domingo, 14 de agosto de 2011

Governador afirma ao Correio que lançará ofensiva para combater o crack


Shenzhen (China) – O governador Agnelo Queiroz (PT) encerra hoje sua missão no Oriente otimista com as chances de trazer os jogos universitários de 2017 para Brasília. Desde a quinta-feira ele está na China em campanha pela indicação da capital federal para sediar a Universíade de Verão, campeonato que reúne atletas de ponta de todo o mundo.

Agnelo e sua comitiva foram ao continente asiático com o propósito de amarrar compromissos para o futuro, que podem gerar desenvolvimento a médio e longo prazos. O governador do DF volta para casa, no entanto, consciente de que o aguardam desafios imediatos e demandas urgentes.

O enfrentamento do crack é uma dessas emergências. O consumo da droga arrasta pessoas para o crime e enche a cidade de insegurança. Em entrevista exclusiva ao Correio, concedida no caminho entre o hotel em que se hospedou na China e as instalações dos jogos universitários de Shenzhen, o governador do DF anunciou uma operação a partir da semana que vem para “varrer o crack” das ruas de Brasília. “Tolerância zero”, avisou. Agnelo disse que os focos da ação serão no Plano Piloto, em Ceilândia e em Taguatinga.

Em visita à cidade chinesa de Shenzhen, anfitriã de um evento que demandou pesados investimentos em equipamentos públicos, como a construção de uma vila olímpica, estádios e a expansão do metrô, Agnelo disse que Brasília não passará vexame na organização dos campeonatos mundiais que pretende sediar. “Até 2014, a realidade será outra”, prometeu.

Confira os principais trechos da entrevista.

O senhor parte da China confiante de que Brasília sediará a Universíade de 2017?
Saio otimista. Sei que eventos dessa dimensão são muito disputados. Esse é um deles. Pelas conversas que tivemos, vimos que os candidatos estão bem preparados, investindo muito. É a mesma dimensão que estamos dando. Para nós, trata-se de um marco referencial para o desenvolvimento do esporte universitário no Brasil, não só em Brasília. Nos tornaremos a primeira unidade da Federação a desenvolver uma política forte para esporte universitário.

A abertura da Universíade foi cheia de recursos tecnológicos e performances espetaculares. O senhor vai conseguir repetir esse padrão em Brasília?
Acho que sim. Até lá, teremos todas as condições de planejar e fazer um evento de grande magnitude. Estamos aqui para mostrar a grandeza desse campeonato, que atrai até o presidente da China. Isso refletiu a grandeza da abertura que eles fizeram. Vamos ter tempo para organizar e programar a Universíade, talvez com características diferentes que envolvam traços da nossa cultura e criatividade. Se formos escolhidos, estaremos investindo na parte mais importante do desenvolvimento humano e do conhecimento, o esporte e a universidade. Não está em jogo apenas um evento, mas a aposta em uma faixa da sociedade que é fundamental para o futuro de qualquer economia.

Em 1963, foi a última vez que os jogos universitários foram realizados na América Latina, em Porto Alegre. Em 1989, o Brasil passou um constrangimento grande porque se comprometeu a realizar o evento, mas não cumpriu. A gente corre o risco de passar por um vexame desses?
Em absoluto. O Brasil de hoje é completamente diferente. É um país que tem o respeito do mundo inteiro, ninguém duvida da nossa capacidade. Nos últimos oito anos, o presidente Lula deu uma projeção muito grande para os esportes e, por isso, o Brasil conquistou a possibilidade de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Quais obras o GDF terá de fazer?
O investimento na cidade já vai estar pronto em função da Copa do Mundo, ou seja, aeroportos, hotéis, mobilidade urbana. Tudo estará feito até 2014. Hoje, 82% da parte esportiva para realizar esses jogos estão prontos ou em andamento. O restante, vamos construir ou fazer instalações temporárias para algumas modalidades.

O DF oferece transporte precário, que não atende à necessidade sequer de quem precisa ir para o trabalho. Dá para garantir que até 2017 essa realidade será diferente?

Dá para garantir que até 2014 ficarão prontas as intervenções nas principais artérias da cidade, com vias exclusivas para ônibus, veículos leves sobre pneus, sobre trilhos, ampliação do metrô e uma mudança radical da política de gestão tarifária do transporte público, de tal maneira que até 2014 a realidade será outra e até 2017 seguramente estará aperfeiçoada, mostrando que a capital do país é símbolo de civilidade, onde as pessoas podem se deslocar com conforto em horários marcados e com absoluta segurança. Essa é uma política que vai acontecer, independentemente de evento esportivo, mas que será aproveitada agora na Copa do Mundo e posteriormente na Universíade.

Por que o governo não consegue resolver a questão do crack em Brasília?
Não se trata de um problema só de Brasília, é uma questão mundial, que carece de uma política integrada de enfrentamento. No dia 22, faremos o lançamento de uma política de combate ao uso de drogas, especialmente o crack. Haverá uma ação articulada com o Ministério da Saúde para oferecer tratamento aos dependentes, que serão abordados nas ruas por ambulatórios móveis. Vamos encaminhar essas pessoas para as unidades de tratamento e remunerar melhor esses centros. Contaremos com o apoio do Ministério da Saúde e da Justiça.

E o tráfico?
Haverá um combate implacável em três regiões do DF onde a presença da droga é mais agressiva: Plano Piloto, Ceilândia e Taguatinga. Agiremos com tolerância zero. Vamos instalar no centro da cidade nossa área de segurança com policiamento permanente e varrer o tráfico das ruas, além de intensificar as ações nas portas das escolas. Brasília vai ser um exemplo para o Brasil no enfrentamento do crack.

Um dos trunfos da eleição do senhor foram as promessas para melhorar a Saúde, uma delas de que em seis meses ocorreria uma revolução no setor. Essa revolução ainda não ocorreu?
O que fizemos na Saúde nesses últimos seis meses foi mais do que o feito nos últimos 10 anos.

Por que a população ainda não sente essa melhoria?
Porque a situação era tão dramática a ponto de eu ter de decretar estado de emergência quando assumi o governo. Hoje, já abastecemos a rede, que estava totalmente esvaziada, e aumentamos muito o número de leitos de UTI, que tinha uma carência brutal. Mas mesmo esse aumento não foi o suficiente. Conseguimos reduzir em 60% o número de ações judiciais. Significa que a população já está tendo os serviços da rede pública de Saúde sem precisar provocar a Justiça. Ainda falta, no entanto, percorrer esses últimos 40%. Estamos reformando a rede com investimento em todos os hospitais públicos, entregando pronto-socorro do hospital de Taguatinga, do de Planaltina, vamos inaugurar centros de saúde, unidades básicas que estão ficando prontas agora. Ainda vamos construir muito mais, porque a parte física ficou sem ter investimento muitos anos e, quando não há esse investimento, as instalações vão se deteriorando com a utilização. Também contratamos um pouco mais de 3 mil funcionários em seis meses e, mesmo assim, não é suficiente. Mas as mudanças estruturais que estamos fazendo só serão sentidas daqui a um ano ou um ano e meio, quando colocarmos para funcionar todas as 14 UPAs e implantarmos o programa de saúde da família com cobertura de pelo menos 60% do DF. São essas áreas que vão diminuir a procura pelo pronto-socorro. Colocar ordem na Saúde é um compromisso, o primeiro deles, do qual jamais abrirei mão. Preciso de tempo para entregar uma saúde pública de qualidade.

O senhor substituiu recentemente o secretário dessa pasta. Era uma área problemática?
Tivemos problemas políticos, mas a gestão estava indo bem.

Que tipo de problema?
Um problema mais de...

Insubordinação?
Não considero que tenha sido voluntária, nem maldosa. Acho que foi vontade de acertar, ou insegurança, ou preocupação. Isso fez com que o (ex-)secretário (Luiz Pitiman) se mobilizasse contra uma proposta do governo que estava na Câmara. E essa é uma questão de princípio. O governo tem um comando único e, no dia em que deixar de ter, pode saber que eu entrego o cargo, porque essa é uma responsabilidade que a população me deu e que é indelegável. Jamais vou transigir com isso.

O senhor tem um estilo ameno de lidar com as pessoas e com as crises. Acha que esse jeito é confundido com falta de autoridade?
O meu jeito pode confundir no início, porque estávamos acostumados com autoritarismo, prepotência, arrogância, factoides, com pessoas que podem tudo. Não é assim que administro. Temos um governo com objetivo, que sabe aonde quer chegar, tem comando. Agora, é um governo democrático, que escuta, que não tem arrogância, nem precisa humilhar ninguém para atingir suas metas.

Muito se falou que a troca do secretário de Obras criaria um problema diplomático entre o senhor e o vice-governador Tadeu Filippelli. Ficou algum mal-estar?
Em absoluto. Esse foi um erro de leitura que fizeram. Todo esse processo foi discutido com o vice-governador, que é um grande aliado. Ele que me ajudou em toda essa difícil transição. Toda essa história só fortaleceu nossos vínculos. A crise foi tratada com maturidade. A relação entre o PT e o PMDB não ficou minimamente abalada.

Está prevista mais alguma mudança para acomodar algum partido na base ou reforçar algum apoio já existente?
Houve a entrada do Ricardo Quirino (deputado federal) na Secretaria Especial para o Idoso. Outras mudanças podem vir, de acordo com as necessidades. Mas não há alguma grande reforma em curso. É evidente que, se alguma área não estiver tão boa, podemos mexer, sim, em nome da sustentabilidade. Nenhum governo se mantém sem ter estabilidade e sustentação. E nós estamos construindo uma base de apoio republicana, que é muito mais difícil.

Existe uma expectativa de que Cristiano Araújo (PTB) vá para o governo. O senhor tratou desse assunto com ele durante a viagem?
Na verdade, discutimos a possibilidade de o PTB, que é um partido da base do governo, poder ter uma participação maior, e estamos vendo a melhor possibilidade de isso acontecer. Mas isso não será artificial, tem que ser tratado com naturalidade. Não precisa ser o próprio parlamentar a ingressar no governo. Pode até vir a ser, mas não precisa. É uma negociação que ainda não foi concluída e que vai depender muito das necessidades do próprio governo.

Como o senhor avalia a oposição a seu governo?
Tem uma oposição na Câmara que é correta, justa, legítima. Posso discordar no mérito ou forma de fazer, mas isso é legítimo, faz parte da vida pública. Mas uma oposição é subterrânea, são as viúvas do crime que ainda não se acostumaram com uma nova forma de governar e continuam usando o mesmo método que adotavam quando estavam no governo, a difusão da mentira, de pagar um bocado de mercenários que usam suas penas para me atacar em blogs todos os dias. É o mesmo jogo que faziam antes. Ainda não entenderam que o DF vive um novo ambiente. Chamo essa oposição subterrânea para subir à superfície, debater, mostrar a cara, suas discordâncias, sair da lama.

O senhor tem algum fantasma do passado que pode aparecer em vídeo no futuro?
Não tem nada. Todo dia tem notinhas, tentativas de ameaça. Tenho história de vida limpa e a minha contribuição para a cidade vai ser justamente limpar essa sujeirada. Tudo o que tiver que vir à tona virá. Para isso estamos investindo tanto na Secretaria de Transparência.

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