Veja o que será aplicado nas aulas, os problemas e as soluções que o Brasil terá pela frente
No dia 18 de agosto de 2008 foi aprovada a lei federal nº 11.769,do MEC (Ministério da Educação), que tornou o ensino de música obrigatório em escolas públicas e particulares de ensino médio e fundamental do país. Na época foram dados três anos de prazo para as instituições se adaptarem e incluirem a disciplina na grade. No entanto, o cenário atual das instituições de ensino mostra que não houve muito avanço e boa parte nem sabe quando e como vai começar a ministrar as aulas.
É importante ressaltar que a música antes era considerada conteúdo optativo na rede pública e particular de ensino, ficando a cargo do planejamento pedagógico das escolas. Agora as secretarias estaduais e municipais de ensino terão que organizar a matéria na grade curricular já a partir do próximo dia 18.
Aulas
A secretária de educação de São Bernardo do Campo, Cleuza Repulho, explica que nas aulas serão desenvolvidos temas como história da música, conhecimentos de instrumentos, música brasileira e prática de instrumentos básicos (violão e flauta, por exemplo). Já quem quiser um instrumento mais específico, como violino e bateria, terá que pedir um acompanhamento pela própria escola e praticar em aulas extracurriculares, ou seja, fora da grade tradicional.
Ainda segundo Repulho, não existe nenhum critério para notas durante a aplicação do conhecimento de música. “Ainda não está claro como será a avaliação para os alunos”, diz a secretária, que também fala da importância da aula em relação aos jovens. “Nesta proposta a ideia é estimular as crianças a terem um contato com diversas artes desde cedo e aumentar a sua visão cultural.”
Sem nenhuma definição de como avaliar, Susana Kruger, diretora educacional do Projeto Guri, associação que incentiva a música através de cursos gratuitos, indica que o melhor modo seria por fatores como envolvimento, comprometimento e respeito.
A especialista também comenta que é possível avaliar o desenvolvimento musical de cada aluno. “O professor pode prover meios e usar diferentes ferramentas para estimular o aluno a alcançar o patamar seguinte, motivá-lo a estudar e a melhorar”, diz Kruger, que ainda fala de como os educadores devem incentivar os alunos. “Para todos estes aspectos (musicais e extra-musicais) não é aconselhável dar nota, mas sim emitir um parecer qualitativo, que incentive o aluno a desenvolver os pontos que precisam ser melhorados."
Seguindo esta ideia de avaliação, a diretora do Projeto Guri analisa qual seria o ideal para aplicação das aulas. “Qualquer conteúdo musical deve ser trabalhado nas perspectivas de atividades (execução, composição e apreciação) e de dimensões de conhecimento musical (materiais, expressão e forma). Somente desta maneira os alunos terão um contato autêntico e significativo com a música, se desenvolverão neste discurso e nos aspectos sociais e humanos envolvidos.”
Problemas e soluções
Apesar de a proposta ser vista como bons olhos existem alguns problemas na sua aplicação, como falta de professores e fiscalização das próprias aulas. “Nesse processo a principal dificuldade é que não existe gente formada o suficiente para acompanhar o grande número de alunos existente. Apesar de ser uma proposta bacana tem que ter logística, não basta a pessoa saber música, ela também tem que saber ensinar. Fora que ainda não se sabe como o ensino será fiscalizado”, comenta Cleuza Repulho.
A secretária acredita que outro empecilho será a grade escolar. “Cada vez que se cria uma disciplina o tempo de aula que é finito, fica menor. Se já temos dificuldades de dar as aulas básicas (português e matemática), como poderemos dar aulas de música com qualidade? É só mais uma dificuldade para o sistema educacional”, declara Repulho que sugere outra aplicação de ensino. “É óbvio que a iniciação de música é importante, no entanto o ideal seria uma aula de cultura, que envolvesse temas como cinema, artes, teatro e claro a música”.
Susana Kruger também afirma que faltam profissionais, mas que professores de artes poderão fazer um bom trabalho enquanto não se formam especialistas para o assunto. “Já é consenso na área da educação de que não existem profissionais específicos de música que possam assumir todas as aulas nas escolas de todo o território brasileiro. Seria necessário um investimento maciço na formação inicial e continuada dos profissionais, com criação de mais faculdades e cursos. Enquanto isso não acontece, muitas escolas têm investido na formação dos profissionais de artes ou outras disciplinas em cursos de extensão, para que estes possam dar conta da demanda da legislação. Muitos destes farão um ótimo trabalho", ressalta.
Com este problema, a especialista sugere a parceria com instituições de música como uma boa saída. “Poderia ser feita a efetivação de parcerias com instituições socioculturais que já trabalham com ensino musical, a exemplo do que acontece em países como a Inglaterra, além de incluir a música no currículo escolar, fomenta este tipo de parceria para a realização de atividades musicais complementares”, completa Susana.
Secretarias de ensino
Com problemas tanto na mão de obra como na fiscalização, as instituições municipais e estaduais farão algumas adaptações para atender a legislação. As aulas no ensino de artes (duas aulas semanais) também terão aplicações musicais, como estudos, produções e manifestações culturais. O processo já acontece com temas como teatro, dança e artes visuais. No entanto, ainda não existe previsão para a mudança.
A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo informou que, para aprimorar a qualidade de ensino, serão viabilizadas ações como parcerias com instituições culturais, projetos e cursos descentralizados.
Sobre qual será a participação do MEC no processo, a instituição esclareceu que não será responsável por fiscalizar as escolas e que o funcionamento será de responsabilidade das próprias secretarias de educação de cada Estado. Quanto as escolas particulares, não há definição.
eBand
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