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terça-feira, 20 de novembro de 2012
Detento afirma que Bola disse ter jogado 'as cinzas de Eliza às águas'
Testemunha Jaílson de Oliveira foi ouvido pela acusação nesta terça (20).
Ele disse que foi ameaçado por policial e que corre risco de vida na cadeia.
O detento Jaílson Alves de Oliveira, arrolado pela acusação como testemunha, disse ao júri nesta terça-feira (20), segundo dia de julgamento do caso Eliza Samúdio, que ouviu "várias vezes" Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, dizer que jogou "as cinzas de Eliza às águas". Ele disse ainda que, ao perguntar o que Bola faria se o corpo da vítima fosse encontrado, o réu respondeu: "Só se os peixes falarem".
Em depoimento prestado à polícia, lido na íntegra durante a sessão, Oliveira diz ter ouvido a confissão de Bola sobre o crime. A testemunha disse que tempo depois foi ameaçada por um policial para retirar seu depoimento. "Sei de toda sua família", teria sido a ameaça. O detento afirmou à juíza que está preso na Penitenciária Nelson Hungria, recolhido na enfermaria por medida de segurança. "Disseram que sou cagueta. Corro risco de vida."
Bruno e os demais réus enfrentam júri popular por cárcere privado e morte da ex-amante do jogador, Eliza Samudio, em crime ocorrido em 2010. O júri é presidido pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues e a previsão é que o julgamento dure pelo menos duas semanas.
Jaílson Alves de Oliveira disse que ouviu Bola contar que não jogou a mão de Eliza para os cachorros e que não fez nada na casa dele, e sim, em um terreno. Ele afirmou ainda que Bruno teria armado um plano caso fosse condenado, dizendo que estava doente para ser resgatado a caminho do presídio.
A testemunha também afirmou que Cleiton Gonçalves não era motorista de Bruno, embora dirigisse veículos do goleiro. De acordo com a testemunha, Gonçalvesvendia drogas para Macarrão, apontado como chefe do tráfico em Ribeirão das Neves. "Eu já conhecia o Macarrão, o Cleiton e a mãe do Cleiton."
Risos no júri
Por duas vezes, Jaílson Alves de Oliveira arrancou risos do plenário. Primeiro, questionado pelo novo advogado de Bruno de por que era representado por um ex-defensor do goleiro, respondeu: "Eu sou cliente dele. Você não defende o seu?". Depois, ao explicar o apelido de Miyagi. "É por causa daquele lutador de caratê", disse à magistrada.
'Amarrada e chutada'
A primeira testemunha a ser ouvida pelo júri popular em Contagem foi João Batista, citado no depoimento de Cleiton Gonçalves, ex-motorista de Bruno. Batista disse que Gonçalves estava "com as mãos livres, sem algemas, bem à vontade" quando prestou depoimento para a polícia e que, perguntado se estava bêbado ou lúcido, respondeu "lúcido". Ele disse ainda que o ex-motorista do jogador não aparentava nenhum temor.
Na segunda-feira, Cleiton Gonçalves disse que prestou depoimento à polícia sob pressão. Em sua fala, o ex-motorista afirmou ter ouvido o primo de Bruno, Sérgio Rosa Sales, dizer que Eliza "já era". Ele ficou retido desde ontem para uma possível acareação com Batista, mas a juíza julgou o encontro desnecessário e dispensou as duas testemunhas.
Depois disso, a delegada Ana Maria Santos prestou esclarecimentos e deu detalhes sobre o depoimento dado à polícia por Jorge Luiz Rosa, primo do goleiro Bruno Fernandes, em 2010. Segundo ela, Rosa disse que Eliza Samudio foi amarrada e chutada antes de ser morta.
"Deu uma gravata e durante o tempo em que era apertada, apertada, ela foi perdendo fôlego, foi virando os olhos, a língua dela foi indo para fora, saiu espuma da boca dela e ela caiu ao chão e depois de poucos movimentos, ficou lá, morta", disse a delegada, referindo-se ao depoimento do primo de Bruno.
Rosa, que era adolescente à época dos fatos, disse à polícia que o homem que matou Eliza tinha o apelido de Neném, também conhecido como Bola, que era grisalho e apresentava um problema no dente. Ele disse ainda que Eliza dormiu trancada em um quarto quando estava sob cárcere privado no Rio de Janeiro e que o filho da ex-amante de Bruno foi mantido com a ex-namorada do goleiro, Fernanda Gomes de Castro, também ré no processo.
Questionada pelo promotor Henry Castro, a delegada afirmou que o depoimento do primo do goleiro dado à polícia transmitiu confiança. "Sem dúvida nenhuma, pela riqueza de detalhes, pelo modo como ele fez aquela narrativa". Atualmente, Jorge Luiz Rosa está inserido no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, de acordo com o Ministério Público
Ex-mulher de Bruno deixa júri
O goleiro Bruno Fernandes de Souza pediu a destituição de seus advogados Rui Pimenta e Francisco Simim durante o segundo dia de julgamento. Logo ao início da sessão, o jogador afirmou que não se sentia seguro para continuar com Rui Pimenta e pediu tempo para achar outro advogado. A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, no entanto, lembrou que ele ainda possuía outro defensor, Francisco Simim.
Depois de alguns minutos, o goleiro pediu a palavra novamente e disse à juíza que estava destituindo também Simim, que representa a sua ex-mulher, Dayanne Rodrigues, ré na ação. A magistrada entendeu que o goleiro pretendia adiar seu julgamento e negou a solicitação, mas Bruno negou esse objetivo e alegou que não queria prejudicar a defesa de Dayanne.
O promotor do caso pediu para que Dayanne, que responde à ação em liberdade, tivesse mais tempo para ser defendida por outro advogado. Bruno, réu preso, tem preferência de julgamento. A juíza seguiu este entendimento e determinou que Dayanne seja julgada em outra data, possivelmente junto com Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que conseguiu o desmembramento do júri.
Rui Pimenta, destituído da defesa por Bruno, disse que foi "pego de surpresa" com a decisão do cliente. "O Bruno agradeceu o trabalho feito, mas disse que queria mudar de estratégia", explicou o advogado, que diz torcer para que ele seja absolvido. "Faço votos que isso [a destituição] seja bom para ele".
Novo defensor
Após pedir para que Rui Pimenta fosse afastado do caso, o goleiro Bruno apresentou Tiago Lenoir como novo advogado de sua equipe de defesa, que será conduzida por Francisco Simim. Lenoir, que é advogado da Federação Mineira de Futebol, disse que vai seguir o trabalho realizado até agora. "A gente está preparado para fazer uma boa defesa para ele".
O advogado disse conhecer o processo e afirmou que estava "prevendo" sua nomeação. "Eu trabalho com ele [Simim] já há bastante tempo", ressaltou. "Minha entrada no caso não é inovação na defesa, estou apenas reforçando".
Aposta de cerveja
Perfil no Twitter com o nome de Tiago Lenoir (@_tiagolenoir) postou na segunda-feira (19) uma série de comentários sobre o julgamento do caso Eliza Samudio. Em um dos posts, o dono do perfil aposta uma caixa de cerveja que o atleta será condenado a mais de 38 anos de prisão: "...mas na pratica a defesa vai continuar falando asneiras e o Bruno será condenado a mais de 38 anos. Aposto uma cx de cerveja".
O perfil também tem comentário de que Bruno e Macarrão deveriam confessar que mataram Eliza. "O Bruno e Macarrão deveriam confessar o crime de homicídio e negar a ocultação de cadáver e sequestro. Dai pega 6 anos e volta a jogar bola". O G1 acessou o perfil de Tiago Lenoir por volta das 14h50 desta terça. Depois disso, muitos dos posts mais recentes foram apagados, incluindo o que apostava a caixa de cerveja. O advogado não foi localizado para comentar o caso.
Procurado pelo G1, Francisco Simim, que representa Bruno, comentou as declarações do perfil de Lenoir no Twitter. "Ontem [segunda], ele disse isso, mas hoje ele está no processo. Todo mundo tem suas opiniões. Ontem ele tinha essa opinião, hoje ele está na nossa equipe".
Multa para advogados de Bola
A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues determinou multa de R$ 18.660 – 30 salários mínimos – para cada um dos três advogados do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, por abandonarem o júri na segunda-feira (19), primeiro dia de julgamento. Segundo a magistrada, a atitude de Ércio Quaresma, Zanone de Oliveira Júnior e Fernando Magalhães foi "injustificada", sem "razão juridicamente relevante". Eles têm prazo de 20 dias para pagarem juntos R$ 55.980.
"Esse tipo de conduta causa grande prejuízo ao estado e à sociedade que implica em gasto de dinheiro público", afirmou Marixa, durante o julgamento, ressaltando que o fato será comunicado à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que deve avaliar a conduta dos defensores.
Os advogados deixaram o júri após discordarem do limite de 20 minutos estipulado pela juíza para cada defesa apresentar seus argumentos preliminares. "A defesa não vai continuar nos trabalhos, nós não vamos nos subjugar à aberração jurídica de impor limites onde não há", disse Quaresma.
Com a decisão dos advogados, a juíza declarou o ex-policial Bola indefeso. Ele não aceitou ser representado por defensor público e, com isso, terá dez dias para nomear um novo advogado. A manobra foi festejada pela defesa, que deixou o Fórum feliz com o desmembramento.
Ameaça à testemunha
O promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos de Castro disse, na manhã desta terça-feira, que o detento Jaílson Oliveira teria falado a funcionários do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que foi ameaçado por Bruno às vésperas do júri popular. Oliveira, que é testemunha por parte da acusação, teria dito que o goleiro comentou que ele estava "falando demais" e que "peixe morre pela boca".
Oliveira denunciou, em 2011, um esquema que teria sido montado por Bruno e pelo réu Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, para matar a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, que preside o júri. Rui Pimenta, que pela manhã ainda defendia Bruno, negou a ameaça. "O promotor está querendo usar tudo o que é possível, mas ele já perdeu o caso", afirmou.
Segundo o promotor, Oliveira ouviu dentro da penitenciária Bola dizer que matou Eliza e que o corpo dela só seria encontrado se "peixe falasse". O detento chegou a pedir à Justiça proteção no traslado da Penitenciária Nelson Hungria, onde está preso com Bruno e com Luiz Henrique Romão, o Macarrão, até o Fórum de Contagem.
G1
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