. Tinham arteriografias perfeitas.
O inquérito policial durou dez anos. E o delegado Roberto Martins, que investigou o caso, concorda: houve precipitação na extração dos rins:
- Nós temos uma testemunha, uma enfermeira, que foi incisiva quando ela disse que um dos médicos deu um golpe, uma estocada com bisturi, no coração de uma das vítimas. E também um detalhe importante: morto não volta para a UTI. Era o caso que acontecia. Retirava os rins, diziam que estavam mortos, e voltavam pra UTI. Pra quê?
No tribunal do júri de Taubaté, serão contadas histórias com versões completamente diferentes: a promotoria diz ter provas de que os médicos cometeram, ao menos, quatro assassinatos. Mas a defesa vai tentar mostrar que as denúncias são absurdas e que não passam de mentiras.
Dois acusados, o neurologista Marione Fiore Junior e o urologista Rui Sacramento falaram à VNews. Eles alegaram que a equipe fez todos os procedimentos de forma correta. E disseram que Kalume retirou dos prontuários os laudos que comprovariam a morte dos pacientes.
- O doutor denunciante encaminhou para o conselho prontuários manipulados, manuseados, dos quais ele retirou documentos importantes - afirma o urologista Rui Sacramento.
Mas Mariano Fiore Jr., neurologista, afirma, "não havia sinais de fluxo cerebral compatível com vida nestes pacientes". O quarto médico, também urologista Pedro Henrique Torrecillas, não quis falar.
Ivan Gobo diz que espera por uma decisão da Justiça há 25 anos:
- Quanto tempo de espera e o negócio só vai enrolando, enrolando... É uma emoção muito grande saber que agora pode resolver esse problema desse processo.
- Eu acho que a Justiça tem que dar um basta nessa história. Foi um negócio assim, que me causa náusea até hoje. Me causa espanto - afirma Roosevelt Kalume.
- Eu sofrendo, a família sofrendo, um desespero dos amigos. Só não sei por que isso demorou tanto tempo. Nós estamos atrás dessa absolvição faz tempo - diz Mariano Fiore Jr.
Já o urologista Rui Sacramento se defende:
- Não me formei e não estudei 20 anos para prejudicar a vida dos outros. Pelo contrário: eu me formei pra salvar vidas e pra ajudar as pessoas a viver melhor.
Sobre a possível manipulação dos prontuários das vítimas, o médico denunciante, Roosevelt Kalume, nega as acusações dos réus.
A pena pode variar de seis a 20 anos de prisão.
O Globo
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