sábado, 4 de agosto de 2012

Caseiro acusado de matar idosa já estava com prisão decretada por outro homicídio

Juiz expediu mandado antes do assassinato de idosa, mas Polícia Civil não conseguiu achar o acusado

RIO - “A prisão do acusado apresenta-se necessária para a garantia da ordem pública, a fim de evitar que em liberdade volte a praticar crimes, já que demonstra possuir intensa periculosidade”. A sentença do juiz Murilo Kieling, do III Tribunal do Júri, de 4 de julho, previa o risco que representava deixar solto Ênio Tomaz da Rocha, então acusado de ter matado, em maio, uma mulher em Botafogo. Como o mandado de prisão preventiva contra o suspeito não foi cumprido, semanas depois ele assassinou a viúva Alpha Dias Kieling, de 77 anos, cujo corpo foi encontrado enterrado, em 29 de julho, nos fundos da casa dela, em São Conrado.

Ênio foi denunciado pelo estupro e pela morte de Cleiane Oliveira Costa, de 30 anos, assassinada em 24 de maio passado dentro de uma clínica na Rua Elvira Machado, em Botafogo, onde ela trabalhava como recepcionista. O criminoso, que era vigilante na rua, foi flagrado por uma câmera de segurança entrando na clínica às 20h49m e saindo às 21h33min, carregando uma bolsa feminina.

Corpo foi encontrado às margens da Baía

Segundo investigações da Divisão de Homicídios (DH), Cleiane tinha começado a trabalhar três dias antes do crime na clínica, onde seu irmão Gustavo Oliveira era auxiliar administrativo. Na manhã do dia 25, ao chegar ao trabalho, Gustavo estranhou que Cleiane tivesse deixado o computador ligado, abandonado objetos pessoais e levado o dinheiro da clínica. Naquele mesmo dia, o corpo dela foi encontrado seminu, dentro de um saco plástico nas pedras da Praia do Flamengo. Gustavo foi avisado por um policial da 10ª DP (Botafogo). Ênio teria jogado a vítima na Baía de Guanabara. Cleiane deixou três filhos, de 14, 7 e 6 anos.

Ao receber a denúncia, feita pelo Ministério Público, o juiz ressaltou na sentença a periculosidade demonstrada nas provas citadas no inquérito, ressaltando o fato de haver sete anotações penais contra o vigilante. “A liberdade do acusado pode ser capaz de gerar tamanha intranquilidade às testemunhas o que impedirá, por óbvio, o alcance da verdade processual. Com efeito, o crime foi praticado com extrema brutalidade conforme narrado”, escreveu o juiz.

A Divisão de Homicídios (DH) explicou que esteve na Rocinha para cumprir o mandado de prisão expedido pela Justiça no início do mês passado, mas Ênio havia se mudado para outro endereço na mesma favela. Com a morte de Alpha, para quem Ênio trabalhava como caseiro, a polícia obteve novo mandado de prisão. Desta vez, a DH obteve o endereço correto, mas o acusado também não foi encontrado em casa. Ele acabou preso anteontem por policiais militares na Lagoa, após uma denúncia anônima. Num vídeo feito pela polícia, ele chorou, pediu desculpas e confessou ter matado sua patroa por estrangulamento. Ênio contou que atacou a idosa porque ela havia desconfiado de que ele furtara algo de sua casa.

Mãe de vítima esteve na DH para bater nele

Amargurada pela perda da filha Cleiane, Rosany de Oliveira Costa Silva deu um pulo do sofá ao receber a notícia de que o caseiro Ênio Tomaz da Rocha, acusado do crime, havia sido preso na manhã de quinta-feira.

— Fiz questão de ir até a delegacia (Divisão de Homicídios) na mesma hora. Queria das uns sopapos na cara daquele monstro, aquele diabo em forma de gente. Mas não me deixaram entrar. Agora ele vai para a cadeia comer por conta do povo. Estou com sentimentos de raiva, de ódio. Não sei como uma pessoa pode ter o sangue tão frio para fazer tanta maldade na face da terra. Quantas vidas esse homem vem tirando? E precisou tirar mais uma vida para poder ser descoberto — desabafou a mãe da vítima em sua primeira entrevista desde o crime. Ela esteve na DH acompanhada do marido e de dois filhos.

Cleiane pertencia a uma família grande. Tinha seis irmãos. Os três filhos, hoje, moram com os avós paternos e vivem perguntando pela mãe. Tia da vítima, Rosângela dos Santos Oliveira Costa conta que Cleiane morava com ela desde os 14 anos. As duas se amavam, e como Rosângela não teve filhos pediu à irmã para cuidar de Cleiane. Nesta sexta-feira, Rosângela revelou ao GLOBO que Ênio Tomaz da Rocha infernizou sua vida até mesmo depois da morte da sobrinha.

— Tenho certeza que era ele. Ligava o tempo todo. De dia, de noite e até de madrugada. Tinha música no fundo e muita gente falando. Era ele na Rocinha. Ele levou o celular da Cleiane que tinha o meu nome na agenda. Eu era identificada como mãe. Ele quis me ameaçar psicologicamente. Durou uma semana. Até que não suportei mais e troquei no número de minha linha telefônica — contou Rosângela. — Quero que ele pague por tudo aquilo que fez. E não deve ter sido somente os dois crimes, não. Tem muito mais.

Gustavo Oliveira da Silva, irmão de Cleiane, ainda sente um pouco de culpa pela morte da irmã. Ele trabalhava na clínica de psicanálise onde a irmã foi estuprada e assassinada. Foi ele quem ofereceu a ela a oportunidade de cobrir as férias de uma colega de trabalho. Cleiane havia começado a trabalhar no dia 21 de maio e foi morta três dias depois, no dia 24. Ele contou que o laudo da perícia técnica indica que houve luta corporal porque foi encontrado tecido humano sob as unhas dela.

— Fui embora da clínica depois do crime. Não suportaria estar lá todos os dias no lugar onde fizeram aquela maldade com minha irmã. Quis ajudar, mas acabei levando-a para a morte. É assim que me sinto — lamenta Gustavo.

O Globo

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